Caesar Frazier tem um olho no órgão e outro no retrovisor

Nasceu no Bronx e viveu toda a vida entre a Flórida e Nova Iorque, tocando com Lou Donaldson e Marvin Gaye, estudando e fazendo rádio. Caesar Frazier, homem profundamente comprometido com a sua arte, é um dos desses grandes músicos americanos na sombra que decidiu voltar a tempo de evitar o esquecimento.

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MICHAEL CAIRNS 2017

Ao contrário do que a expressão pode indiciar, Closer To The Truth, último álbum de Caesar Frazier que, depois de Instinct (2018), confirmou, em definitivo, o seu regresso aos discos, não significa um movimento em diante.  Pelo contrário, a verdade, aqui, está bem lá atrás — mais concretamente, na golden era do órgão do jazz americano, anos 60/70. Nascido nos finais dos anos 40, Frazier viu o órgão passar de instrumento confinado às igrejas de gospel a grande protagonista do jazz americano e a cair novamente no esquecimento. Tocou e foi amigo pessoal de Lou Donaldson e Marvin Gaye  numa altura em que a presença deste último era rastilho de histeria colectiva em qualquer lugar. Tal como no futebol, em que é possível encontrar mais miúdos talentosos numa esquina do Rio de Janeiro do que em vários países europeus juntos, na música negra americana a absurda quantidade de virtuosos por metro quadrado faz com que, por uma razão ou por outra, nem todos tenham o seu nome lembrado com a devida justiça pela história. Empreendedor e metódico, apaixonado e obsessivo pela sua arte (ou artes, na medida em que, além da fotografia que também pratica, considera a rádio uma arte nos mesmos termos que a música), o americano educou duas filhas sozinho sem nunca deixar de estudar, investigar, de pensar a música e o mundo. E, sublinha, sem nunca se ter aborrecido por um segundo que fosse.

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