Mais de 300 sobreiros serão abatidos para reactivar 16 quilómetros da linha do Vouga

A recuperação do último reduto da linha de bitola estreita em Portugal passa pela “limpeza” dos taludes que ladeiam a ferrovia numa extensão de 16 quilómetros, no concelho de Águeda.

ABATE DE SOBREIROS NA LINHA DO VOUGA EM SERENADA DO VOUGA EM AGUEDA
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Abate de sobreiros na linha do Vouga, em Serenada do Vouga, concelho de Águeda ADRIANO MIRANDA / PUBLICO
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ABATE DE SOBREIROS NA LINHA DO VOUGA EM SERENADA DO VOUGA EM AGUEDA ADRIANO MIRANDA / PUBLICO
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O mal-estar da população residente na pequena localidade de Jafafe, freguesia de Macinhata do Vouga, concelho de Águeda, que se insurge contra o corte de sobreiros, expressa-se com faixas de protesto e a colocação da bandeira nacional nas árvores que ladeiam a linha férrea até Espinho para impedir o abate de mais de 300 enormes árvores. O pior é o que se vê à volta desta revolta. Alguns dos enormes exemplares já não estão lá, muitos outros exibem uma cinta de tinta branca que marca o seu fim. Tudo para reabilitar um troço da linha férrea onde, no passado, passava o "Vouguinha".

O Núcleo Regional da Quercus recebeu queixas da população “indignada” e repudia acção que está a ser executada por uma empresa, subcontratada pela Infra-estruturas de Portugal (IP), desde o dia 21 de Março. De acordo com o Núcleo Regional da Quercus em Aveiro, o corte das árvores terá sido ordenado porque o ramal ferroviário, o último reduto da linha de bitola estreita em Portugal, onde há décadas circulava o "Vouguinha", vai ser reactivado entre Sernada do Vouga e Espinho para receber uma composição a carvão.

No entanto, segundo a Quercus, a maioria dos sobreiros que estão a ser cortados não representam perigo de queda e nem todos estão na faixa de gestão de combustível dos 10 metros. Alguns encontram-se em zona urbana ou agrícola esclarece a Quercus, acrescentando que parte das árvores “podiam ter sido podados evitando assim o seu corte”.

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Mais de 300 sobreiros serão abatidos para requalificar um troço de 16 quilómetros da linha do Vouga ADRIANO MIRANDA / PUBLICO

No vídeo publicado pela Quercus sobre o corte de sobreiros em Macinhata do Vouga, constata-se que algumas das árvores “para além de saudáveis, não estavam a causar problemas à circulação dos comboios”. Acresce ainda que foram abatidos exemplares que “não se encontravam cintados de branco” conforme requisito legal.

Há cerca de 6 meses, quando ocorreram as primeiras denúncias sobre a intenção de abate de sobreiros junto da linha do Vouga, a Quercus solicitou esclarecimentos à Direcção Regional de Conservação da Natureza e das Florestas do Centro que confirmou a autorização do corte, com um reparo: “o processo está em avaliação, no sentido de se encontrar forma que equilibre a segurança da exploração ferroviária com a preservação das árvores em causa”.

ICNF vai verificar a operação de abate

Ao PÚBLICO o ICNF reafirmou que o corte de sobreiros ao longo de 16 quilómetros da linha ferroviária foi “devidamente autorizado em 5 de Maio de 2022”, a pedido da Infra-estruturas de Portugal, na qualidade de entidade gestora da linha ferroviária e que a autorização é válida “até 5 de Maio de 2023.”

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Mais de 300 sobreiros serão abatidos para requalificar um troço de 16 quilómetros da linha do Vouga ADRIANO MIRANDA / PUBLICO

O fundamento para esta decisão reside na necessidade de “garantir a segurança da circulação ferroviária e dos trabalhos que se encontram a decorrer com vista à sua requalificação” e para dar cumprimento à legislação de Defesa da Floresta Contra Incêndios, salienta o ICNF.

No entanto, este organismo diz ter tido conhecimento de informações que dão conta de que “poderão estar a ser cortados sobreiros sem estarem devidamente cintados e cujo abate não foi autorizado”. Assim, o ICNF garante que irá proceder de “forma adequada” à verificação da situação.

A Quercus salienta que o desaparecimento de centenas de árvores “é uma grande perda ambiental, paisagística e cultural que devia ser evitada”, frisando que os sobreiros que continuam a ser cortados, para além de “cumprirem uma função de protecção e estabilização” dos taludes nas zonas com declive, impediam que debaixo destes pudessem crescer acácias, como acontece na zona envolvente.

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Mais de 300 sobreiros serão abatidos para requalificar um troço de 16 quilómetros da linha do Vouga ADRIANO MIRANDA / PUBLICO

Sem as manchas de montado, para além da esperada erosão dos solos, nas faixas de terreno antes preenchidas por sobreiros, irão proliferar espécies exóticas como a acácia, a mimosa, erva das pampas e outras, adverte o Núcleo Distrital de Aveiro da Quercus.

Aliar o corte de sobreiros à necessidade de defesa da floresta contra incêndios, é um argumento que a Quercus não subscreve: “Estamos numa zona sujeita a um ciclo de incêndios de 10 em 10 anos” assinalam os ambientalistas, lembrando que o território envolvente “é um imenso eucaliptal contínuo e contíguo".

A delegação de Aveiro da Quercus sublinha que a paisagem que se observa na região percorrida pela linha do Vouga, “é profundamente desoladora”, com as espécies infestantes a cobrir áreas que foram dizimadas pelos incêndios. “O que precisamos é de árvores nobres como os carvalhos e os sobreiros que estão a desaparecer”, concluem os ambientalistas.

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