Reacções: "O Oliveira é como os Jerónimos, de pedra. E vai ficar"

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Manoel de Oliveira durante filmagens Manuel Roberto

Miguel Gomes, realizador

"Morreu hoje o maior cineasta português de todos os tempos (a par com João César Monteiro).

A sua longevidade fascinava-nos a todos mas não nos deve impedir de reconhecer neste momento a verdadeira singularidade, aquela que poderemos reencontrar nos seus filmes. Aí foi sempre fiel a pulsões e obsessões. Foi acrónica e gloriosamente romântico, pudicamente perverso, alternou candura e ironia até ficarmos sem conseguir distinguir uma e outra. Filmou radicalmente a materialidade das coisas – dos cenários de papelão do teatro à integralidade do texto num romance – para que o cinema se pudesse aproximar de uma verdade: a da evidência.

Se eu e os meus colegas hoje em dia temos oportunidade de filmar devemo-lo em grande medida ao génio e à tenacidade do Mestre Manoel de Oliveira."

Paulo Branco, produtor de Manoel de Oliveira durante 25 anos

“É muito difícil definir Manoel de Oliveira em poucas frases, porque a sua obra é demasiado rica, demasiado diversa, demasiado complexa. Quando falam hoje do cinema de Oliveira, muitas pessoas esquecem as dificuldades que ele enfrentou durante o Estado Novo, como foi duro trabalhar, e depois também. Quando faz o Amor de Perdição [1978], é praticamente crucificado. Só quando se mostra o filme em Paris, com a crítica a aclamar, é que as coisas começam a mudar. Foi em 1979 que ele me convidou para fazer o Francisca [1981] e foi nesse ano que eu decidi que ia trabalhar como produtor. É preciso aqui sublinhar que é o Vasco Pulido Valente [então secretário de Estado da Cultura] quem decide que Manoel de Oliveira tem de voltar a filmar – uma decisão que viria a confirmar-se acertadíssima logo à partida, já que o Francisca, lembre-se, faz quase 100 mil espectadores.

Trabalhámos juntos 25 anos e, por vezes, foi para mim muito difícil reunir condições para que continuasse a filmar. Isto porque a sua obra sempre foi muito mal-amada pela elite, sobretudo pela que se sentava no poder. O dr. [Pedro] Santana Lopes ainda hoje se deve arrepender dos conflitos que teve com ele nos tempos do Vale Abraão.

A sua obra continua muito mal conhecida em Portugal e há até uma certa crítica que passa ao lado dela. Uma coisa impensável, se tivermos em conta que se reinventava permanentemente. Não há filme nenhum em que Manoel de Oliveira não tenha corrido riscos. De quantos cineastas podemos dizer isto? Cada filme era uma aventura, havia sempre qualquer coisa inesperada. Não era fácil acompanhá-lo. E essa capacidade de reinvenção é o que ele deixa de maior no cinema universal. O César Monteiro, esse outro monstro genial, dizia já nos anos 70 que o país era pequeno de mais para a dimensão de Manoel de Oliveira e do seu cinema. Continua a ser. Demasiado pequeno.”

Leonor Silveira, actriz

“O Manoel cruzou a minha vida aos 17 anos de forma inesperada e avassaladora. Este encontro determinou o meu rumo pessoal e profissional e, acima de tudo, moldou a minha identidade.

Com ele aprendi a gostar de cinema, a reconhecer o belo e a pensar no poder do tempo. O Manoel desafiou o tempo, desafiou o grande deus Kronos na sua vida e no seu trabalho. O tempo que ciclicamente viu diferentes governos, diferentes gerações, diferentes correntes artísticas, os mesmos erros, os mesmos encantamentos. Sempre faminto de mais vida.

O tempo também deu ao Manoel a sabedoria para não se deixar quebrar pelas tristes repetições da história, sem permitir que o mundo se esqueça que na liberdade criativa não há espaço para concessões.

O meu amor pelo Manoel transcende a partilha artística. Esta é uma perda insuperável mas a memória que me deixa será sempre feliz.

Eu era uma actriz improvável. Hoje ele é o meu Mestre e eu a sua musa.

Até sempre Manoel Cândido."

Serge Toubiana, director-geral da Cinemateca Francesa

Não devemos apenas recordar de Manoel de Oliveira que ele foi o cineasta mais velho em actividade de toda a história do cinema mundial. Porque ele foi bem mais do que isso, um muito grande cineasta, nascido em 1908 no Porto, a sua cidade, que filmou e amou, autor de uns 60 filmes, curtas e longas, em alguns casos até muito longas – a sua adaptação do Soulier de Satin, de Claudel, obra magnífica, lírica e plástica, durava 6h50.

