O ano correu muito bem a...

Miguel Santo Amaro: O ano de “loucura” em que a Uniplaces cresceu

Em Novembro, a empresa que oferece serviços de arrendamento para estudantes no estrangeiro angariou 22 milhões de euros. Miguel Santo Amaro é um dos principais rostos da nova vaga de empreendedorismo português.

Hoje com 26 anos, Miguel Santo Amaro criou a Uniplaces em 2012 Guilherme Marques

Miguel Santo Amaro estava no caminho típico para ser consultor. Era, nas palavras do próprio, “o melhor aluno” e decidiu, com 18 anos, sair do Porto para tirar em Inglaterra uma licenciatura em Finanças e Gestão. No terceiro ano de curso candidatou-se a grandes consultoras - é o tipo de emprego que paga bem e que fica ainda melhor no currículo. Duas recusaram, uma aceitou, mas acabou por ser ele a dizer que não. Convenceu a mãe, assistente social, e o pai, empresário, a tirar um MBA em empreendedorismo, em Boston, nos EUA. Há alguma probabilidade de o leitor já ter lido, ou visto na televisão, o resto desta história.

Hoje com 26 anos, Miguel Santo Amaro acabou por criar em 2012 a Uniplaces, uma plataforma para estudantes encontrarem alojamento no estrangeiro. É o fundador mais conhecido da empresa e um dos rostos mais mediáticos da nova vaga de empreendedorismo português, que nos anos recentes fez explodir o número de startups. Muitas estão ligadas às tecnologias de informação, quase todas estão desejosas de sucesso mundial. Nos últimos anos, tem aparecido em jornais, revistas e sites informativos de toda a espécie. Um jovem com discurso fluido e disponibilidade para falar com jornalistas, e uma empresa com crescimento explosivo, criada a partir de Portugal e com um negócio fácil de perceber são ingredientes de uma receita ideal para as páginas da imprensa e as câmaras das televisões.

Este foi um ano importante para a Uniplaces. Em Novembro, a empresa angariou cerca de 22 milhões de euros de financiamento, numa operação de grandes dimensões para esta fase na vida de uma startup (uma fase à qual muitos projectos já não chegam). Entre os investidores estão o fundo Atomico, criado por um dos fundadores do Skype, e o britânico Octupus, bem como investimentos portugueses: a Caixa Capital (da Caixa Geral de depósitos), a Shilling Capital Partners e os investidores António Murta (do fundo Pathena) e Henrique de Castro (ex-director de operações do Yahoo).

O ano de 2015 foi atarefado para uma empresa que tinha em Janeiro cerca de 40 pessoas e que conta agora com o triplo. Actualmente, a Uniplaces opera em 39 cidades, incluindo várias capitais e boa parte das mais importantes cidades académicas da Europa. Não surpreende que o fundador se foque sobretudo no trabalho quando lhe pedimos para fazer um balanço do ano. “Foi um ano muito ambicioso, acima das expectativas. Foi exigente a nível pessoal. Foram demasiadas horas. Acredito mais num work/life balance [equilíbrio entre trabalho e vida pessoal], embora goste muito de trabalhar. Foi um ano que me preencheu”. Pouco depois, acrescentava: “Também comecei a viver com a minha namorada”.

A conversa aconteceu numa sala pouco iluminada num edifício de escritórios no Bairro Alto, em Lisboa. Em tempos, funcionou naquele prédio o diário Popular (e a porta da Uniplaces fica em frente à da redacção do site Observador). Miguel Santo Amaro está com um blazer informal e uma t-shirt da Uniplaces. A pedido, conta alguns detalhes da vida pessoal: joga futebol, às vezes antes do trabalho, e levanta-se cedo. Até prefere trabalhar à noite, mas aprendeu “os benefícios” de começar pela manhã. Está mais à vontade a falar da Uniplaces. Recorda a curta história da empresa com os pormenores e a rapidez de quem está mais do que habituado a contá-la.

Foi em Viana do Castelo, na casa de férias dos pais, que se juntou com os outros fundadores da Uniplaces (para além do português, um argentino e um inglês) para esboçarem a ideia inicial: um site de classificados de alojamento para estudantes universitários. Todos estavam em idade pós-universitária e tinham sentido o problema de encontrar alojamento em países estrangeiros.

Arrancaram numa incubadora da Universidade do Porto, mudaram-se dois meses depois para a Startup Lisboa, uma outra incubadora, na baixa da capital. Levaram o primeiro ano a perceber que a ideia não seria um bom negócio. Ficariam, na melhor das hipóteses, com uma fatia pequena do mercado de sites de classificados que já existem e onde os quartos e apartamentos para estudantes já aparecem listados. Era altura de mudar de conceito.

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