Textos e apontamentos do “cineasta-teórico” Manoel de Oliveira reunidos em livro

Este é o primeiro volume de uma colecção que a Casa do Cinema Manoel de Oliveira publica para divulgar documentos e apontamentos, alguns inéditos, do “extensíssimo acervo” do cineasta. O livro é lançado esta quarta-feira, com Maria do Rosário Lupi Bello e Jorge Leitão Ramos à conversa com António Preto.

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Casa do Cinema Manoel de Oliveira Adriano Miranda

Anotações, discursos, cartas e aforismos do realizador Manoel de Oliveira foram reunidos num livro, intitulado Ditos e Escritos, que sintetiza o “pensamento cinematográfico” de um “cineasta-teórico” do século XX.

Ditos e Escritos, esta quarta-feira lançado no Porto, é o primeiro volume de uma colecção que a Casa do Cinema Manoel de Oliveira publica para divulgar documentos e apontamentos, alguns inéditos, do “extensíssimo acervo” do cineasta, que morreu em 2015, aos 106 anos.

“Os textos aqui reunidos abrem pistas sobre a interacção entre a realização dos filmes e a elaboração teórica”, escreveu o investigador António Preto, director da Casa do Cinema, no prefácio ao livro.

A obra, com quase 300 páginas, apresenta um diversificado conjunto de textos que cobrem todo o percurso do realizador. Os mais antigos remontam aos anos 1930, quando estreou Douro, Faina Fluvial, e os mais recentes são de 2014, contemporâneos do último filme, O Velho do Restelo.

António Preto recorda que Manoel de Oliveira assistiu “tanto à estreia de Chaplin quanto à generalização do cinema digital, o que equivale a dizer que acompanhou e tomou activamente parte das sucessivas transformações técnicas e estéticas que moldaram os rumos do cinema ao longo dos séculos XX e XXI”.

De 1986 são recuperados dois poemas, ambos centrados na relação do realizador com o cinema, e foram ainda digitalizados alguns postais, escritos à mão. A eles junta-se uma página de jornal, de 1998, coberta de apontamentos.

No livro, é explicado que Manoel de Oliveira tinha por hábito escrever observações, tomar apontamentos em qualquer papel que estivesse à mão, fossem cadernos, folhas soltas, páginas de jornais ou “uma aba de envelope”, e que versavam sobre temas constantes: “A vida e a verdade, a realidade e o realismo, a originalidade e a cópia, a arte e o artista, o consciente e o inconsciente”.

Há ainda curtos ensaios sobre o cinema português, sobre a relação entre cinema e literatura, e sobre políticas de apoio ao sector.

Entre as primeiras anotações apresentadas em Ditos e Escritos, embora sem data, surge este pensamento de Manoel de Oliveira: “Um bom realizador pode desejar, mas não pode nem deve obrigar o espectador a gostar dos seus filmes. Por seu lado, o realizador só deve construir os filmes que ele goste de realizar”.

Segundo António Preto, os textos que Manoel de Oliveira escreveu sobre cada um dos seus filmes serão coligidos noutro volume.

No prefácio, o investigador refere ainda o “minucioso trabalho de organização e edição” para entrar na “vastíssima correspondência que Manoel de Oliveira manteve com algumas das figuras mais destacadas da cultura portuguesa e internacional do seu tempo”.

O lançamento de Ditos e Escritos está marcado para esta quarta-feira, às 19h, na Casa do Cinema, na Fundação de Serralves, no Porto, com participação de António Preto, da especialista em estudos fílmicos Maria do Rosário Lupi Belo e do crítico de cinema Jorge Leitão Ramos.

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