Dan Brown perguntou em Lisboa se Deus sobreviverá à ciência

O autor de best sellers passou por Lisboa para apresentar o seu mais recente romance Origem numa espécie de talk show solitário mas a que não faltaram as necessárias e ensaiadas técnicas de descontracção e de informalidade.

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Dan Brown na feira do livro de Frankfurt EPA/RONALD WITTEK

Centenas de pessoas encheram este domingo, ao final da tarde, o grande auditório do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, para ouvirem Dan Brown. O escritor americano de best sellers, que se tornou famoso há uma década com O Código Da Vinci, passou por Lisboa para apresentar o seu mais recente romance, Origem, publicado há poucos dias pela editora Bertrand, ao mesmo tempo da edição americana – em quatro dias vendeu em Portugal cerca de onze mil exemplares. Origem é o quinto romance de Dan Brown onde surge a personagem Robert Langdon, professor de simbologia e de iconologia religiosa da Universidade de Harvard.

Acabado de chegar de Frankfurt, onde há dias fez a apresentação mundial do seu mais recente romance naquela que é considerada a maior e a mais importante feira do livro em todo o mundo, Dan Brown entrou no auditório esgotado do CCB elogiando a sala e, com algum humor, preparando o público para o que se iria seguir: uma apresentação, de um expectável best seller, feita em formato de talk show solitário mas a que não faltaram as necessárias e ensaiadas técnicas de descontração e de informalidade. Foi assim que começou por contar com ironia que escreveu o primeiro livro aos cinco anos, “obviamente um thriller”, e que foi a mãe quem o “publicou” fazendo um exemplar forrado a couro, que mostrou ao público. Exibiu ainda duas placas de matrículas de carros, pretensamente uma do carro da mãe e outra do carro do pai: a mãe, que foi directora de um coro de igreja (onde o pequeno Dan também cantou), não “era tímida” em mostrar ser cristã, por isso no seu automóvel a placa tinha a inscrição “Kyrie” [da oração Kyrie eleison, ‘Senhor, tende piedade’); já o pai, que segundo Dan Brown era um autor de best sellers de livros de matemática, usava na placa de matrícula do carro a palavra “Metric”.

Serviu isto ao autor americano para exemplificar o mundo quase paradoxal em que cresceu, na oposição entre religião e ciência, chegando mesmo a afirmar ter tido uma infância um pouco “esquizofrénica”. E continuou dando exemplos destas supostas ‘contradições’ entre Deus e a ciência experimentadas nos primeiros anos da sua vida escolar, entre o mundo ter sido criado por Deus em sete dias, como ouvia na igreja, versus a teoria do Big Bang, que lhe ensinavam na escola, ou o Génesis e a Teoria da Evolução. Veio tudo isto a propósito de Origem, mais um romance em que Brown tenta explorar os fundamentos da religião e essa aparente e contraditória dualidade, e em que se interroga sobre se Deus irá sobreviver à ciência. Afirmou ainda que historicamente os deuses nunca sobreviveram à ciência, recorrendo aos argumentos simples de que quando a ciência explica os fenómenos naturais (deu os exemplos dos terramotos, das marés, das tempestades) o homem não precisa de preencher esses “espaços” (que deixam de se tornar vazios) com deuses. No entanto, as grandes questões existencialistas mantêm-se, e Dan Brown repetiu-as: o que haverá depois da morte? E as memórias, e os sonhos, para onde vão?

Em Origem, cujo turbilhão de acontecimentos da acção tem lugar desta vez em Espanha – país onde Dan Brown antes viveu – nomeadamente em Bilbau (no museu Guggenheim) e em Barcelona (obviamente com a catedral da Sagrada Família como centro), a simbologia religiosa volta a ter destaque e o autor referiu o facto, bem como as diferenças entre as religiões, que segundo ele não são grandes. Origem obrigou Brown a ler bastante, como afirmou, sobre novas tecnologias e inteligência artificial, tudo isto ligado a algo que no futuro irá “substituir Deus” porque Deus acabará por ser “desnecessário”. Para Dan Brown este “é um livro optimista, pois vivemos estranhos dias”. No final respondeu a algumas perguntas dos presentes, e revelou que os direitos cinematográficos de Origem já estão vendidos. 

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