Ave desaparecida há mais de 170 anos voltou a ser avistada no Bornéu

Um único espécime conservado na Holanda comprovava a existência desta ave. “É surreal que tenhamos encontrado uma espécie de ave que os especialistas pensavam estar extinta”, afirma uma das pessoas que redescobriu a ave.

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A ave encontrada em Outubro MUHAMMAD RIZKY FAUZAN

Foram precisos mais de 170 anos para que a ave tagarela-de-sobrancelha-negra voltasse a ser avistada por humanos. A descoberta aconteceu no Bornéu e foi relatada na revista científica Birding Asia, do Oriental Bird Club; segundo o artigo, “nenhuma outra ave asiática esteve desaparecida durante tanto tempo.” Um dos autores, Ding Li Yong, afirmou que “é pesado pensar que quando esta ave foi vista pela última vez, A Origem das Espécies, de Charles Darwin, ainda não tinha sido publicado”.

Foi em Outubro que Muhammad Suranto e Muhammad Rizku Fauzan, dois residentes da zona de Kalimantan do Sul, pertencente à Indonésia, encontraram esta ave que não conseguiram reconhecer. Apanharam-na, fotografaram-na e partilharam a sua descoberta com grupos de observação de aves – depois de identificada, voltaram a soltá-la. Agora, sabe-se que foi “o primeiro avistamento em 170 anos”.

De nome científico Malacocincla perspicillata, a tagarela-de-sobrancelha-negra foi descrita pela primeira vez há mais de um século por Charles Lucien Bonaparte, sobrinho do imperador francês Napoleão. Essa descrição foi feita com base no único espécime embalsamado que comprovava a existência deste pássaro, recolhido entre 1843 e 1848, e que pode ainda ser vista no Centro de Biodiversidade Naturalis, nos Países Baixos.

Ao contrário desse exemplar embalsamado, as cores da ave agora fotografada são mais garridas, com tons castanhos, pretos e cinzentos, com uma linha preta na zona dos olhos – também os olhos são castanhos, ao contrário dos olhos artificiais de cor amarela do espécime conservado na Holanda. Os olhos, as patas e os bicos podem perder a sua cor original durante o processo de taxidermia, explica Panji Akbar, outro dos autores do estudo, que disse ter ficado “entusiasmado, incrédulo e muito contente” quando se confirmou a identidade desta ave.

Assim que as restrições para travar a propagação da covid-19 forem levantadas, Panji Akbar planeia organizar uma expedição para estudar a tagarela-de-sobrancelha-negra. “Temos praticamente zero conhecimento sobre esta ave”, disse ao The New York Times, mas, agora “sabe-se como é que esta ave é na vida real”. Os autores referem que deverão ser publicadas mais informações sobre este avistamento nos próximos meses.

Esta ave conseguiu sobreviver no Bornéu apesar dos elevados níveis de desflorestação na região. “É surreal que tenhamos encontrado uma espécie de ave que os especialistas pensavam estar extinta”, afirmou Risky Fauzan, citado pelo jornal britânico The Guardian. “Não esperávamos que fosse assim tão especial – pensávamos que era só mais uma ave que nunca tínhamos visto antes.”

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