O Mundial de A a Z

O Campeonato do Brasil teve muitos golos (171) e várias figuras em destaque. No final, ganhou a Alemanha, uma autêntica coleccionadora de pódios. Portugal e Cristiano Ronaldo estão entre as desilusões.

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A festa no final do Mundial foi da Alemanha Michael Dalder/Reuters

ALEMANHA Depois de anos a acertar na barra — segundo em 2002 e terceiro em 2006 e 2010, além de finalista do Euro em 2008 e semifinalista em 2012 —, a Alemanha voltou finalmente a erguer ao céu os 6,175kg da taça de campeão mundial. Foi merecido e histórico, pois o triunfo da Mannschaft ultrapassou uma barreira que até anteontem foi sempre demasiado alta para uma selecção europeia: ganhar o Mundial em solo americano. “Esta equipa merece, com Lahm, Schweinsteiger, Mertesacker, Podolski, Klose, que estão aqui há dez anos e estavam decepcionados por não ganharem nada”, disse Joachim Löw. O seleccionador relembrou que o sucesso não se deveu a um trabalho de apenas 55 dias, mas de dez anos, iniciado por Jürgen Klinsmann e impulsionado pelos fracos resultados nos Euros 2000 e 2004, nos quais a Alemanha foi eliminada na fase de grupos.

BANCO A solução esteve muitas vezes no banco, incluindo na final. Trinta e dois (ou 19%) dos golos marcados no Brasil foram apontados por suplentes, mais do que em qualquer Mundial anterior. O mais destacado foi o alemão André Schürrle, que marcou os seus três golos após substituir um colega. O avançado do Chelsea também esteve envolvido no primeiro golo de sempre numa final com assistência e remate final de suplentes, quando Mario Götze facturou ao minuto 113 contra a Argentina.

CRISTIANO RONALDO Das três figuras individuais apontadas como as maiores presentes no torneio — Leo Messi, Neymar e Cristiano Ronaldo —, o português foi o que menos brilhou. Tal como a selecção lusa, o avançado esteve muito abaixo das expectativas e foi incapaz de fazer a diferença. Foi o primeiro Bola de Ouro a ficar pelo caminho na fase de grupos.

DENTADA Luis Suárez passou de herói contra a Inglaterra (dois golos) a vilão no encontro seguinte com a Itália, quando mordeu inexplicavelmente (mas não de forma inédita) um adversário. O central Giorgio Chiellini foi, desta vez, a vítima. A acção do avançado não foi vista pelo árbitro, o Uruguai seguiu em frente, mas caiu logo nos oitavos-de-final, numa altura em que já não pôde contar com Suárez, que sofreu uma suspensão de nove jogos na selecção e proibição de exercer qualquer actividade futebolística durante quatro meses. Foi o castigo mais duro de sempre atribuído num Mundial.

ESTRANGEIRO A Colômbia, orientada pelo argentino José Pékerman, e a Costa Rica, comandada pelo colombiano Jorge Luis Pinto, foram os países que chegaram mais longe com seleccionadores estrangeiros. E ambos não passaram dos quartos-de-final. Nenhuma selecção liderada por um treinador estrangeiro conseguiu ser campeão mundial. Aliás, é preciso recuar até 1978 para encontrar uma final em que um participante era conduzido por um técnico de outra nacionalidade, no caso a Holanda, que tinha o austríaco Hernst Happel no banco.
FARYD MONDRAGÓN A boa campanha da Colômbia permitiu ao seleccionador José Pékerman dar uma recompensa a Faryd Mondragón. Com o primeiro lugar do Grupo C garantido, o treinador colocou o guarda-redes em campo contra o Japão, a cinco minutos dos 90’, oferecendo-lhe a oportunidade de colocar o nome nos livros de recordes da competição, como o mais velho de sempre a jogar, aos 43 anos (e três dias). O camaronês Roger Milla, que participou no Mundial 1994 com 42 anos, passou para segundo da lista.   

GUARDA-REDES Os 171 golos marcados no Brasil igualam o recorde obtido no França 1998. E a média por jogo (2,67) é a mais alta desde o EUA 1994. No entanto, este facto não evitou que este tenha sido igualmente um Mundial em que os guarda-redes se evidenciaram. Manuel Neuer, um seguro de vida para o campeão mundial, foi eleito, com justiça, o melhor guarda-redes. Mas no Brasil foi também vista a qualidade de homens como Keylor Navas (Costa Rica), Guillermo Ochoa (México), Tim Howard (EUA), Jasper Cillessen (Holanda) ou Sergio Romero (Argentina), importantes o trajecto das suas equipas.