Manoel de Oliveira, que acaba de nos deixar aos 106 anos, era, de todos os cineastas em actividade, o único que conheceu o tempo do mudo. Douro, Faina Fluvial, o seu primeiro filme, um documentário lírico sobre o Porto, é de 1929. Este vestígio do mudo, esta lembrança íntima da época em que o cinema não era mais do que imagens, permaneceu viva e atravessa a sua obra, aguçando o seu olhar, acentuando a sua acuidade formal e narrativa. Manoel de Oliveira era um infantigável contador de histórias, que acreditava firmemente no cinema dos tempos primitivos, nesse tempo em que a crença do espectador se apoiava num olhar cândido, o único capaz de entrar no ecrã, compreender as personagens, viver os seus sentimentos, penetrar a profundidade da sua alma. Quando ele falava dos seus filmes, ou daqueles cineastas que admirava, havia em Manoel de Oliveira essa mesma candura, esse gosto da crença nos sentimentos profundos e exacerbados, qualquer coisa da infância que ele exprimia qual homem sábio e malicioso.

Era um grande amigo da Cinemateca Francesa, tendo conhecido Henri Langlois, que foi o primeiro a reconhecer o seu talento e a mostrar os seus filmes. No ano passado, por ocasião do centenário do fundador da Cinemateca, Manoel de Oliveira mandou-nos uma mensagem comovente e clarividente , homenageando esse divulgador de sombras que era Langlois.

Acolhemos Manoel de Oliveira várias vezes na Cinemateca, em 2008 para um formidável diálogo com Antonio Tabucchi, depois em Fevereiro de 2011 para a antestreia de O Estranho Caso de Angélica, e para a retrospectiva da sua obra em 2012.

No mesmo ano descobrimos O Gebo e a Sombra, um dos seus últimos filmes, obra que encontrara a sua inspiração nas próprias origens do cinema e onde a iluminação das personagens e dos décores parecia vir de lanternas mágicas, de um teatro óptico ou de máquinas de sonhos. Imagem vacilante e trémula de uma arte balbuciante, que não sabia ainda que iria tornar-se a Arte do século XX.

Manoel de Oliveira era um paradoxo vivo, ao mesmo tempo cineasta das origens, das emoções primeiras, e cineasta cultivado, refinado, inspirado pela grande literatura (Claudel, Flaubert, Dostoievski, Madame de La Fayette, Agustina Bessa-Luís…), autor de grades filmes romanescos, como O Passado e o Presente (1972), Amor de Perdição (1979), Francisca (1981), Non, ou a Vã Glória de Mandar (1990), A Divina Comédia (1991), Vale Abraão (1993), A Carta, a sua adaptação de A Princesa de Clèves em 1999. Sem esquecer o genial Je Rentre à la Maison, com Michel Piccoli, ou Belle Toujours, com Bulle Ogier e Michel Piccoli, continuação imaginária de Belle de Jour de Luis Buñuel.

Em França, descobrimos os seus filmes a meio da década de 70 por intermédio de Paulo Branco, que na altura explorava uma sala de cinema em Paris, para os lados da République. De seguida, Paulo Branco tornou-se o produtor de Manoel de Oliveira, acompanhando-o durante duas décadas do seu percurso de cineasta.

Júlia Buisel, actriz e anotadora

"Não sei onde está agora o Manoel, mas sei que ele estará a fazer aquilo que sempre disse e que sempre quis fazer - está a filmar."

Maria João Seixas, antiga directora da Cinemateca

“Portugal fica mais pobre na sua imagem nacional e internacional. Ficamos menos iluminados por um génio único e muito singular, de excelência. É uma perda imensa, mas deixa um legado também imenso e por isso estou-lhe pessoalmente muito grata.

Foi uma figura única do cinema nacional e internacional. Independentemente da idade, o seu cinema era de tal maneira livre, descomprometido com regras, que era, de facto, uma figura única e reconhecida com a maior admiração em todo o lado. Cada filme dele era uma surpresa. Mesmo que não se gostasse do conjunto do filme que víamos, sabíamos que haveria um momento que o filme e o génio de Manoel de Oliveira ganhavam sobre o nosso eventual desinteresse ou desatenção. Ele apanhava-nos como só os primitivos o sabiam fazer. Era um génio muito particular. Viveu cinema até ao fim. Acho que já está numa nuvenzinha a fazer um plateau e a escolher os mais bonitos anjos para serem personagens do seu filme. Era imparável, tinha uma necessidade ontológica de filmar e isso era muito comovente e muito bonito de ver, de sentir e de receber.

