Marlon James: “O realismo é muito pouco real. Ou é real para uma pequena minoria”

É um gesto radical: passar para a escrita a experiência das narrativas orais africanas. Leopardo Negro, Lobo Vermelho pode ser ficção científica, policial ou épico. O seu autor até não resistiu à provocação: seria uma Guerra dos Tronos africana. É a criação de um universo vertiginoso de fantasia, violência, dor. A fantasia, diz Marlon James, vencedor do Booker, é mais inclusiva do que o realismo. Diz-nos verdades.

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Mark Seliger

O homem grande chega vestido de negro com um cachecol colorido. Não destoa do cenário, mas todos dão por ele. Óculos escuros, o cabelo em rastas apanhado num rabo-de-cavalo, quase corre. Está atrasado e com fome. Tira os óculos. O rosto, até aí duro, abre-se num sorriso afável. Marlon James está na América há 12 anos e parece em casa com todas as contradições dessa casa: o preconceito de raça, de classe, a homofobia. Nada que não tenha conhecido no seu país, a Jamaica. Até já esqueceu o calo. “O corpo habitua-se”, diz, e o dele já se adaptou aos Invernos gelados de Mineápolis, no Centro-Norte dos EUA, onde ensina Escrita Criativa na universidade de Macalester. Nova Iorque, onde vive o resto do ano, parece amena em comparação. Anda pelas ruas com o anonimato que só ela permite. Ela e a arte que James pratica, a literatura. Marlon James é uma estrela nesse firmamento cada vez mais de nicho e na Jamaica brinca que está entre o anonimato e o “conheço-o de algum lado”.

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