Morreu Leonard Cohen, o músico visionário

Canadiano tinha 82 anos. Lançou no mês passado o seu 14.º disco, em que se dizia pronto a partir: “I’m ready, my Lord.

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É a despedida do poeta melancólico, de voz grave e símbolo inspirador de várias gerações. O músico, compositor e escritor canadiano Leonard Cohen morreu na segunda-feira, 7 de Novembro, aos 82 anos. A morte só foi divulgada na noite de quinta-feira, e ainda não se conhecem detalhes sobre o óbito. 

“É com profunda tristeza que noticiamos que o lendário poeta, compositor e artista Leonard Cohen morreu”, anuncia-se na sua página oficial do Facebook. "Perdemos um dos visionários mais prolíficos e reverenciados da música", acrescenta a mesma nota.

A Newsweek chamou-lhe o "poeta do rock n' roll". Miguel Esteves Cardoso descreveu-o há tempos como "o artista mais eloquente do nosso tempo".

No mês passado, pouco antes de lançar o seu 14.º disco, o cantor de 82 anos confessou estar preparado para morrer numa entrevista à New Yorker, embora garantisse que ainda tinha livros, canções e letras para terminar.

Afinal não teve tempo, embora o próprio já o pressentisse de uma certa forma. Neste seu último disco, You Want It Darker, Cohen canta “I’m ready, my Lord”, como que em jeito de despedida. 

You Want It Darker

"Leonard Cohen está no ringue encostado às cordas e, quando Ela chega e levanta a sua grande mão negra, Leonard tira as luvas, levanta a cabeça e diz uma última frase: “I’m ready, my Lord.” Isto é uma imagem, mas tem um lado literal: pensem na Canção como o lugar em que um homem pode expiar os seus medos com um pouco menos de dor – há luvas nas mãos, o chão não é de cimento. O árbitro é o tempo e já passou demasiado tempo: aos 82 anos Leonard Cohen já viveu o suficiente para cantar “I’m ready, my Lord” em You want it darker, a faixa que abre o disco homónimo", escreveu João Bonifácio na crítica que fez para o PÚBLICO.

Nascido em Montréal a 21 de Setembro de 1934 numa família de origem judaica, Leonard Cohen teve uma infância marcada pelo morte do pai, quando tinha nove anos. Estudou Inglês na Universidade de McGill e cedo se apaixonou pela poesia de García Lorca.

Começou por se dedicar à literatura e rapidamente se afirmou como um dos mais notáveis jovens poetas do Canadá. Estreou-se na poesia, aos 22 anos, com Let Us Compare Mythologies (1956), a primeira de mais de uma dezena de livros, e escreveu os romances The Favorite Game (1963) e Beautiful Losers (1966) – a propósito deste romance, o Boston Globe escreveu que "James Joyce não está morto. Vive em Montréal com o nome de Cohen", lembra o Guardian.

Já era um poeta aclamado quando se mudou para Nova Iorque em 1966, depois de ter vivido em Londres e na ilha grega de Hydra. Dedicou-se então à música (que pensava que poderia ser mais lucrativa) e os críticos começaram a compará-lo a Bob Dylan pela força das suas letras, destaca a Reuters.

O seu primeiro álbum foi lançado em 1967 (Songs of Leonard Cohen). Seguiram-se Songs from a Room (1969), Songs of Love and Hate (1971), New Skin for the Old Ceremony (1974), Death of a Ladies' Man (1977) e Recent Songs (1979). Após um interregno de cinco anos, regressou com Various Positions (1984), que tocou no Pavilhão Dramático de Cascais no ano seguinte. Seguiram-se I'm Your Man (1988) e The Future (1992), antes de quase uma década sem editar. Numa parte deste período, isolou-se num mosteiro budista na Califórnia.

Em 2001, lançou Ten New Songs e três anos depois Dear Heather, antes de mais uma longa pausa nos discos, só quebrada em 2012 com Old Ideas. Popular Problems (2014) foi o seu penúltimo disco, antecedendo o já citado You Want It Darker, lançado a 21 de Outubro passado.

Várias gerações cantaram e dançaram ao som dos seus temas mais célebres, como Hallelujah, Suzanne, I'm your man, Dance me to the end of love, Sisters of mercy ou So long Marianne. Em Agosto passado, aliás, correu mundo a carta de despedida que enviou a Marianne Ihlen, sua musa e amante na ilha de Hydra, nos anos 1960, falecida a 28 Julho.

Leonard Cohen, que anunciara a sua retirada dos palcos na década de 1990, foi obrigado a regressar quando em 2004 descobriu que estava arruinado, depois de a sua agente, Kelley Lynch, ter feito desparecer milhões de dólares das suas contas e de ter celebrado um contrato ruinoso com a Sony em que vendia por tuta-e-meia os direitos de futuras gravações discográficas do mítico intérprete canadiano.

Desde o seu regresso aos palcos, Cohen esteve quatro vezes em Portugal, dando concertos no Passeio Marítimo de Algés em 2008 e Pavilhão Atlântico em 2009, 2010 e 2012. Há quatro anos, no último concerto em Lisboa, o crítico do PÚBLICO Vítor Belanciano sintetizou bem o que nos deixa o canadiano. "As canções de Cohen são isso. Sólidas. Inamovíveis. Perfeitas, seja lá o que isso for."

Queríamos ainda mais escuro, Leonard

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