Talvez não tenha tido o reconhecimento do público. Seria um estimulante exercício passar a conhecê-lo melhor, ver filme a filme com outra atenção. Agora, os grandes não fazem escola porque são, de facto, únicos. O exemplo do seu compromisso para com o cinema e da tal pulsão ontológica para filmar tem tocado muitos cineastas, novos e menos novos, e vai continuar a tocar. Eventualmente, a sua morte vai convocar outros.”

Pedro Borges, produtor

“Manoel de Oliveira é o mundo todo do cinema português. É assim. Sem mais. Um homem que faz o primeiro filme aos 21 anos e que trabalha até aos 105, resistindo a tudo, com uma perseverança incrível. Esteve décadas parado durante o Estado Novo e passou décadas a ser insultado em democracia. Contra tudo e contra todos, continuou a trabalhar, indiferente, a fazer os filmes que achava que tinha de fazer.

Conheci-o em 1986 e trabalhei com ele quase 15 anos, acompanhando-o a estreias e festivais, quando o Paulo Branco o produzia. Hoje vai dizer-se muita coisa sobre ele, mas o que é verdadeiramente importante é o cinema, os filmes que nos deixou, que são extraordinários. O Oliveira é como os Jerónimos, de pedra. E vai ficar. Os que escarneceram do seu trabalho são cães que vão desaparecer. É a diferença entre o génio e a mediocridade.

Com ele aprendi tudo o que sei sobre cinema. E aprendi a não vergar. Oliveira era absolutamente intransigente quando se tratava do seu cinema – só filmava o que tinha absolutamente de filmar e nunca andou no beija-mão, nunca fez concessões.

A partir dos 90, começou a haver em Portugal um certo respeito formal por Manoel de Oliveira, mas um respeito pela pessoa, não pela obra, que permanecia desconhecida. Isto porque toda a gente respeita, por princípio, quem continua a trabalhar até tão tarde. O poder político e institucional, esse, com raríssimas excepções, não respeitava os filmes.

Estreámos o seu último filme no Cinema Ideal, em Dezembro de 2014. O Velho do Restelo tem 20 minutos e decidimos mostrá-lo ao lado de outros dois, O Pintor e a Cidade e Douro, Faina Fluvial. Épocas tão diferentes, mas todos fora do comum. Pouco se falou desta estreia. E Manoel de Oliveira permaneceu, inflexível, sempre com aquela capacidade de pensar nos que vinham a seguir, sem medo de falar com os cineastas mais novos. Uma generosidade imensa. Tudo o que ele fez é absolutamente universal, sem deixar de ser do Porto e do Douro. Não se pode dizer mais.”

Pedro Mexia, crítico, poeta e antigo subdirector da Cinemateca

"Para aqueles que tiverem disponibilidade para ver os filmes, deixa-nos a obra. Para todas as pessoas que se interessam pela criação artística, deixa algo tão importante, ou mais importante, que é a capacidade de ser fiel a uma ideia. Neste caso a uma ideia de cinema e a resistência a todos os obstáculos quer práticos, quer da recepção pública, que se enfrenta ao longo de uma carreira. São dois aspectos um pouco independentes um do outro: é possível admirar este exemplo sem aderir pessoalmente aos filmes ou não a todos. Mas são dois aspectos importantes.

Era uma figura singular em todos os aspectos. Pela diferença, pela longevidade, pela repercussão internacional. Não é muito facilmente comparável a nenhuma outra figura, não só no cinema português como mesmo no cinema internacional. Além da questão do gosto, objectivamente não há muitas carreiras que comecem no mudo e acabem no século XXI, como aconteceu no caso dele. Só esse aspecto é fantástico. Mas não só isso. Em termos de repercussão internacional, havia um pouco o João César Monteiro, mas não há nenhum outro cineasta que tenha uma comparável atenção da crítica, da Academia e dos estudiosos do cinema como ele teve ao longo destas décadas.

