Um monstro a partir dos fantasmas da Argentina

A Nossa Parte da Noite é uma grande síntese do universo literário da escritora: o fantástico, a vulnerabilidade dos corpos, o desejo, o poder, uma ideia de juventude, o trauma.

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Jorge Gil

O assombro maior é uma casa grande onde desaparecem pessoas. Essas pessoas estão mortas. Quem fica na casa espera e vai ouvindo os ecos delas, e a espera não acaba. A casa grande pode chamar-se Argentina. Foi lá que Mariana Enriquez nasceu em 1973. Terminava uma ditadura, havia de começar outra. As pessoas iam desaparecendo, as lendas espalhando-se, e veio o momento em que os jornais contaram o que aconteceu carregando no detalhe. Crónicas de um horror passado que continuava presente em forma de trauma colectivo. São os fantasmas da ditadura. “Antes de ler Poe, li as crónicas sobre como se torturaram prisioneiros”, conta a partir de Buenos Aires sobre aquela que foi a sua grande formação num género que a tornou uma das vozes mais respeitadas da literatura latino-americana. O terror, o fantástico, o gótico enquanto tentativas de apreender e testar os limites de um real que escapava às narrativas realistas.

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