A comédia nova-iorquina está de volta em Crashing

Pete Holmes está de volta para a segunda temporada da série cómica da HBO que criou com a ajuda de Judd Apatow, no mesmo dia em que Divorce também regressa para uma nova volta. As duas séries voltaram na madrugada de domingo para segunda no TVSéries, mas passam em horário nobre esta quinta-feira, às 22h e 22h30, respectivamente.

Foto
Jamie Lee junta-se a Pete Holmes na segunda época de Crashing DR

Em 2012, o cómico Pete Holmes, que na altura só fazia stand-up e apresentava um podcast chamado You Made it Weird, conseguiu finalmente que Judd Apatow, um dos nomes mais influentes da comédia norte-americana, fosse ao seu programa. Tal aconteceu num episódio gravado ao festival no festival South by Southwest, no qual Holmes teve também, entre outros, a presença de Kumail Nanjiani e Chris Gethard. Tal lista de convidados não é por si um feito digno de nota. Mas hoje, mais de seis anos depois, Apatow, que é justamente o tipo de pessoa que pode fazer carreiras acontecerem, trabalhou com estes três nomes. Produziu The Big Sick (Amor de Improviso, em português), o filme escrito e protagonizado por Nanjiani e Career Suicide, um espectáculo de Chris Gethard a solo sobre os seus pensamentos suicidas que foi transformado num especial da HBO. E, no caso de Holmes, que ainda hoje mantém You Made it Weird, ajudou-o a transformar a sua biografia numa série da HBO.

Crashing é baseada nos tempos pós-divórcio do próprio Holmes, que cresceu protestante e ultra-religioso, se ter divorciado da mulher com quem tinha casado cedo. Estava na casa dos 20 e esta tinha-o traído. Na altura, ainda um aspirante a cómico profissional, passou algum tempo a dormir em casa de amigos e colegas de profissão em Nova Iorque. É uma ideia que o protagonista e criador já tinha tentado vender a Apatow num segmento de The Pete Holmes Show, o talk show pouco duradouro que apresentou entre 2013 e 2014.

Estreada em 2016, a série mostra Holmes, a fazer dele próprio com bastantes mais do que os 20 e tal anos que tinha na vida real, a navegar o mundo da comédia e da recém-encontrada condição solteira, com inúmeros convidados conhecidos. Tem muitos momentos de stand-up – muito melhores, talvez devido ao facto de ter cómicos a fazerem deles próprios, do que é comum em ficção – e lições sobre a vida, além de momentos que podem ser ao mesmo tempo confrangedores, enternecedores e hilariantes, típicos da obra de Apatow, que co-escreve alguns episódios.

A segunda temporada, que se estreou na madrugada de domingo para segunda-feira às 3h30 no TVSéries e tem repetição em horário nobre na quinta-feira às 22h, terá, tal como a primeira, oito capítulos. Dos primeiros seis episódios que foram disponibilizados à imprensa antes da estreia, o melhor é um em que Holmes e o homem por quem a sua mulher o trocou, que agora já nem está com ela, passeiam por Nova Iorque. Liga-se ao tipo de episódio que havia em Girls que era quase como um conto, e parece ter sido algo que Apatow aprendeu com o seu tempo a trabalhar nessa série.

Ao longo da época, Holmes, que cresceu religioso, perde a fé e decide, depois de meses a tentar com afinco singrar na cena antiquada da stand-up feita em clubes de comédia para públicos que não querem propriamente ouvi-los, envolver-se no mundo da comédia alternativa. Parafraseando, a diferença entre os dois mundos é descrita a Holmes pelo duo cómicos de irmãos gémeos Lucas Brothers – que fazem deles próprios, como muitos dos nomes que por aqui aparecem: os clubes de comédia normais são para pessoas que chamavam a outras um termo pejorativo para homossexuais no liceu, enquanto a comédia alternativa é para quem era chamado um termo pejorativo para homossexuais no liceu.

O protagonista entre nesse mundo pela mão de Ali Reissen – a cómica Jamie Lee, uma das argumentistas da série e agora passa para a frente das câmaras, além de ter feito stand-up no talk show antigo de Holmes –, uma colega que entra na vida dele. É um universo menos agressivamente masculino do que aquele em que a série se tinha focado até então, uma questão que salta à vista.

Mesmo assim, Crashing e Holmes ainda se mantêm com um pé no outro meio cómico – e olha para ambos com afecto –, com Artie Lange, de quem se tornou amigo na primeira temporada, a regressar ao elenco, rodeado de pessoas como Bill Burr, Wayne Federman, Greg Fitzsimmons ou Gilbert Gottfried.

Fora da temporada parece estar a questão do assédio e abuso sexual, que nos últimos tempos tem estado na ordem do dia, em particular no meio que é retratado na série. T.J. Miller, por exemplo, amigo de Holmes que apareceu na primeira época, foi recentemente acusado de agressão sexual. E Aziz Ansari, que foi convidado do cómico em You Made it Weird e a quem Apatow ajudou a dar fama quando o pôs a fazer de Raaaaaaaandy (mesmo assim, com oito “a”), uma exagerada estrela de stand-up em Funny People (que em Portugal teve o infeliz título Gente Gira), foi acusado de conduta sexual imprópria este domingo.

Além de Crashing, o TVSéries estreou também na madrugada de domingo para segunda-feira a segunda temporada de outra comédia da HBO: Divorce, a série com Sarah Jessica Parker e Thomas Haden Church, cujas personagens finalmente assinaram os papéis que dissolvem o casamento entre os dois – spoiler alert: Church faz o bigode. Passou às 3h da madrugada de domingo para segunda e volta agora a passar às 22h30 de quinta-feira.

Sugerir correcção
Comentar