No sítio errado à hora errada

Um outro olhar sobre o Euro 2016

O futebol é feito de muitas coisas: suor, talento, inteligência, estratégia, persistência e, claro, um pouco de sorte e azar. Não, não pensem que vou falar daquilo que muitos chamam “lotaria” dos penáltis, até porque não acho que as grandes penalidades sejam uma questão de sorte. São um momento específico do jogo para o qual alguns têm mais jeito do que outros. Quero antes chamar a atenção para aquelas situações a que frequentemente chamamos “estar no sítio certo à hora certa”. Entre a boa movimentação do jogador, o erro do adversário, o ressalto da bola e o acaso, tudo se conjuga para o jogador estar naquele sítio naquele momento, como Quaresma no golo de Portugal à Croácia e Chiellini no golo italiano à Espanha. Normalmente, prestamos mais atenção ao “estar no sítio certo à hora certa”, porque o golo é o momento supremo do jogo. “O orgasmo do futebol”, como lhe chamou o uruguaio Eduardo Galeano.

E se o golo é a glória, o autogolo é a sua antítese. É a desgraça, a vergonha, a humilhação até. É claro que muitas vezes colocar a bola na própria baliza é um sinal de falta de jeito para este jogo que apaixona milhões. Só que, outras vezes, é apenas o cúmulo do azar. Veja-se o caso do norte-irlandês Gareth McAuley, que deu o apuramento para os quartos-de-final ao País de Gales com um autogolo aos 75’. Gareth Bale cruzou com força e McAuley tinha um avançado atrás de si, pronto a marcar. Não tocar na bola não era opção. O central do West Brom arriscou e perdeu. Como escreveu o Guardian o jogador da Irlanda “desejava ser outra pessoa, noutro lugar”. Estando ali, seja quem fosse, corria um grande risco de marcar autogolo. Ou seja, é mesmo estar no “sítio errado à hora errada”.

Sugerir correcção
Comentar