HOLANDA Nas suas 18 participações em Mundiais, a Alemanha terminou 13 vezes nos quatro primeiros. Brasil, Itália, Argentina, Uruguai, França, Inglaterra e Espanha foram as outras nações que já foram campeãs pelo menos uma vez. A Holanda, por outro lado, é a selecção com mais presenças no top 4 sem nunca ter garantido o título. Com a medalha de bronze obtida no Brasil, subiram para cinco as participações que a “laranja mecânica” obteve entre os quatro primeiros, juntando-se a três segundos lugares (1974, 1978 e 2010) e um quarto (1998). Mas esta foi a primeira vez que a Holanda, afastada no desempate por penáltis nas meias-finais, saiu de um Mundial sem qualquer derrota.

INIESTA Marcou o golo que deu o título à Espanha há quatro anos, mas desta vez não conseguiu ajudar o seu país a evitar ser a grande desilusão do Mundial.

JAMES RODRÍGUEZ O antigo jogador do FC Porto teve um dos melhores desempenhos da prova e o destaque pode levá-lo até um dos grandes tubarões da Europa. Terminou a prova surpreendentemente no primeiro lugar da tabela dos marcadores, com seis golos, mais um do que o alemão Thomas Müller. Os dois foram os únicos jogadores presentes no Mundial que participaram, com o remate vitorioso ou a assistência, em oito golos. James protagonizou também aquele que foi um dos melhores golos da prova, nos oitavos-de-final contra o Uruguai.

KLOSE O veterano igualou os 15 golos de Ronaldo no empate com o Gana (2-2) na fase de grupos e depois superou-o quando marcou na meia-final contra o Brasil. Tornou-se o maior goleador dos Mundiais, com 16 golos, mas o maior prémio que teve foi a obtenção do título. Klose era o único dos 23 convocados de Joachim Löw que tinha estado presente na final anterior da Alemanha, perdida frente ao Brasil em 2002. É o terceiro a marcar em quatro edições da prova, juntando-se ao brasileiro Pelé e ao compatriota Uwe Seeler. O jogador de 36 anos tem agora 137 jogos e 71 golos pela Alemanha — nenhum deles de grande penalidade. A sua estreia aconteceu em Março de 2001, contra a Albânia, num jogo de qualificação para o Mundial, no qual anotou o golo da vitória (2-1), 15 minutos depois de entrar em campo.

LEO MESSI Juntou o prémio de melhor jogador do Mundial à sua longa lista de galardões individuais, mas não saiu satisfeito do Mundial, pois faltou-lhe — a ele e à equipa — saltar a última barreira. Marcou quatro dos seis golos da Argentina na fase de grupos e ofereceu uma assistência a Di María para este resolver os oitavos-de-final com a Suíça, mas a parte final da prova foi mais discreta. Ficou em branco nos jogos a eliminar e não conseguiu desequilibrar a final para dar o título ao seu país em pleno Maracanã, o maior sonho dos seus compatriotas.

MINEIRAZO Para o Brasil, este era o Mundial que deveria sarar, finalmente, a ferida do famoso “Maracanazo”, como ficou conhecido o triunfo decisivo do Uruguai sobre a “canarinha” em 1950, na primeira vez que organizou a prova. Mas o colapso no Estádio Mineirão foi pior do que o que aconteceu há 64 anos no Maracanã. À medida que a Alemanha marcava golo após golo em Belo Horizonte o mundo assistia incrédulo a um desnível difícil de imaginar numa meia-final (7-1). Foi a maior derrota de sempre do Brasil e também a maior margem de derrota de qualquer selecção anfitriã na história da competição. A equipa de Luiz Felipe Scolari estreou-se com o sonho de garantir o “hexa”, mas o saldo negativo de 1-10 em golos nos dois últimos jogos fê-la viver um pesadelo. O Brasil não conseguiu melhor do que o quarto lugar e foi a defesa mais batida da prova, com 14 golos (novo recorde negativo para um organizador), mais cinco do que os segundos piores, Austrália e Camarões.

NACIONAL Portugal teve uma performance negativa no Mundial, mas foram vários os jogadores com presente ou passado ligado ao campeonato nacional que tiveram protagonismo, a começar pelos três elementos que jogaram na Liga na última época que estiveram no “onze” da Argentina na final, Garay, Rojo e Enzo Pérez. James Rodríguez, Hulk, Ramires, Witsel, Jackson Martínez, David Luiz, Herrera ou Slimani, entre outros, foram outros dos futebolistas com ligação a Portugal que tiveram muitos minutos no torneio.

OLINGA O jogador dos Camarões, o mais novo do Mundial, com 18 anos, não teve oportunidade de jogar.

