Estudo faz nova abordagem ao papel do erro na aprendizagem

Estudo teve a participação de cientistas do Centro Champalimaud.

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Ilustração de cérebro humano MUSC/Justin Gass

Respostas diferentes a desafios iguais podem fazer parte de uma estratégia de comportamento em que errar é normal e faz parte da aprendizagem, conclui um estudo publicado nesta terça-feira na revista Nature Communications.

O artigo científico teve a participação de cientistas do Centro Champalimaud (Portugal), da Faculdade de Medicina de Harvard (Estados Unidos) e na Universidade de Genebra (Suíça).

Para o estudo, os especialistas em neurociências usaram ratos, que levaram a fazer escolhas entre dois cheiros diferentes. Depois manipularam a dificuldade de escolha, fazendo misturas entre os dois odores, e verificaram que os ratos continuavam a responder de forma igualmente rápida.

“O que nos surpreendeu foi que eles não estavam a demorar mais tempo para responder a perguntas difíceis. Estávamos errados no que pensávamos que fosse a resposta, mais lenta, mas na verdade os ratos, embora numa situação artificial, não se desligaram do processo de aprendizagem, estão sempre a aprender”, explicou à agência Lusa André Mendonça, investigador em neurociências e um dos responsáveis pelo estudo.

Mas apesar da rapidez as “respostas” dos ratos estavam correctas? O responsável respondeu que não. Mas acrescentou que nos ratos, ou nos humanos, “errar é a oportunidade para aprender algo novo”.

“Acreditamos que o nosso trabalho é um bom ponto de partida para continuarmos a explorar como diferentes ramos do estudo da tomada de decisão podem interagir. Esperamos também que outros cientistas usem e refinem os nossos modelos utilizando-os em novas experiências. Seria fascinante e informativo ver quando, como e porquê este nosso modelo começa a falhar. Cometer um erro é uma oportunidade para aprender algo novo, que é o resultado e a mensagem do nosso estudo”, disse ainda o investigador num comunicado divulgado pela Fundação Champalimaud.

Até agora, explicam os investigadores, pensava-se que as diferentes respostas dos humanos (e dos animais) face ao mesmo desafio, podendo ser mais rápidas ou mais lentas, correctas ou erradas, se devia a um “ruído” neuronal.

O estudo mostra que essa variabilidade “é muitas vezes incorrectamente interpretada como ruído” e poderá ser antes “o reflexo de uma estratégia comportamental que havia sido até agora negligenciada”, afirma-se no comunicado.

No tipo de tarefa como a da experiência com os ratos “tendemos a ver uma clara dependência entre a dificuldade e o tempo da tomada decisão: nos casos mais difíceis e subtis, os animais (e humanos) levam mais tempo para decidir do que nos casos mais fáceis. Mas, em vez disto, o que observámos foi que os nossos ratos demoravam, em média, o mesmo tempo quer para tomar decisões difíceis quer para as fáceis”, explicou André Mendonça, citado no comunicado.

Jan Drugowitsch, outro dos autores do estudo, diz que em cada julgamento “o que o rato estava a fazer era a reajustar o seu comportamento de acordo com os resultados do julgamento anterior”. “Esta estratégia é consistente com uma visão do mundo em que o ambiente está continuamente a mudar, o que leva os animais a actualizarem a sua abordagem de tomada de decisão, tentativa após tentativa”, explicou, também citado no comunicado.

André Mendonça salientaria ainda à Lusa essa mesma questão, a de que os ratos, apesar de estarem dentro de caixas num ambiente completamente artificial, não se desligaram do processo de aprendizagem e estiveram sempre a aprender.

“Assim como os humanos, os ratos parecem avaliar as suas próprias decisões e mudar o seu comportamento de acordo com essas decisões. Quando nos sentimos muito confiantes, acabamos por tomar a decisão correcta, não havendo muito a aprender. Mas o que acontece quando estamos confiantes e acabamos por descobrir que na realidade estávamos errados? Neste caso, iremos acabar por mudar o nosso comportamento de forma drástica. Foi exactamente isto que vimos nos nossos ratos”, explica também no comunicado Zachary Mainen, um dos líderes do grupo que desenvolveu o estudo, investigador principal no Centro Champalimaud.

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