Ciência e sociedade: o que o país merece

Nas últimas décadas Portugal mudou: houve uma evolução tremenda na opinião, atitudes e conhecimento sobre ciência dos portugueses.

Em 2005, apenas 20% dos portugueses conseguiam responder acertadamente a perguntas básicas de ciência e tecnologia. Os resultados do estudo sobre a opinião e conhecimento sobre ciência e sociedade dos europeus realizado nesse ano pintavam um panorama desolador da relação entre a ciência e a sociedade e Portugal destacava-se como um dos países menos preocupados com assuntos científicos.

Nas últimas décadas Portugal mudou: houve uma evolução tremenda na opinião, atitudes e conhecimento sobre ciência dos portugueses. Hoje Portugal lidera o grupo de países europeus com maior interesse em temas de ciência e tecnologia e a maioria confia no impacto positivo que estes têm na sociedade.

Estes resultados devem-se à densa rede que permeia o país: “um movimento social pela ciência”, iniciado pela Agência Nacional Ciência Viva em 1996, e que tem vindo a aproximar a ciência da sociedade. As redes formais, como a Rede Nacional de Centros Ciência Viva e a Rede de Clubes Ciência Viva na Escola e as informais, como a Rede Portuguesa de Ciência Cidadã, sustentam o conhecimento e a confiança da sociedade na ciência. Sustentam a cultura científica no nosso país.

Através destas redes, cientistas, comunicadores/as, professores/as, jornalistas e decisores políticos contribuem para o reconhecimento do valor da ciência no desenvolvimento social e económico do país. Mas muito deste trabalho é feito a título voluntário, por vezes com insegurança profissional e sobretudo com um investimento abaixo do que o país precisa e merece.

E hoje queremos e merecemos mais. Os cientistas portugueses estão entre os que mais comunicam com a sociedade. Mesmo assim e de acordo com o Eurobarómetro, os portugueses querem que os cientistas passem mais tempo a explicar a sua ciência à sociedade. Também referem que é importante envolver a sociedade em processos científicos e que isso ajuda a responder aos desafios das comunidades. Para tal é preciso reforçar o ensino das ciências, reforçar as redes de ciência que trabalham com as comunidades, apoiar a comunidade científica a sair dos seus laboratórios, incentivar a participação pública na ciência e a aprendizagem mútua entre cientistas e não cientistas.

Portugal tem uma sociedade que reconhece o valor cultural, social e económico da ciência. Chegar aqui demorou décadas. Reforçar o trabalho feito é essencial, pois só assim poderemos contribuir ativamente para o desenvolvimento de um país inclusivo e inovador. Não há futuro sem ciência e não há ciência sem cultura científica.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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