“Mais Alto!”: música para pensar o mundo, uma canção de cada vez

Protagonizado por quatro músicos (Francisca Cortesão, Sérgio Nascimento, Afonso Cabral e Inês Sousa) e uma escritora (Isabel Minhós Martins), é um espectáculo para o público infantil que viaja por música de Sérgio Godinho, Caetano Veloso, Xutos ou B Fachada. No LU.CA, em Lisboa, entre 17 e 26 de Setembro

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Enric Vives-Rubio
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Bernardo Carvalho

É concerto rock, ou não estivessem lá as guitarradas dos Xutos. É concerto de melodias intemporais, ou não encontrássemos no alinhamento Fausto, José Mário Branco, Caetano Veloso ou António Variações, via Humanos. É concerto para cantautores que começaram ontem e para cantautores que começaram mais perto de hoje — e eis B Fachada e Nuno Prata. É concerto para o pessoal pequeno que será adulto amanhã, para dançar enquanto descobre e pensa sobre coisas deste mundo que já é deles.

“Mais Alto!”, dirá então no LU.CA – Teatro Luís de Camões, em Lisboa, entre 17 e 26 de Setembro, a banda formada por Francisca Cortesão, Sérgio Nascimento, Afonso Cabral, Inês Sousa e Isabel Minhós Martins. Os quatro primeiros, conhecemo-los do mundo da música. Francisca Cortesão, que lidera Minta & The Brook Trout e que co-criou os They’re Heading West, onde encontramos o baterista Sérgio Nascimento, membro dos Despe & Siga nos anos 1990 e cujo vasto currículo inclui Sérgio Godinho, Deolinda, David Fonseca ou Humanos. Afonso Cabral, por seu lado, integra os You Can’t Win, Charlie Brown e também edita a solo, enquanto Inês Sousa gravita pelo jazz, faz parte de Julie & The Carjackers e prepara o primeiro lançamento em nome próprio. Mas no palco do LU.CA, teatro lisboeta dedicado ao público infanto-juvenil, estará também Isabel Minhós Martins, autora e co-fundadora da editora Planeta Tangerina.

“Mais Alto!” será um concerto para rockar, dançar e cantar, mas será também um concerto de palavra falada – será Isabel Minhós Martins a apresentar e contextualizar cada uma das canções. “A música pode mudar o mundo? O mundo faz mudar a música? Este vai ser um concerto para celebrar o poder da música”, escreveu a autora no texto de apresentação do espectáculo estreado a 11 de Setembro em Guimarães, no âmbito do Festival Manta, e que se apresentará agora no LU.CA dias 17, às 18h30, 18, 19, 25 e 26 de Setembro, às 16h30 (3€ para menores de 18 anos e os 7€ para adultos).

No intervalo de um dos ensaios, Francisca Cortesão explica ao PÚBLICO a ideia por trás de um espectáculo cuja génese remonta a 2019, quando ela, Sérgio Nascimento e Isabel Minhós Martins deram um concerto no LU.CA debruçado, em tempo de eleições, sobre a ideia de democracia. No final, surgiu o convite para transformar a data única em série de concertos, o que foi sendo adiado, até agora, pela pandemia. “Temos a ideia do concerto comentado na música clássica, mas porque é que há-de haver só na clássica?”, questiona. “Mesmo que já se conheça a canção, há uma explicação, uma interpretação que acrescenta ao que já se sabe”. Isabel Minhós Martins apresentará e, depois, o quarteto de músicos interpretará aquele conjunto de canções escolhidas por questões afectivas (tinham que reunir o consenso entre todos), técnicas (as novas versões tinham que fazer justiça aos originais) e temáticas: manteve-se do concerto original a ideia de que “a política não é uma coisa distante que fazem os políticos, envolve toda a gente e todos somos seres políticos de alguma maneira, incluindo quem ainda está longe de ter idade para votar”.

Em 2016, Capicua e Pedro Geraldes, dos Linda Martini, editaram um disco-livro, Mão Verde, projecto em que Francisca Cortesão também esteve envolvida, integrando a banda nos concertos posteriores, que se apresentava como “música para crianças que não se quer infantil”. É um bom mote para este “Mais Alto!”. Interessa à banda que as canções sejam directas e reconhecíveis, interessa-lhe jogar com a diversidade de abordagens que permite ter em palco três cantores multi-instrumentistas e um baterista que também canta, tal como há prazer em trazer para a música “uma série de instrumentos pequeninos, que alguns dos miúdos até terão parecidos em casa”, mas tudo isso é trabalhado tendo uma ideia simples em mente: “as crianças são pessoas que sabem pensar” e não lhe fará bom serviço infantilizá-las.

Ao longo de uma hora, ao sabor de canções criadas por adultos muito talentosos, crianças e seus apêndices, vulgo pais, tratarão de lançar o grito de guerra: “Mais alto!” – estarão a falar do som, estarão a falar daquilo que as canções têm para nos dizer.

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