Vencedores e vencidos

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Vencedores...

Marcelo Rebelo de Sousa
Ganhou à primeira, após avisar que as presidenciais não eram a segunda volta das legislativas de 4 de Outubro. Não quis ser o protagonista da direita e afastou-se da memória do embate de 1986 entre Soares e Freitas com uma autodefinição singular: ser a esquerda da direita. Manteve o rumo, apesar das acusações de uma campanha sem conteúdo político. Impôs a sua estratégia aos partidos, PSD e CDS-PP, que nele recomendaram o voto. Inaugurou um novo estilo, que apelidou de afectos, beneficiando de quotas de popularidade ímpares entre o eleitorado, sem estridências comunicativas e outdoors. Conseguiu, por fim, a transversalidade de voto que procurava. N.R.

Marisa Matias
A eurodeputada do Bloco não forçou a segunda volta que apontava como meta vitoriosa, mas foi uma das ganhadoras do escrutínio. Progrediu continuadamente na campanha e alcançou um inesperado terceiro lugar. Foi ela que introduziu temas quentes e incómodos, como as subvenções aos antigos deputados. Garantiu que, se fosse Presidente da República, devolveria ao Parlamento o Orçamento rectificativo motivado pela crise do Banif. Protagonizou debates, à direita e na sua esquerda, desarmando os interlocutores. Com excelentes dotes de comunicação, foi fiel ao guião que apresentou de início. Consolidou o BE numas eleições à partida difíceis. N.R.

Bloco de Esquerda
No Verão de 2015, não poucas dificuldades eram vaticinadas ao futuro político do Bloco de Esquerda. Contudo, nas legislativas de 4 de Outubro, o BE alcançou o terceiro lugar, com 10,19% e perto de 551 mil votos, superando a votação do PCP. E integra, com os comunistas e o Partido Ecologista Os Verdes, a maioria parlamentar de esquerda que permite a existência política do Governo do socialista António Costa. Nas eleições presidenciais, Marisa Matias, a sua candidata e dirigente, confirmou esta tendência, sendo a terceira e, mais uma vez, à frente da candidatura de Edgar Silva, do PCP. N.R.

Sampaio da Nóvoa
Mesmo sem conseguir alcançar a almejada segunda volta – e com ela o sonho da reviravolta , Sampaio da Nóvoa é um dos vencedores das eleições presidenciais. Ganhou as “primárias” que António Costa proclamou no PS, ganhou o apoio mais aberto do partido sobretudo depois do flagelo das subvenções vitalícias que torpedeou a campanha de Maria de Belém, e sobretudo ganhou no campeonato partidos versus independentes. Sampaio da Nóvoa foi conquistando terreno (raramente as sondagens lhe deram mais de 20%) e agora está num patamar político em que pode ser quase tudo. Até, de novo, candidato presidencial daqui a cinco anos.  L.B.

PSD e CDS-PP
PSD e CDS-PP, os partidos que integraram a coligação Portugal à Frente e não conseguiram apoio na Assembleia da República para se manterem no poder depois de quatro anos de legislatura, com a eleição de Marcelo de Rebelo de Sousa travaram o plano inclinado onde se encontravam. Não tiveram protagonismo na campanha unipessoal de Marcelo, mas a recomendação de voto na candidatura de Juntos por Portugal surtiu efeito, mobilizando um eleitorado que chegou a ser dado como perdido. E, sobretudo, a vitória do professor e antigo comentador evitou que em Belém estivesse um dos candidatos apoiados pelos socialistas. N.R.

... e vencidos

Maria de Belém
Quando apresentou a sua candidatura – antes das legislativas, contrariando-se a si própria e ao partido , as sondagens davam-na ombro a ombro com o seu mais directo adversário. Mas ao longo do tempo foi perdendo terreno, sobretudo depois de António Costa declarar aberta a guerra fratricida entre a ex-presidente do PS e o independente Nóvoa. A terça-feira negra acabou com o que restava da sua candidatura: primeiro a morte do seu forte apoiante Almeida Santos, depois a estocada final com a revelação de que Belém era uma das subscritoras do pedido de devolução das subvenções vitalícias. O povo não perdoou. E não vale a pena falar de populismos. L.B.

PS
Se é verdade que Marcelo Rebelo de Sousa em Belém não tira o sono ao primeiro-ministro António Costa, não é menos verdade que a estratégia do secretário-geral do PS para as presidenciais foi um fiasco. Ao ponto de passar a imagem de desinteresse pela corrida. Depois das recusas de António Guterres, António Vitorino e Jaime Gama, era estreita a sua margem de manobra. A solução encontrada, recomendar a repartição do voto do eleitorado socialista por Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém, não resultou e nunca poderia resultar. Mas teve uma consequência para o PS: a partir deste domingo, a oposição interna a Costa no Largo do Rato ficou sem bandeiras e apelidos. N.R.

Passos Coelho
Marcelo Rebelo de Sousa nunca foi o candidato de Passos Coelho. O líder do PSD chamou-lhe indirectamente “catavento político”, algo que rejeitava para a cadeira presidencial, e empurrou quanto pôde o apoio tímido do partido, que acabou apenas como uma “recomendação de voto”. Na verdade, nem Marcelo quereria mais. Primeiro, porque não precisava, segundo porque a presença de Passos na campanha seria um activo tóxico. Mantiveram uma distância higiénica, a única forma de ambos saírem a ganhar. Mas se o PSD ganha, o seu líder não. A verdade é que Passos é o líder de um partido que, ficando à frente das duas últimas eleições, sai derrotado em ambas. L.B.

Edgar Silva
Com percurso de intervenção cívica e política feito nas lutas da Região Autónoma da Madeira, o candidato Edgar Silva não esteve à altura dos desafios que se colocavam ao PCP, de cujo comité central é membro. As suas intervenções foram repetitivas, não inovaram e, como foi comprovado neste domingo, sem tradução eleitoral. Afinal, o antigo padre nunca esteve à vontade na pele de candidato. Assim, marcou terreno, mas não atraiu eleitores para a mensagem dos comunistas. Sem abrangência, não evitou ser ultrapassado pela candidata do Bloco de Esquerda, como já ocorrera com o PCP nas legislativas de 4 de Outubro face ao Bloco. N.R.

PCP
Nos últimos seis meses, a única decisão tomada pelo PCP que serviu os seus interesses políticos foi a inesperada abertura evidenciada pelo secretário-geral Jerónimo de Sousa na primeira reunião, a 7 de Outubro passado, a apoiar um Governo do PS liderado por António Costa. Os comunistas vinham de ser ultrapassados pelo Bloco nas legislativas e a aposta em Edgar Silva para candidato a Belém fracassou. Não fixou eleitorado, não evitou a ultrapassagem pela candidata do BE e não forçou a segunda volta. Neste aspecto, o PCP, tal como os socialistas, ao não conseguir um candidato único da esquerda, perdeu antecipadamente a aposta presidencial. N.R.

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