Álvaro Covões: “Parece que somos os palhaços que só servem para fazer rir as pessoas”

Representante dos promotores de espectáculos já esperava a proibição dos concertos e festas no Natal e no Ano Novo, mas sublinha que a decisão do Governo agrava a “tragédia económica” na cultura, e lembra que nenhum outro sector económico está perante uma perda anual na ordem dos 90%. Na próxima terça-feira, a APEFE vai “entregar cultura” ao primeiro-ministro e ao Presidente da República.

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Álvaro Covões, empresário e membro da direcção da APEFE (Associação de Promotores de Espectáculos, Festivais e Eventos) Rui Gaudencio

A confirmação da proibição dos concertos e festas no Natal e na passagem de ano não surpreendeu Álvaro Covões. O empresário e membro da direcção da APEFE (Associação de Promotores de Espectáculos, Festivais e Eventos) já contava que isso acontecesse.

“Ninguém podia estar à espera que, com a actual situação epidemiológica, pudesse haver festas de Passagem de Ano”, diz Covões ao PÚBLICO. Mas regista que isso só vem agravar “a tragédia económica” do sector. E lembra que, “apesar de se dizer que os espectáculos, e que ir ao teatro, ao cinema ou a um museu é seguro”, essa actividade foi parcialmente proibida com o estado de Emergência sob o qual estamos a viver. “Aos sábados e aos domingos, que são os dias mais fortes, não pode haver espectáculos, e assim vai continuar”, regista o empresário, que também é promotor do festival NOS Alive. E nota que, nas últimas quatro semanas, incluindo este fim-de-semana, “em 28 dias o sector da cultura teve que fechar 12 dias – é quase 45%”. 

Álvaro Covões lamenta que continue a não se atender à situação da cultura. “Ouve-se falar, e bem, da restauração; agora fala-se do apoio à hotelaria, mas a cultura continua sem qualquer tipo de apoio. E não há dúvida nenhuma de que o sector cultural, e o sector dos eventos, vão ser os que vão sofrer a maior quebra económica no país – vamos ter, com certeza, uma quebra de 90% no final do ano de 2020”, assegura. Uma contabilidade que está praticamente fechada, perante as medidas e as restrições agora anunciadas.

O empresário da Everything Is New lembra estar a falar do sector da cultura em geral, e não de um subsector: “É todo um ecossistema que inclui os artistas, os técnicos, os produtores, as salas privadas, as empresas de equipamentos, as empresas de palcos…”. E nota que “não há nenhum outro sector inteiro, na economia, que tenha uma quebra de 90%”. “Parece – e se calhar é verdade – que somos os palhaços que só servem para fazer rir as pessoas”, lamenta.

Já ao final deste sábado, a APEFE emitiu um comunicado a anunciar que, na terça-feira, irá "entregar cultura” nas residências oficiais do primeiro-ministro e do Presidente da República, já que a cultura “não existe em take-away, delivery ou teletrabalho”. Com esta iniciativa, a associação quer mostrar a António Costa e a Marcelo Rebelo de Sousa “aquilo que a cultura não consegue nem nunca poderá ser”, sublinhando que “ninguém sobrevive a uma quebra de 90% de receitas”.

“Continuamos à espera da resposta: Quem assume a decisão de acabar com a Cultura?”, questionou a APEFE.

Notícia actualizada com a iniciativa anunciada pela APEFE.

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