Evidentemente que o cinema que fazia era um cinema exigente que partia de uma ideia de cinema, que também é uma ideia muito particular a que se aderia ou não: uma das características que mais afastavam as pessoas do cinema do Manoel de Oliveira tem a ver com o estilo de interpretação que ele pedia aos actores, que era literalmente diferente do estilo naturalista a que estamos habituados. Vai havendo público e a verdade é que os filmes dele sempre passaram não só em festivais como nos últimos anos sobretudo conseguiram estrear em vários países europeus, também por ter filmado com a Catherine Deneuve, John Malkovich ou Michel Piccoli. Houve sempre público. Havia filmes certamente mais difíceis e certamente mais exigentes do que outros.

Não me parece que haja nenhum cineasta parecido com ele ou que o queira imitar. Mas a verdade é que quase todos os cineastas importantes que apareceram desde os anos 1960, desde o Cinema Novo, o respeitavam, quando não o admiravam. E há vários em que há diálogos mais ou menos explícitos com certos aspectos do estilo e da filmografia de Manoel de Oliveira: estou a pensar no João César Monteiro, que no entanto era uma figura completamente diferente de Oliveira em tantas coisas, ou no João Botelho. No caso de Botelho, talvez sejam mais evidentes os traços do cinema de Manoel de Oliveira.

Manoel de Oliveira ainda esteve a negociar uma nova longa-metragem baseada em contos de Machado de Assis que não avançou, mas continuou sempre a filmar. Só a ideia de fazer uma longa-metragem depois dos 100 anos, ou até depois da idade da reforma, tendo em conta o grau de exigência que apesar de tudo tem fazer um filme – e os filmes dele eram muito particulares na maneira como eram filmados –, é o retrato de uma pessoa dedicada desde a juventude até a uma idade muito avançada ao cinema. E aos filmes que queria fazer. Mesmo que fosse preciso, como aconteceu às vezes, esperar muitos anos para ter financiamento.

Habituámo-nos nestes anos finais a um Manoel de Oliveira muito produtivo mas ele esteve muitos anos sem filmar, sobretudo longas-metragens. No fundo, acabou por aproveitar quando já tardiamente – tardiamente na vida de qualquer outra pessoa, no caso dele ainda muito a tempo – para conseguir ter um ritmo de produção que nunca lhe foi permitido antes e onde ele fez aliás alguns dos melhores filmes. E tudo isto já depois dos 80 anos, o que é uma coisa incrível."

Jonathan Rosenbaum, crítico de cinema norte-americano

"Estou no mínimo grato a Manoel de Oliveira por ter chegado aos 106 anos – e muito grato pelas obras-primas que nos deu, muito especialmente por Benilde ou A Virgem Mãe e Amor de Perdição, para mim os mais negligenciados dos seus grandes filmes."

Vasco Pulido Valente, historiador e antigo secretário de Estado da Cultura

Em 1980 suspendi os apoios ao cinema mas não o fiz de forma arbitrária. Eu tinha muito pouco dinheiro e tive de escolher entre apoiar novas produções ou acabar os 15 ou 20 filmes que estavam começados mas precisavam ainda de financiamento. Decidi acabá-los. Abri uma excepção para o Manoel de Oliveira, que tinha proposto um filme novo, mas não o fiz por ser um admirador do cinema de Manoel de Oliveira – não sou.

A idade que ele tinha [já passava dos 70] contou, mas o que pesou mais foi o facto de ele ter estado 40 anos antes disso a tentar fazer filmes. O Estado, por razões de má administração interna, não tinha o direito de o fazer parar outra vez. Além disso o Manoel de Oliveira era de facto diferente – era o único cineasta português com uma carreira internacional, reconhecido. Não sendo admirador do seu cinema, eu reconhecia com facilidade o mérito de filmes como Douro, Faina Fluvial e Aniki Bóbó. Houve quem reclamasse, mas já nessa altura ele merecia ser considerado um cineasta especial.

Cavaco Silva, Presidente da República

“Foi com profundo pesar que tomei conhecimento da morte de Manoel de Oliveira, símbolo maior do cinema português no mundo e um dos nomes mais significativos na história da 7ª Arte. Portugal perdeu um dos maiores vultos da sua cultura contemporânea que muito contribuiu para a projecção internacional do país.

É um exemplo para as gerações futuras, teve projectos de futuro e foi sempre capaz de ultrapassar as dificuldades.”

Jorge Barreto Xavier, secretário de Estado da Cultura

“Portugal perde hoje um dos referenciais do século XX e um dos homens que, de forma continuada durante quase nove décadas, dedicou apaixonadamente a sua vida à arte do cinema, criando obras que são hoje património cultural português.

