Medalheiro: a "guerra" anglo-chinesa no meio do domínio dos EUA

Norte-americanos dominaram em toda a linha dos Jogos do Rio. O segundo lugar do pódio foi, desta vez, para a Grã-Bretanha.

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Mike Blake/Reuters

Se as Guerras do Ópio, no século XIX, e a soberania em Hong Kong, no século XX, fizeram subir a tensão da relação anglo-chinesa (ou sino-inglesa, para não ferir susceptibilidades), em 2016, no Rio de Janeiro, não houve armas, mas houve disputa entre britânicos e chineses pelo segundo lugar do medalheiro olímpico, com os Estados Unidos da América a assistirem, confortáveis, na liderança destacada. 

Há quem fale de flop e fracasso acerca da participação da China nos Jogos Olímpicos, e há quem diga que é histórica a participação do Reino Unido. O facto é que depois de uma vitória “em casa” (a sua primeira), no medalheiro de Pequim 2008, a China deixou o Reino Unido aproximar-se, em Londres 2012. Agora, em 2016, os britânicos conseguiram mais medalhas de ouro do que os chineses, ainda que, na contagem geral, a balança ainda descaia para o exército desportivo da potência asiática. Outro facto: para a China, os 26 ouros são o valor mais baixo das últimas cinco Olimpíadas.

Mas, como em qualquer guerra, cada um quererá apostar na arma mais mortífera. Para a China, a “arma” será o número total de medalhas. Com 26 ouros, 18 pratas e 26 bronzes, os chineses ainda são a segunda nação mais medalhada no Rio 2016. Já o Reino Unido quererá usar uma estratégia de “combate” diferente, falando do ouro. Se a contagem se fizer pelo número de títulos, então os britânicos são os vice-campeões do medalheiro olímpico.

Com o falhanço em modalidades históricas para a China, como o badminton e os saltos para a água, e com a falta de medalhas de ouro na ginástica, a participação chinesa já era um flop, ao fim da primeira semana de Rio 2016. A comunicação social da potência asiática não perdoou e chegou mesmo a escrever: “Estão a brincar? O país que nunca acabou à frente da China está prestes a fazê-lo”.

Os britânicos podem ainda ser elogiados pelo ranking de medalhas per capita. Com 66 medalhas, em representação de cerca de 65 milhões de pessoas, ocupam o 18.º lugar, numa tabela liderada pelas paradisíacas ilhas caribenhas: Granada (uma medalha para 106 mil pessoas), Bahamas (duas medalhas para 388 mil pessoas) e Jamaica — ou Usain Bolt — (11 medalhas para cerca de 3 milhões de pessoas). Neste ranking, como seria de esperar, os chineses não devem ter orgulho. Estão em 75.º lugar, com 70 medalhas para mais de um bilião de pessoas.

A “lição” norte-americana

Enquanto China e Grã-Bretanha se digladiavam pelo segundo lugar, os Estados Unidos da América — sempre eles — assistiam “de cadeirinha”, festejando mais uma vitória no medalheiro e cimentando a posição de país mais laureado da história dos Jogos Olímpicos de Verão.

Em Pequim 2008, os anfitriões chineses bateram os EUA (na classificação pelo número de ouros) e parece que isso “irritou” o gigante americano. Em 2012, a armada de Washington vingou a derrota de 2008 e, agora, no Rio 2016, não só repetiu a vitória, como deu uma verdadeira lição de desporto olímpico. A vantagem foi muito maior do que a registada há quatro anos e, com 121 medalhas (46 de ouro), os EUA bateram a Grã-Bretanha (67 medalhas, 27 ouros) e a China (70 medalhas, 26 ouros). Um domínio avassalador dos norte-americanos, com quase o dobro das medalhas dos rivais.

De resto, destaque para a queda da Rússia (56 medalhas), que conseguiu bastante menos presenças no pódio do que em 2012 e 2008 (82 e 72, respectivamente). Os escândalos de doping, que marcaram o período pré-Jogos e afastaram alguns atletas russos, podem ser apontados como um dos factores decisivos.

Pela positiva, destacam-se países com os seus primeiros ouros olímpicos: Kosovo — que venceu a sua primeira medalha olímpica, na sua primeira participação nos Jogos —, Tajiquistão, Costa do Marfim, Porto Rico, Bahrein ou Vietname.

Já Portugal, apesar de alguns diplomas olímpicos (lugares entre os oito primeiros) está no fundo do medalheiro do Rio 2016, tendo ainda atrás de si um lote de 120 nações que não conseguiram sequer uma vaga no pódio nas três semanas do evento.

Texto editado por Nuno Sousa

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