Nelson Évora, um atleta de coragem, que recomeçou do zero depois de uma lesão gravíssima e se prepara agora para competir nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, deixou-nos desarmados. Pelo empenho com que calçou os seus “ténis” de director por um dia e pela poesia inesperada. No dia antes da prova, “há sempre borboletas dentro de nós”, diz o atleta; no momento de começar, a vontade é que os três saltos sejam “tão leves” que “pareçam um só”; enquanto salta, o treinador “passa a ser os meus olhos”. No fim de tudo, Nelson Évora sabe que “o melhor doping é a confiança” e que ele próprio é a prova viva de que não podemos desistir.
Dias depois de ter aceitado fazer esta edição connosco, medimos na redacção o seu recorde: 17,74 metros. Ficámos abismados com a representação dessa distância. Aqui, no PÚBLICO, começa na secção Local e acaba na Economia. Encontrámos uma forma de partilhar esse espanto com os leitores: um vídeo imersivo de 360 graus, a primeira experiência do PÚBLICO neste suporte. Desafiámos Nelson Évora a passear em três locais onde a distância do seu maior triplo salto se tornasse tangível: no Mercado de Benfica (30 caixas de fruta), no Mosteiro dos Jerónimos (quase um corredor do claustro), na Academia das Ciências de Lisboa (quatro estantes de livros). E, por último, fomos ao Centro de Alto Rendimento do Jamor, onde o campeão olímpico nos falou do seu sonho: saltar 18 metros.
Nesta edição, viramos a confiança do avesso. Fomos aos bancos, aos outros, à Constituição, à Europa, ao nosso bairro. E tentámos ver – numa ressonância magnética gentilmente realizada pela Fundação Champalimaud – onde está a confiança no cérebro de Nelson Évora. Foi uma brincadeira séria para dizer que há investigadores que acreditam que será possível sabermos isso. E impossíveis, já se sabe, não são coisa que nos inspire. Hoje fazemos 26 anos. Esta edição é a nossa forma de agradecer aos nossos leitores.
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