Hillary Clinton diz que está pronta para terminar a travessia no deserto

A candidata derrotada nas presidenciais norte-americanas apareceu mais sorridente e com vontade de regressar à arena política. Desde que perdeu para Donald Trump que Hillary tem sido comedida nas aparições públicas.

Foto
Reuters/BRIAN SNYDER

A metáfora utilizada foi sempre a mesma: "acabar com a travessia no deserto" ou, na expressão utilizada em inglês pela própria, "come out of the woods". Hillary Clinton diz estar "pronta" para regressar e "repensar" a estratégia que tem seguido: a de se manter em silêncio. Num encontro com mulheres, a ex-candidata presidencial diz estar preparada para ser a "luz" do movimento que "já está a acontecer" nos EUA, falando sobretudo das manifestações de mulheres. Pode não significar um regresso activo à política, mas Clinton quis manifestar a intenção de que a partir de agora não vai mais manter o perfil discreto que adoptou desde as eleições.

Hillary estava "em casa" em Scranton, na Pensilvânia, onde passou parte da sua infância, rodeada de uma plateia de cerca de 700 mulheres irlandesas ou com ascendência irlandesa que celebravam o dia de São Patrício. E foi inspirada pelo "espírito" de Scranton que disse que é preciso fazer mais do que "sobreviver" e é preciso lutar para voltar a juntar o país.

Entre sorrisos, a democrata admitiu que "se calhar" a sua "estratégia de continuar na escuridão" [a expressão utilizada em inglês por Hillary é "walk in the woods"] não está a resultar e admitiu pela primeira vez "estar pronta" para regressar.

"Estou pronta para sair da escuridão e ajuda a iluminar o [movimento] que já está a acontecer nas cozinhas, ou em jantares como este... para ajudar a puxar pela força que nos permitirá a todos continuar", disse, provocando aplausos e manifestações de alegria na plateia.

O discurso teve pouco mais de vinte minutos e grande parte dele foi passado a contar a história da família que ali viveu e de como foi importante parte da infância passada na pequena cidade. Mas a ex-candidata presidencial levava preparada uma mensagem política - e apesar de ter sido captada por um vídeo amador, sem a presença da imprensa, está a fazer eco nos meios de comunicação dos EUA.

Na parte final do discurso, Hillary, que nunca menciona o nome do Presidente dos EUA, deixa um lamento sobre a actual situação do país. "O nosso país está agora muito dividido", começa por dizer, para depois defender que é preciso uma política diferente. "Não acredito que possamos deixar que as divisões politicas endureçam as questões pessoais. Não podemos ignorar ou virar as costas só porque alguém discorda de nós politicamente. Temos de continuar a tentar ouvir-nos uns aos outros e tentar trabalhar para que as pessoas tenham uma vida melhor", defendeu.

Ora, e o que pensa fazer sobre isso? Continuar na travessia no deserto? "Já tivemos muito disso", brincou, para logo em seguida dizer que tal como "grande parte" dos amigos, tem "passado maus momentos a ver notícias".

E que política é essa? Hillary repete a ideia do seu slogan de campanha ["Stronger together"], dizendo que é preciso uma política que una os americanos e que se esse movimento não começar em Washington, deve começar nas pequenas terras como Scranton.

Este discurso de Hillary foi uma das primeiras iniciativas em público que teve desde que perder as eleições presidenciais de Novembro para Donald Trump. Se esta mensagem deixada pode não significar um regresso activo à política, quererá pelo menos dizer que a democrata não quer mais manter o perfil discreto que tem adoptado desde as eleições. 

Sugerir correcção
Comentar