Bloco tenta a multiplicação da "geringonça" (até com o PCP)

Catarina Martins usa a solução de Governo para lançar o Bloco no país autárquico. Em Lisboa já há quatro linhas vermelhas. E em Loures estende-se a mão ao... PCP.

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LUSA/Manuel Almeida

O candidato bloquista Ricardo Robles pôs este domingo em cima da mesa quatro condições para apoiar um novo mandato dos socialistas em Lisboa - caso Fernando Medina não consiga a maioria absoluta. É a repetição de um guião que já deu frutos para os bloquistas: na campanha de 2015, foi Catarina Martins a desafiar o socialista António Costa na televisão para um entendimento pós-eleitoral. Se nessa altura os temas eram as pensões e as reversões, agora, nas autárquicas de Lisboa, as exigências são a defesa dos transportes e da habitação, mais creches públicas e gestão da taxa turística feita pelo município. O que funcionou nas legislativas, funcionará nas autárquicas?

Num almoço-comício no Parque Mayer, em Lisboa, Robles disse estar disponível para “discutir soluções à esquerda e assumir responsabilidades num executivo”, desde que sejam respeitadas estas bandeiras: a defesa da Carris e do Metro, recuperando-as, melhorando a “qualidade do serviço público”, e reduzindo as tarifas; substituindo “a parceria público-privada [do autarca] Fernando Medina que entrega 2500 casas a fundos privados” por um “programa 100% público com 7500 casas a preços controlados”; a abertura de 48 creches “das 60 prometidas pelo PS em 2009” e a garantia de que a taxa turística que “neste momento é cobrada e gerida pelos donos dos hotéis, passa a ser gerida pelo município”.

Catarina Martins dá o mote à estratégia do Bloco: a uma semana das eleições locais, o objectivo do partido é lutar contra as maiorias absolutas e pela participação nos executivos das câmaras – em Lisboa, mas não só. Onde "abundam maiorias absolutas, aparentemente eternas e incontestáveis", é preciso "construir alternativas à esquerda” - com o Bloco, disse a sua líder. “Queremos dar o salto nas autarquias. Queremos crescer, sim. Mas queremos sobretudo mudar o mapa autárquico”, afirmou. É importante ler as entrelinhas: se o PS precisar do Bloco para fazer maiorias, se o Bloco entrar nelas, é um salto de gigante do partido no poder autárquico - onde só teve uma vez uma câmara nas mãos, em Salvaterra de Magos (e agora nem isso).

Se a popularidade da esquerda está em alta, Catarina tenta rentabilizá-la: “Se o PS tivesse tido maioria absoluta teríamos hoje um país diferente”, disse, vincando que foi assim que se conseguiu contrariar as propostas socialistas de “liberalizar os despedimentos”, de congelar pensões, de dar “subsídios às empresas que pagavam salários miseráveis”. Assim, insistiu: “Quem sabe a diferença que o BE está a fazer no país sabe a diferença que o BE vai fazer em cada autarquia.”

Também em Loures, Catarina Martins voltou a garantir que o BE “será uma parte de soluções de governos à esquerda” e um “combatente intransigente” da direita que “destruiu o país”. Mas, aí, foi o candidato Fabian Figueiredo, no comício em Sacavém, quem estendeu a mão a outro parceiro mais improvável: o BE não se colocará “de fora da procura de entendimentos à esquerda”. Não, claro, com o PSD de André Ventura. Mas talvez sim com o PCP, que hoje governa a autarquia: “Quem quer que seja a esquerda na sua pluralidade a governar, pode contar com o BE”, disse o candidato.

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