André Brink, escritor anti-apartheid, morreu aos 79 anos

Foi um dos escritores mais activos na luta contra a segregação racial na África do Sul.

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André Brick na sua última apresentação pública AFP

O sul-africano André Brink, um dos autores mais activos contra o apartheid, morreu na madrugada de sexta-feira. O escritor tinha 79 anos e, segundo a imprensa sul-africana, terá morrido no voo que o levava da Bélgica, onde tinha recebido o honoris causa da Universidade de Louvain, à Cidade do Cabo, sua terra natal.

André Brink nasceu em 1935, na África do Sul, e era um dos autores deste país mais importantes do século XX. Poeta, ensaísta, romancista e professor de inglês na Universidade da Cidade do Cabo, Brink ganhou notoriedade nos anos 1960 por obras que denunciavam a injustiça do apartheid.

O autor chegou, inclusivamente, a escrever as suas obras em afrikaans, o idioma oriundo da colonização holandesa, tendo sido um destacado membro do Die Sestigers – um movimento literário contra a política de segregação do apartheid e que várias vezes enfrentou o regime sul-africano na década de 1960.

Com a censura do governo sul-africano, André Brink viu-se obrigado a escrever também em inglês, conseguindo aí o reconhecimento internacional. A partir daí, os seus livros saíram de África do Sul e conquistaram leitores um pouco por todo o lado. O autor está traduzido em várias línguas. Em Portugal, tem publicado apenas um romance: Um Instante ao Vento (ed. Camões e Companhia, 2010).

Em 1973, Brink tornou-se no primeiro escritor a escrever em afrikaans a ser atingido pela censura na África do Sul. Em causa estava Looking on Darkness, que foi exactamente o seu primeiro livro nesse idioma, qualificado pelo governo sul-africano de “pornográfico”. Este romance esteve proibido na África do Sul durante mais de dez anos.

Com mais de três dezenas de obras publicadas, os seus títulos foram quase sempre reprovados pelo meio conservador sul-africano que via em Brink um provocador. O correspondente da BBC na África do Sul descreveu André Brink como um escritor “corajoso”, e nas redes sociais são muitas as mensagens de condolências e de homenagem ao sul-africano.

“Esta é uma notícia muito triste, mesmo que as circunstâncias da morte de André sublinhem a extraordinária vida que viveu”, reagiu à AFP a professora Lesley Marx, sua colega na Universidade da Cidade do Cabo, lembrando que o escritor regressava a casa de uma homenagem.

Foi na segunda-feira que Brink recebeu o honoris causa da universidade belga de Louvain. “O único triunfo do ser humano é poder gabar-se de ir contra as perguntas para encontrar as respostas”, disse no seu discurso final. “Se soubéssemos as perguntas de antemão, não haveria aventuras, não haveria verdadeiras escolhas”, acrescentou, destacando ainda a importância da liberdade de expressão ao lembrar o ataque terrorista ao Charlie Hebdo, em Paris.

Várias vezes na lista dos possíveis candidatos ao Nobel da Literatura, e duas vezes finalista do prémio Booker, Brink recebeu várias distinções importantes, nacionais e internacionais, entre os quais o prémio britânico Martin Luther King, em 1980, e ainda o Médecis para um autor estrangeiro, entregue em França em 1980 por A Dry White Season. História que foi adaptada ao cinema por Euzhan Palcy, e que contou no elenco com Marlon Brando.

Em 2009, Brink publicou o livro de memórias A Fork in the Road, onde descreve os primeiros 15 anos pós-apartheid, notando que a liberdade duramente conquistada não tinha exorcizado todos os demónios do seu país. Nos últimos anos, foi ainda responsável pela tradução de dezenas de autores estrangeiros para afrikaans.

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