Manoel de Oliveira cria um estilo e uma linguagem distintiva que são exemplares enquanto representação do poder de criação humana.

Manoel de Oliveira esteve presente nos grandes momentos da história do cinema português no século XX e contribuiu de forma decisiva para a visibilidade da cinematografia portuguesa na Europa e no Mundo. O seu trabalho e a sua influência em gerações de criadores e produtores fazem dele uma das raízes para a compreensão e para a leitura da cultura contemporânea portuguesa.

O seu património é de tal dimensão que cuidar dele e projectá-lo é tarefa que nos compromete no presente e para o futuro.

À família e a todos aqueles que tiveram o privilégio de acompanhar a sua obra e a sua carreira, o Secretário de Estado da Cultura apresenta as suas condolências.”

Catherine Deneuve, actriz, ao jornal francês Libération

“Era preciso fazer um esforço para entrar no seu cinema mas, uma vez no interior desse mundo, ficávamos perante uma riqueza inaudita, não longe da de cineastas imensos como SergeueiParadjanov. (…). Durante a rodagem do convento, fiquei estupefacta porque ele decidiu que não faria travellings…Era a nós, aos actores, que cabia fazer os movimentos em vez da câmara! E falando connosco ele inventava cenas enquanto recriava outras, como se deixasse que as coisas se decantassem por si mesmas (…). Manoel de Oliveira era muito especial, conseguia ser ao mesmo tempo sedutor e autoritário, muitas vezes charmoso. Tinha qualquer coisa de artesão, trabalhando sem cessar nos seus filmes, impondo a sua visão em pleno processo criativo. Resjubilava quando encontrava uma ideia. Era preciso obedecer e fazer o que ele queria.”

Didier Péron, crítico francês ao jornal Libération

“[Manoel de Oliveira] tinha um pé no romantismo do século XIX, que nunca deixou de citar através da figura tutelar de Camilo Castelo Branco, (…) mas estava ancorado no modernismo graças ao radicalismo das suas escolhas na realização e às especificidades da sua direcção de actores (…). A língua, em Oliveira, aqueles grandes pedaços de prosa que caíam frase após frase aos pés do plano, é o vector de vertigem que unifica toda a obra, que lhe dá a sua cor e o seu traço grandioso. A voz off do narrador de Vale Abraão é o que ouvimos de melhor nestes últimos 20 anos, como se Proust tivesse regressado dos mortos para fazer um acrescento fílmico ao seu Em Busca do Tempo Perdido.”


Assunção Esteves, presidente da Assembleia da República

“Manoel de Oliveira deixa-nos o sublime da sua arte, uma arte que a todos nos libertava na sua infinita perfeição. Como se o cinema que criou, por todos reconhecido, fosse a memória da nossa própria transcendência e o exemplo para a projectarmos nas coisas que fazemos. Quando a Assembleia da República lhe prestou homenagem, o que fez foi expressar a ligação da sua arte à democracia e ao seu projecto emancipador.”

Luís Montenegro, líder da bancada do PSD

“Trata-se de uma grande perda para Portugal, de uma figura ímpar da cultura portuguesa e da cultura mundial, com um percurso reconhecido quer no plano nacional quer no plano internacional, que deixa a cultura portuguesa mais pobre.

Catarina Martins, líder do Bloco de Esquerda

“Bem sei que já tinha 106 anos, mas confesso que acreditava que este dia nunca chegava e acho que há mais pessoas que pensam isso, habituámo-nos a ver Manoel de Oliveira como estando sempre aqui, sempre a filmar, é com certeza alguém que, mais do que moldar o cinema nacional, é um grande cineasta europeu, que faz toda a diferença sobre o que é hoje o cinema e a cultura na Europa.”

Teresa Caeiro, deputada do CDS-PP

“O seu nome ficará para sempre inscrito na história do cinema. A capacidade que teve para se reinventar e para trabalhar até às vésperas da sua morte, é um exemplo.”

Inês de Medeiros, deputada do PS

“É dos mais extraordinários artistas, mas queria sobretudo recordar a pessoa, a luta intransigente pela liberdade criativa, a forma como defendeu a sua arte, a forma como defendeu os seus parceiros cineastas.”

Paula Santos, deputada do PCP

“Falamos de uma figura ímpar da cultura portuguesa. O PCP lamenta profundamente a sua morte.

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