Número de mortes pelo novo coronavírus sobe para 80. OMS reúne-se com responsáveis chineses

Há pelo menos 3000 casos confirmados — a grande maioria na China — e a primeira morte registada em Pequim. A quarentena aplicada a várias cidades chinesas mantém-se, mas a Organização Mundial de Saúde pede que seja “de curta duração” porque duvida da sua eficácia.

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EPA/YUAN ZHENG

O director da Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, é esperado em Pequim para uma reunião especial com altos responsáveis, nesta segunda-feira. As duas partes irão discutir as formas mais eficazes de conter a propagação do novo coronavírus, quando o número de mortes continua a aumentar: 80 desde o final de Dezembro (os números anteriores davam conta de 56 mortos) e mais de 400 pessoas em estado muito grave. Há pelo menos 3000 casos confirmados, escreve a BBC.

Entre as medidas adoptadas pelo Governo chinês para conter o vírus conta-se o cancelamento das celebrações do Ano Novo lunar, que se assinalou a 25 de Janeiro. Esta é uma das épocas em que os cidadãos chineses mais viajam, aproveitando a quadra festiva para visitar familiares. As celebrações serão retomadas apenas a 2 de Fevereiro, escreve o Guardian, o que irá prolongar o período de férias do Ano Novo Lunar. É uma tentativa de “reduzir ajuntamentos em massa” e “bloquear a disseminação da epidemia”, explica-se num comunicado do Governo.

Ghebreyesus, da Organização Mundial de Saúde, já tinha pedido à China na semana passada que a quarentena fosse “curta em duração”. Algumas autoridades estão a questionar-se se esta medida é eficiente ou não.

Pelo menos 17 cidades continuam de quarentena, uma medida que afecta cerca de 50 milhões de pessoas. Os transportes são limitados ou, algumas vezes, inexistentes — várias áreas, como Pequim ou Xangai, estão, por exemplo, a proibir as viagens de autocarros de longo curso. Esta proibição poderá atrasar o regresso de vários trabalhadores que foram visitar os seus familiares.

Depois de terem sido anunciadas as 80 mortes, foi confirmada nesta segunda-feira a primeira morte em Pequim, capital chinesa de 21 milhões de habitantes, por causa do novo coronavírus. A vítima mortal é um homem de 50 anos que esteve na cidade de Wuhan no dia 8 de Janeiro, segundo o comité de saúde pública de Pequim, que precisou que o paciente morreu devido a uma insuficiência respiratória.

As maiores retalhistas chinesas fecharam as suas lojas e algumas empresas estão a pedir aos seus trabalhadores da província de Hubei, onde se situa Wuhan, o presumível epicentro deste novo coronavírus, que trabalhem a partir de casa.

Em Wuhan, apesar de não existirem transportes, estima-se que cinco milhões de residentes tenham abandonado a cidade antes de ter entrado em quarentena. Este número, apresentado pelo presidente de Wuhan no domingo, inclui aqueles que viajaram para outros pontos da China por altura do Ano Novo. De acordo com o autarca, prevê-se que existam mais 1000 novos casos desta doença.

Perante o acelerar do surto,  as autoridades chinesas intensificaram os esforços para encontrar uma vacina: há três equipas de cientistas a trabalhar numa potencial forma de imunização.

O vírus teve também efeito nos mercados: as bolsas europeias fecharam nesta segunda-feira no vermelho, a perder mais de 2%. As fabricantes de artigos de luxo e as companhias aéreas são das mais penalizadas num contexto de preocupação com a expansão do novo coronavírus.

Primeiro-ministro chinês visita Wuhan

O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, encontra-se nesta segunda-feira em Wuhan para “investigar e orientar” os esforços das autoridades para conter o vírus, acrescentou o Governo em comunicado. Esta é a primeira visita de um alto responsável do regime comunista à cidade desde o início da epidemia.

O número dois do Governo comunista foi fotografado a visitar os hospitais de Wuhan. Terá dito ao pessoal médico que a visita aconteceu para os motivar: “Estou aqui para vos animar”, cita o The Guardian. Os hospitais de Wuhan estão a ficar sem recursos: de camas a kits para despistar novos positivos. Em resposta, o Governo chinês anunciou a construção de dois hospitais para tratar dos casos relacionados com o novo coronavírus, conhecido como 2019-nCoV.

As autoridades chinesas admitiram que a capacidade de propagação do vírus se reforçou. As pessoas infectadas podem transmitir a doença durante o período de incubação, que demora entre um dia e duas semanas, sem que o vírus seja detectado.

Alguns países, como Estados Unidos, Alemanha (onde foi confirmado o primeiro caso na noite de segunda), Japão e França, estão a preparar com as autoridades chinesas a retirada dos seus cidadãos de Wuhan, onde também se encontram duas dezenas de portugueses. O Governo português anunciou nesta segunda-feira que quer retirar por via aérea os portugueses que moram na cidade chinesa de Wuhan.

Os últimos dados disponibilizados davam conta de 2026 casos de contágio confirmados por testes em laboratórios, incluindo em 15 profissionais de saúde, confirma a Direcção-Geral de Saúde portuguesa num comunicado enviado no domingo. Foram reportados casos em:

  • China: 1988 casos;
  • Taiwan: seis casos;
  • Tailândia: cinco casos;
  • Japão: três casos;
  • Coreia do Sul: três casos;
  • Estados Unidos da América: dois casos;
  • Canadá: um caso;
  • Singapura: quatro casos;
  • Vietname: dois casos — um deles não relacionado com viagem à China;
  • Nepal: um caso;
  • Malásia: quatro casos;
  • França: três casos;
  • Austrália: quatro casos.

Entretanto, sabe-se que foi confirmado o primeiro caso na Alemanha e um segundo no Canadá. Até agora, todas as mortes por coronavírus aconteceram na China (onde o número de pessoas infectadas continua a aumentar de dia para dia). Na maioria dos casos, os mortos pelo novo coronavírus são pacientes mais velhos e com outros problemas respiratórios anteriores confirmados.

O que se sabe sobre o vírus?

O vírus, apelidado pela OMS como 2019-nCoV, é uma forma de coronavírus que ainda não tinha sido observada em humanos. Os sintomas mais comuns incluem febre, tosse e dificuldades respiratórias. Em casos mais graves a infecção pode causar pneumonia, síndrome respiratória aguda grave, falha renal ou até a morte, de acordo com a OMS.

Os coronavírus são “transmitidos entre animais e humanos”. “Investigações detalhadas mostraram que o SARS-CoV foi transmitido entre gatos-civeta e humanos e o MERS-CoV de camelos dromedários para humanos”, explica a OMS.

As comparações com a síndrome respiratória aguda grave (mais conhecida como SARS) são quase inevitáveis e saem fortalecidas depois da análise ao genoma deste novo coronavírus, que demonstrou ser mais semelhante à SARS do que a qualquer outro coronavírus. O último surto de SARS começou no Sul da China e foram registados mais de oito mil casos em todo o mundo. Cerca de 800 pessoas morreram entre 2002 e 2003. Desde 2004 que não há registo de nenhum novo caso a nível mundial e a comunidade médica considera a SARS erradicada. Os sintomas de SARS são comuns a outras infecções respiratórias virais: febre, calafrios, dores musculares, tosse e dificuldades respiratórias.

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