Os milhões da FIFA

Em 111 anos de existência, a organização liderada por Sepp Blatter passou de organismo quase marginal a colosso financeiro.

Foto
Suspeitas de corrupção fustigam a FIFA

Em 1904, a FIFA não era a organização mais poderosa do futebol mundial. O conjunto das federações do Reino Unido (Inglaterra, Gales, Escócia e Irlanda do Norte) tinha o controlo das regras do jogo e rejeitou a ideia de uma federação internacional. Foram sete os países fundadores – França, Bélgica, Dinamarca, Holanda, Espanha, Suécia e Suíça – e cada uma das respectivas federações estava obrigada a pagar uma anuidade de 50 francos franceses. Cento e onze anos depois, o número de federações associadas cresceu quase 30 vezes (209, mais que o 193 países que integram as Nações Unidas) e aqueles 350 francos de receita anual que a FIFA tinha em 1904 das contribuições dos seus membros são menos que um grão de areia quando comparados com a máquina de fazer dinheiro em que o organismo se transformou.

No seu último relatório e contas, correspondente a 2014, a FIFA declarou ter reservas financeiras de 1500 milhões de dólares. Isto é só o que o organismo que gere o futebol mundial tem no mealheiro. Igualmente impressionante são as receitas que o organismo gerou no último ano que, recorde-se, foi ano de Mundial de futebol. A FIFA teve um recorde de 2069 milhões de dólares em 2014, o que significa um crescimento de mais do dobro em relação, por exemplo, a 2006, ano do Mundial da Alemanha, em que as receitas foram de “apenas” 749 milhões.

Neste relatório e contas, a FIFA faz uma demonstração da sua contabilidade do último ciclo de quatro anos que terminou no Mundial do Brasil. O total de receitas entre 2011 e 2014 foi de 5718 milhões de dólares, dos quais 2484 milhões provenientes da venda dos direitos televisivos – entre 2007 e 2010 foram 4189 milhões. A outra grande fonte de receita vem dos patrocínios, que totalizam 1629 milhões, entre parceiros oficiais da FIFA (que são seis, Visa, Adidas, Hyundai-Kia, Emirates, Sony e Coca-Cola), patrocinadores do Mundial (oito, entre eles a McDonalds) e patrocinadores locais.

De acordo com o relatório, a FIFA gastou nestes quatro anos uma grande parte destas receitas, 5380 milhões, entre despesas com a organização de eventos, programas de assistência financeira e de apoio ao desenvolvimento do futebol, custos operacionais ou organização dos congressos. Só no Mundial do Brasil, a FIFA terá gasto 2224 milhões. Outro número interessante é o de custo com o pessoal, que a FIFA estima em 397 milhões de dólares para uma média anual de 474 funcionários – quando Blatter entrou na FIFA, em 1975, para o cargo de director-técnico, o organismo tinha 12 funcionários.

A distribuição de verbas pelas federações é tida como a forma como Blatter consolidou o seu poder na FIFA. Nos últimos quatro anos, a FIFA distribuiu 1052 milhões de dólares. O que a FIFA classifica como Programa de Assistência Financeira às federações nacionais implicou a distribuição de 538 milhões. O programa Golo foi financiado com 123 milhões, sendo atribuída uma verba de 500 mil dólares a cada projecto apresentado com o objectivo de fazer crescer o futebol em países menos desenvolvidos. A FIFA diz ter financiado 200 destes projectos entre 2011 e 2014, estimando que, desde a sua criação, 205 federações tenham recebido estes apoios.

Sugerir correcção
Comentar