PROLONGAMENTOS Noventa minutos não foram suficientes para resolver vários jogos desde Campeonato do Mundo. De resto, o Brasil 2014 igualou mesmo o Itália 1990 como a torneio que teve mais prolongamentos — curiosamente, duas edições que terminaram com uma vitória da Alemanha por 1-0 frente à Argentina na final. Oito dos 16 jogos disputados desde que arrancaram os oitavos-de-final tiveram horas extraordinárias. Desses, quatro só foram decididos no desempate por grandes penalidades. A vice-campeã mundial Argentina foi a selecção que disputou mais prolongamentos (3), evitando-o apenas no encontro com a Bélgica, nos quartos-de-final. A campeã Alemanha realizou dois (Argélia e Argentina), mas não precisou de pôr à prova a sua eficácia de 100% (4/4) no desempate por penáltis revelada nas edições anteriores.

QUEIROZ Presente pela segunda vez seguida no Mundial. Na África do Sul, foi o seleccionador de Portugal, que foi afastado nos oitavos-de-final. Desta vez, orientou o Irão e não conseguiu sobreviver à fase de grupos, apesar da boa imagem deixada contra a Argentina, futura finalista. Fernando Santos foi o treinador português que conseguiu ir mais longe no Mundial, levando a Grécia até aos oitavos-de-final.

REPETIÇÃO A final opôs dois velhos conhecidos. O Alemanha-Argentina disputado no Rio de Janeiro foi o oitavo jogo entre as duas equipas em Mundiais, o que faz deste duelo um dos mais repetidos da prova, a par do Brasil-Suécia e do Alemanha-Sérvia.

SURPRESA Não só sobreviveu a um grupo composto por três selecções que têm títulos mundiais no currículo, como o ganhou. A Costa Rica foi a maior surpresa da competição, contrariando o estatuto de nota de rodapé que lhe parecia atribuída desde que foi conhecido o resultado do sorteio para a fase final do Campeonato do Mundo. Teve sucesso nos oitavos-de-final, de resto como todas as selecções que venceram os seus grupos, e só foi travada nos quartos-de-final pela Holanda, no desempate por grandes penalidades.

THOMAS MÜLLER Messi ganhou a Bola de Ouro, mas entregá-la a Thomas Müller era mais justo. O atacante do Bayern Munique começou em grande contra Portugal e manteve o nível nos jogos seguintes. Os seus cinco golos e três assistências ajudaram a Alemanha a chegar ao título. Aos 24 anos, já tem dez golos em Mundiais.

Umaña Foi um dos esteios da surpreendente Costa Rica, mas viveu o melhor e o pior nos desempates por penáltis. Marcou, contra a Grécia, o que carimbou a passagem aos quartos-de-final, garantindo a primeira presença dos ticos naquela fase, mas depois falhou contra a Holanda, permitindo a defesa a Tim Krul.

VIOLÊNCIA Estatisticamente, os Camarões foram a pior selecção do Mundial. A equipa africana não somou qualquer ponto, tal como as Honduras e a Austrália, foi uma das três que só marcou uma vez (Honduras e Irão), e ainda teve a pior diferença de golos (-8) da fase de grupos. O torneio dos “Leões Indomáveis” já tinha começado mal, com a greve colectiva por causa de dinheiro antes da partida para o Brasil, mas o momento mais constrangedor aconteceu quando Benoit Assou-Ekotto deu uma cabeçada no próprio colega de equipa Benjamin Moukandjo, durante a goleada sofrida com a Croácia.

WILMOTS Em 2002, na presença anterior da Bélgiba em Mundiais, Marc Wilmots tinha sido decisivo no apuramento para os oitavos—de-final, ao marcar em todos os jogos da fase de grupos. Agora, no Brasil, foi no papel de treinador que liderou o seu país até aos quartos-de-final.

XHERDAN SHAQIRI O suíço foi o autor do 50.º hat-trick na história dos Mundiais, o primeiro inteiramente realizado com o pé esquerdo.

YEPES Houve espaço para jovens brilharem neste Mundial, mas também existiram seleccionadores que não se arrependeram da aposta em jogadores mais veteranos. Aos 38 anos, o defesa-central Mario Yepes, tal como Klose ou Rafa Marquez, foi um exemplo de um jogador maduro que teve pernas para ajudar a sua selecção a realizar uma boa campanha.

ZERO-ZERO Sete dos 64 jogos terminaram sem golos: Brasil-México, Japão-Grécia, Costa Rica-Inglaterra, Equador-França, Irão-Nigéria, Holanda-Costa Rica e Holanda-Argentina.

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