Maya, o blind date do fim-de-semana

Em que se transformaria a extraterrestre preferida da Lua vagabunda de Espaço: 1999? Esse era um dos maiores gozos da primeira série-fétiche de ficção científica da RTP.

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Maya apareceu na segunda temporada da série
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Catherine Schell, a actriz que encarnava Maya, era uma Bond girl
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O elenco de Espaço: 1999
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Os protagonistas: o capitão John Koenig (Martin Landau) e a directora médica da base, Helena Russel (Barbara Bain)

Era o ponto alto do fim-de-semana. O momento em que viajámos pelo espaço com a nossa Lua, liberta da gravidade da Terra por uma explosão nuclear, e encontrávamos extraterrestres, muitas vezes monstros, que queriam destruir aquela humanidade frágil, que dependia de pouco mais além da sua inteligência. E depois, na segunda época, houve a Maya. Extraterrestre, mas muito humana, e capaz de se transformar em qualquer ser vivo.

Espaço: 1999 podia assentar numa ciência frágil, conter erros de ignorância crassa, como criticava em 1975 o célebre escritor de ficção científica norte-americano Isaac Asimov. Mas isso era irrelevante para quem andava nos primeiros anos da escola primária, como eu.

As aventuras das cerca de três centenas de habitantes da base lunar Alfa eram fascinantes, sobretudo para quem tinha uma limitada experiência de ficção científica – na televisão portuguesa nem sequer tinha passado a primeira série de O Caminho das Estrelas, nada sabíamos do Capitão Kirk e do Mr. Spock.

O ponto de partida era este: a Lua tinha sido arrancada da órbita da Terra porque houvera uma explosão causada por uma força desconhecida – com magnetismo e uma doença estranha envolvida – nas toneladas de lixo nuclear acumuladas no lado obscuro do satélite natural do nosso planeta. A catástrofe acontecera a 13 de Setembro de 1999.

Em resultado desse cataclismo nada natural, a Lua, onde existia já uma base permanente – a série fazia tábua-rasa do facto de as missões lunares tripuladas terem sido abandonadas em 1972 pela NASA –, ficara à deriva pelo espaço, atirada como uma bola de pingue-pongue. Entrara em “buracos de minhoca” – atalhos hipotéticos que permitiriam viajar no espaço-tempo – que a levaram a distâncias impossíveis de calcular. Esse era o pretexto para as personagens encontrarem diferentes civilizações, monstros e seres exóticos e perigosos.

Tudo acontecia num depurado cenário anos 1970. As fardas unissexo – sem as mini-saias de O Caminho das Estrelas – com calças à boca-de-sino e uma manga de cor diferente a denotar a função foram desenhadas por Rudolf Gernreich, o inventor do monoquíni. O cenário devia muito a 2001, Odisseia no Espaço. As portas abriam-se e fechavam com um “suich” agradável. As naves Eagle usadas pelos habitantes da base Alfa tinham um aspecto mais interessante do que alguma vez teve o vaivém norte-americano.

Mas a série britânica da ITC, em co-produção com a RAI italiana, nunca singrou nos Estados Unidos, apesar de ter um casal de actores norte-americanos com protagonistas: Martin Landau, o capitão John Koenig, e Barbara Bain, a directora médica da base, Helena Russel. Na altura eram bastante conhecidos, porque tinham protagonizado a série Missão: Impossível.

No entanto, os americanos eram da opinião de Asimov: os argumentos não tinham ciência credível, tentavam imitar o 2001 e portanto filosofava de mais, os actores pareciam não expressar sentimentos… Num episódio, os habitantes da base Alfa tiveram de enfrentar a ameaça de rochas inteligentes.

Na Europa, no entanto, a série foi muito popular em vários países, como Portugal. Mas só teve duas temporadas.

Na segunda, os produtores tentaram aligeirar e apimentar a história, e apareceu Maya, a última sobrevivente do planeta Psychon, destruído por uma sucessão de catástrofes naturais – e capaz de se metamorfosear em qualquer ser vivo. Interpretada por Catherine Schell – uma Bond girl –, retratava uma jovem atraente, com umas intrigantes patilhas escuras. A sua mente era mais rápida do que o computador da base (o que não deveria ser difícil, valha a verdade, pelo que se vê do computador…), mas era também ingénua e emotiva.

Os críticos dizem que a segunda temporada foi a mais fraca. Mas quando Maya se transformava, a câmara focava-se nos seus olhos e tocava uma música de suspense. Pensava que se abrisse muito os olhos conseguiria um dia transformar-me também. Ela era capaz de se transfigurar num monstro horroroso, todo pêlo ou tentáculos. Mas também podia ficar à mercê de inimigos, como quando se viu em risco de ser esmagada depois de obrigada por uma vilã que controlava mentes a transformar-se numa lagarta (angústia!). No entanto, apesar de os efeitos especiais da série serem bastante espectaculares para a época – o director de efeitos especiais, Brian Johnson, foi depois trabalhar com Ridley Scott em Alien –, quando Maya se transformava em símio aparecia num fato de macaco manhoso…

E depois havia a faceta namoradeira de Maya. Os olhares trocados com o seu namorado mal assumido, Tony Verdeshi, bem como uns beijos que quase vinham a propósito ao capitão Koenig… Mas tudo muito decente, porque era uma série para ver com toda a família.

Hoje, Espaço: 1999 é um clássico. Não é, de longe, a melhor série de ficção científica. Mas tem personagens femininas destacadas – ao contrário das primeiras séries de O Caminho das Estrelas, que encaravam as mulheres mais como adereços decorativos. Vem transformar-te sempre que quiseres, Maya.

Esta série é publicada à segunda e à terça-feira. Próxima série: Conan, o Rapaz do Futuro

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