Os prémios do 25.º Curtas Vila do Conde falam português

Farpões, Baldios, de Marta Mateus, e Où en êtes-vous…, de João Pedro Rodrigues, são os vencedores da edição de aniversário do festival de cinema.

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Farpões, Baldios, de Marta Mateus, venceu o Grande Prémio do 25.º Curtas Vila do Conde DR
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Ou en êtes-vous, João Pedro Rodrigues?, o filme vencedor da competição nacional DR
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Os Humores Artificiais deu a Gabriel Abrantes o prémio de melhor realizador DR
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Les Îles, de Yann Gonzalez: melhor curta de ficção DR
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The Burden, de Niki Lindroth von Bahr: melhor curta de animação DR
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O Peixe, de Jonathas de Andrade: melhor documentário DR
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Surpresa, de Paulo Patrício: prémio do público (competição nacional) DR
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Retouch, de Kaveh Mazaheri: prémio do público (competição internacional) DR

E, aos 25 anos do Curtas Vila do Conde, é o cinema português que sai vencedor do festival. Farpões, Baldios, primeira curta de Marta Mateus, olhar efabulatório e fabulista sobre o Alentejo estreado na Quinzena dos Realizadores de Cannes, foi escolhido como o melhor de todos os filmes a concurso por um júri formado pelos programadores Nicole Brenez, António Preto, Dennis Lim e Pela del Álamo e pelo produtor Georges Schoucair; João Pedro Rodrigues venceu o concurso nacional com Où en êtes-vous, João Pedro Rodrigues? e Gabriel Abrantes foi melhor realizador com Os Humores Artificiais.

Num breve comentário assinado em conjunto, o júri considera que Farpões, Baldios “revivifica uma linhagem de obras onde a infância desbloqueia os sofrimentos, os erros e a virtualidades do passado, tradição que devemos, entre outros, a Manoel de Oliveira, a António Reis e Margarida Cordeiro, a Teresa Vilaverde”. É a quarta vez que um filme português recebe o prémio máximo do certame, sucedendo a João Nicolau (Rapace, em 2006), Jorge Quintela (Carosello, em 2013) e Filipa César (Mined Soil, em 2015). 

Mas, neste ano de comemoração, o prémio a Marta Mateus tem uma dimensão muito especial: trata-se de um primeiro filme de uma realizadora portuguesa que chega a Vila do Conde depois da aclamação no mais importante dos festivais de cinema de categoria A, num momento de relações tensas entre o meio do cinema e as entidades governamentais. Momento esse que foi, aliás, abordado num debate ao fim da tarde de sábado no Auditório Municipal, onde as questões centrais do financiamento, dos concursos e dos júris foram mais uma vez discutidas em presença de produtores, realizadores e deputados do BE e do PCP – mas sem o novo presidente do ICA, Luís Chaby Vaz, que cancelou a sua presença (mesmo enviando um representante do instituto).

A par da estreante Marta Mateus, o júri premiou ainda dois outros cineastas portugueses com nome feito e presença regular no festival. João Pedro Rodrigues, que com João Rui Guerra da Mata ocupou a galeria Solar em 2016 com um conjunto de instalações, venceu a Competição Nacional com a curta realizada a partir de materiais de arquivo para a retrospectiva que lhe foi dedicada em 2016 pelo Centro Pompidou, Ou en êtes-vous, João Pedro Rodrigues?. Gabriel Abrantes, que tem este ano igualmente uma peça na Solar, sagrou-se melhor realizador pela sua comédia sci-fi rodada no Brasil Os Humores Artificiais. Se estão longe de constituir escolhas polémicas – e a selecção 2017 foi tão forte que qualquer escolha do júri iria sempre inevitavelmente desiludir –, não deixa de ser pena que O Homem Eterno, de Luís Costa, ou Coelho Mau, de Carlos Conceição, para apenas falar de dois títulos de jovens realizadores que mereceriam lugar no palmarés, tenham ficado de fora dos vencedores.

Repetentes e estreantes

O francês Yann Gonzalez, vencedor do prémio de melhor curta de ficção no concurso internacional pela ficção onírica Les Îles, tem tido a sua obra acompanhada pelo Curtas ao longo dos anos, tendo até assinado um dos filmes encomendados para o 20.º ano do festival, Land of My Dreams, mas já os vencedores nas categorias de animação e documentário, a sueca Niki Lindroth von Bahr (com My Burden, desesperado musical animado em stop-motion) e o brasileiro Jonathas de Andrade (O Peixe, falso documentário à volta de verdadeiros pescadores brasileiros), tiveram este ano a sua primeira presença em Vila do Conde.

Na competição de filmes de escola Take One!, por onde passaram em anos anteriores Leonor Teles ou João Salaviza, o vencedor foi o documentário de Inês Pinto Vila Cova, De Gente se Fez História, construído a partir de imagens familiares de arquivo que permitem um outro olhar sobre a comunidade das Caxinas. Os prémios do público foram, na competição nacional, para Surpresa, animação de Paulo Patrício, e, no concurso internacional, para Retouch, ficção do iraniano Kaveh Mazaheri na tradição pós-Kiarostami de Asghar Farhadi. 

Palmarés completo do 25.º Curtas Vila do Conde

Grande Prémio  Farpões, Baldios, de Marta Mateus (Portugal)

Competição Internacional

Melhor Animação – My Burden, de Niki Lindroth von Bahr (Suécia)

Melhor Documentário – O Peixe, de Jonatás de Andrade (Brasil)

Melhor Ficção – Les Îles, de Yann Gonzalez (França)

Prémio do Público – Retouch, de Kaveh Mazaheri (Irão)

Competição Nacional

Melhor Filme – Où en êtes-vous, João Pedro Rodrigues?, de João Pedro Rodrigues

Melhor Realizador – Gabriel Abrantes, por Os Humores Artificiais

Prémio do Público – Surpresa, de Paulo Patrício

Competição Take One!

De Gente se Fez História, de Inês Pinto Vila Cova

Competição Experimental

From Source to Poem, de Rosa Barba (Alemanha)

Nomeação Curtas aos Prémios Europeus de Cinema

Los Desheredados, de Laura Ferrés (Espanha)

Competição de Vídeos Musicais

Old Habits, dos Minta & the Brook Trout, realização de João Nicolau

Prémio Curtinhas

Revolting Rhymes Part One, de Jakob Schuh e Jan Lachauer (Reino Unido)

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