João Salaviza e “a imagem do dia”

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A primeira longa-metragem de João Salaviza, Montanha, exibida no Festival de Cinema de Veneza, no sábado, valeu ao crítico do jornal Libération “a imagem do dia”. Num artigo assim intitulado, Clément Ghys começa por dizer que Montanha tem “o mais belo plano” que tinha podido ver desde o início da Mostra. Refere-se à sequência de um minuto na boîte em que David, o adolescente de 14 anos, dança de olhos fechados, alheio ao que está à sua volta.

“Menos do que uma narrativa, Montanha é uma captação, como se a câmara assumisse o acto de uma presença”, escreve Ghys. E acrescenta: “Salaviza filme este cerco, constrói os seus planos obstruindo-os, acrescentando sucessivamente vários elementos que o vêm perturbar: armários, janelas, mobiliário urbano, sombras... Tudo ajuda à claustrofobia que é imposta ao jovem”.

O crítico do diário francês estabelece um paralelo entre a primeira longa-metragem do realizador português e um dos primeiros filmes de François Truffaut, Os Quatrocentos Golpes (1959). E acrescenta ainda que o protagonista de Montanha tem “a selvajaria de um herói de Pasolini”, inscrevendo o destino de David no contexto de uma época de “crise económica e moral” que deixa camadas da sociedade “ao abandono”.

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