Emprego cultural voltou a diminuir em 2017, mas menos do que no ano anterior

O sector vem perdendo profissionais desde 2015, revela o relatório anual das estatísticas da cultura publicado esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística, referente a 2017. Que sublinha o crescimento expressivo, e continuado, das visitas aos museus.

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MIGUEL MANSO

O sector cultural e criativo empregou em 2017 menos 400 pessoas do que no ano anterior, abrangendo agora um universo total de 81.300 trabalhadores (em 2016 eram 81.700), revela o relatório anual das estatísticas da cultura publicado esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Com base no Inquérito ao Emprego, este será o segundo ano em que o número de trabalhadores culturais diminui em Portugal, depois de ter atingido o seu nível mais alto em 2015, quando o sector empregava 85.200 pessoas.

O emprego cultural, designação que diz respeito a profissões tão diferentes como arquitectos, bibliotecários, jornalistas, artistas plásticos ou joalheiros, caiu 4,6% desde 2015, mas entre 2016 e 2017 a queda foi de apenas 0,5%. Desde 2000, altura em que representava um universo substancialmente inferior, ficando-se pelo patamar das 55,5 mil pessoas, a tendência era de subida.

Em resposta ao PÚBLICO, o INE ressalva que devido à reduzida diferença das estimativas em anos consecutivos, e considerando que o inquérito ao emprego é feito por amostragem, “não se pode concluir que tenha havido uma diminuição do emprego nas actividades culturais e criativas” entre 2016 e 2017. Para o INE, "a população empregada naquelas actividades em 2016 e 2017 é idêntica".

Ainda segundo o mesmo relatório, mais de dois quintos dos portugueses empregados no sector cultural em 2017 concluíram o ensino superior, demonstrando um grau de escolarização superior ao da média do emprego em Portugal. Se também aqui houve uma ligeira quebra neste último ano, de 0,6%, o INE sublinha que o emprego cultural com curso superior quase triplicou entre os anos 2000 e 2017. 

Já estatísticas sobre as empresas (as mais recentes são de 2016) mostram um crescimento de 4,6% relativamente ao ano anterior, segundo o Sistema de Contas Integradas das Empresas citado pelo INE. Destacam-se, pelo seu peso relativo neste universo, as relacionadas com as artes do espectáculo, que representavam 29,4% do total. Mas, sendo estas as empresas mais numerosas do sector, não são as que mais facturam: 45% do volume de negócios (4,9 milhões de euros) está nas mãos das empresas de venda a retalho de jornais, revistas e artigos de papelaria, de actividades de televisão e das agências de publicidade.

O valor das exportações culturais em 2017 foi de 57,4 milhões de euros: um crescimento de 33,7% em relação ao ano anterior. Mas como as importações foram quase três vezes superiores, atingindo 180,7 milhões de euros (mais 17,4% do que em 2016), registou-se um agravamento em cerca de 12,3 milhões de euros do défice da balança comercial de bens culturais, que se situou em 123,3 milhões de euros.

Estrangeiros já são 45% dos visitantes dos museus

Os 430 museus rastreados pelo INE receberam um total de 17,2 milhões de visitantes em 2017, mais 1,6 milhões do que no ano anterior. Desses, 45% eram estrangeiros. Este crescimento reflecte-se também nos números mais específicos dos museus, monumentos e palácios tutelados pela Direcção-Geral do Património Cultural, que em 2017 receberam 5.060.780 visitantes (8% a mais do que no ano anterior). Quando considerados os números dos últimos seis anos (de 2012 a 2017, inclusive), o aumento é de 60%.

Na área das artes plásticas, havia no ano passado 1024 espaços classificados como galerias de arte e outros espaços de exposições temporárias, menos 14 do que em 2016. Entre estes, 63 são galerias de arte, 17 outros espaços com fins lucrativos, enquanto 944 são espaços de exposição sem fins lucrativos. Nas pouco mais de mil galerias portuguesas, foram apresentadas 7199 exposições de 51.417 autores.

No cinema, e de acordo com os dados do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), houve 15,6 milhões de espectadores em 2017 (mais 685,4 mil do que no ano anterior), um número que já não era visto desde 2011. As receitas de bilheteira atingiram um total de 81,7 milhões de euros. O cinema de origem norte-americana continua dominante, representando 67,9% das entradas em sala.

Mas os números dos primeiros seis meses de 2018, já revelados pelo ICA, mostram uma inversão da tendência: depois de cinco anos de recuperação, registaram-se menos 1,3 milhões de espectadores nos cinemas portugueses do que no primeiro semestre do ano passado.

Maioria não compra bilhete

Os espectáculos ao vivo mobilizaram 15,4 milhões de espectadores em 2017 (mais 3,9% do que em 2016), mas apenas 4,9 milhões corresponderam a entradas pagas — segundo o INE, a esmagadora maioria dos espectadores (10,5 milhões) não pagou ingresso. O teatro realizou mais sessões (38,6%), mas foram os concertos de rock/pop que conseguiram mais espectadores — 2,8 milhões, gerando 42,4 milhões de euros. No total, a receita dos espectáculos foi de 82,9 milhões de euros, menos dois milhões do que em 2016.

Já entre as publicações periódicas, há um decréscimo de circulação de 20,3%. Os jornais representavam em 2017 36,5% das publicações nacionais.

As câmaras investiram em actividades culturais e criativas mais 16,7% do que em 2016, atingindo o financiamento público de origem municipal um montante global de 450,1 milhões de euros. Destacaram-se entre as suas prioridades as actividades interdisciplinares (27,8%), as artes do espectáculo (25,5%), o património cultural (20,9%) e as bibliotecas e arquivos (15,7%).

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