Morreu o líder de big band James Last, um compositor de “música feliz”
Campeão de vendas e do easy listening, morreu aos 86 anos nos EUA depois de uma carreira em que tocou Elvis, Tarantino, ABBA, Bach ou Vivaldi.
James Last, que liderou a big band alemã de maior sucesso no pós-II Guerra e que se celebrizou pela composição de música ligeira a que chamava “música feliz”, morreu aos 86 anos nos EUA. Prolífico compositor – chegava a trabalhar em dois álbuns por mês – gravou mais de 200 discos e vendeu mais de 80 milhões de álbuns ao longo da sua carreira. Foi interpretado por Elvis, integrou Kill Bill e trabalhou sempre entre a pop e o formato da big band.
Last, nascido em Bremen, na Alemanha, morreu na sua casa no estado norte-americano da Florida aos 86 anos na sequência de uma doença não divulgada e que se agravara desde Setembro. Faleceu na terça-feira, “pacificamente e na presença da sua família”, disse o seu manager à BBC.
O compositor ficará associado ao chamado “Happy Party Sound", como descreve o diário alemão Die Welt, ou à “happy music”. A sua canção de maior sucesso, assinada com Jackie Rae é mais uma vez um tema “feliz” – Happy Heart (1969) foi gravada tanto pela emblemática britânica Petula Clark quanto pelo crooner norte-americano Andy Williams.
Ao longo da sua carreira, trabalhou com outros autores e intérpretes da chamada música ligeira, de Cliff Richard a Richard Clayderman, passando pela bossa da brasileira Astrud Gilberto ou os suecos ABBA – os álbuns temáticos eram um dos seus registos preferidos. Uma das suas canções, Einsamer Hirte (O Pastor Solitário) integra a banda-sonora do primeiro tomo do díptico de Quentin Tarantino Kill Bill (2003). Como compositor, um dos seus êxitos mais sonantes é Fool, interpretado por Elvis Presley e integrado no seu álbum de 1973 intitulado Elvis – mas que é também conhecido como The Fool exactamente pelo single escrito por Last e Carl Sigman.
James Last gravou mais de 75 álbuns instrumentais que se tornaram êxitos na Alemanha e no Reino Unido, atingindo números que o colocaram nas listas dos mais vendidos ao lado de nomes como Elvis Presley ou os Beatles. A sua carreira musical começou no ensino, estudando na Escola de Música Militar de Bückeburg durante a II Guerra e lançando-se profissionalmente já na década de 1960. Nascia então, em 1964, a banda James Last and His Orchestra, uma big band que, como detalha a BBC, era composta por uma secção adicional de cordas e também por um coro. A secção rítmica, por seu turno, era organizada como se de um grupo rock se tratasse.
A acessibilidade das composições de Last tornaram a orquestra um êxito – era uma música feel good, descreve o Die Welt, em que a pop mais casual se enquadrava no formato das big band. A sua paixão era essa mesma: adaptar os êxitos da pop aos arranjos das big band, como detalha a BBC. Mas entre os seus álbuns temáticos também se contam aqueles dedicados a Bach, Vivaldi ou Andrew Lloyd Webber, a par dos focados no som da Motown ou do metal dos Hawkwind, por exemplo. “As pessoas conhecem o que James Last está a tocar. É esse o estilo”, disse em 1973 ao jornal musical NME, citado agora pelo Guardian, sobre o segredo do sucesso da big band que viria a ser conhecida apenas pelo seu nome – o reconhecimento.
O músico, cuja saúde se deteriorara em 2014 na sequência de uma cirurgia de urgência após uma complicação inflamatória intestinal, voltaria ainda assim a actuar aos 85 anos, apresentando-se no Royal Albert Hall em Março para os seus 89.º e 90.º concertos na importante sala de concertos britânica. Na altura, relata a BBC, mostrava-se relutante em considerar esses concertos uma despedida. “O principal é que os meus fãs tenham os melhores concertos das suas vidas”, disse em Fevereiro à estação pública britânica. “Vamos fazer deste o nosso concerto ‘mais feliz’.”
Nessa digressão intitulada Non Stop Music actuou mais de 20 vezes, tendo comemorado o seu último aniversário em palco na cidade de Leipzig.