100% Porto: quando o Rivoli se torna o espelho da cidade

Pela primeira vez em Portugal, o colectivo Rimini Protokoll apresenta 100% Porto. Escolhidos de forma a representarem a realidade social portuense, 100 habitantes, "autênticos e não-actores", sobem ao palco do Rivoli para fazerem o retrato da cidade.

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Stefan Kaegi, Helgard Haug e Daniel Wetzel compõem o Rimini Protokoll David von Becker
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O Rimini Protokoll foi criado há dez anos e já passou por várias cidades DR

Em cima do palco do Grande Auditório do Teatro Rivoli, no Porto, responde-se a perguntas e tomam-se posições. Cem habitantes da cidade falam, entre muitas outras coisas, sobre as eleições, as ex-colónias, a câmara municipal, os transportes públicos, os refugiados, a sexualidade, o aborto, as drogas, o envelhecimento, os medos e perspectivas para o futuro. É a peça 100% Porto, que este sábado e domingo será apresentada pelo colectivo germano-suíço Rimini Protokoll, constituído por Stefan Kaegi, Helgard Haug e Daniel Wetzel, no âmbito da comemoração do 87.º aniversário do Rivoli.

Pela primeira vez em Portugal, o grupo compromete-se a exibir um retrato estatístico do Porto – o​ Rivoli torna-se, assim, o espelho da cidade.

“Quem votou nas últimas eleições?”; “Imagine que Mário Machado era o novo Presidente de Portugal. Abandonaria o país?”; “Já tivemos uma depressão?”; “Não estaremos vivos daqui a 10 anos”...

Durante 1h40, uma centena de homens e mulheres não-actores, dos cinco aos 84 anos, das sete freguesias do Porto e com histórias de vida distintas e pensamentos próprios, terão de responder a estas – e a muitas outras – perguntas. 100% Porto é, no fundo, uma “peça que representa a cidade”, conta Stefan Kaegi, um dos três membros do Rimini Protokoll.

“Procurámos uma amostra de 100 pessoas que retratassem a cidade em termos de idade, género, freguesia, tipo de família, nacionalidade e estado civil”. Ou seja, “pessoas autênticas, do povo” –​ como descreve João Arezes, coordenador local do projecto –, que pudessem dar um rosto humano aos dados estatísticos fornecidos pela Câmara Municipal do Porto. Encontraram-nas “em cadeia”, através de conhecidos, contactos e instituições.

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A premissa do espectáculo, que existe desde há 10 anos e já viajou por cidades como Paris, Amesterdão, Tóquio e São Paulo, é que a narrativa seja adaptada à realidade de cada local. As comparações são inevitáveis. “Há algumas perguntas que eu não acharia muito importantes, mas, de repente [em Portugal], são. ‘Quem confia mais em militares do que em políticos?’, por exemplo. Vejo a resposta [dos habitantes convidados] e o resultado [positivo] é interessante, se pensarmos num lugar que já sofreu uma ditadura”, comenta Stefan Kaegi em conversa com o PÚBLICO, depois de um ensaio geral. Existe, ainda, outra peculiaridade para o produtor: “O Porto é das primeiras cidades onde vejo uma ausência total de outras religiões [sem ser a católica]”.

100% Porto pode ser visto no Rivoli este sábado, às 21h30, com repetição no domingo, às 17h00, com entrada gratuita. Mas a digressão dos Rimini Protokoll em Portugal não acaba aqui. Nos dias 1, 2, 3 e 8, 9, 10 de Fevereiro, vai passar pela Culturgest, em Lisboa, desta vez, naturalmente adaptada à realidade social da cidade.

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