A importância da orelha de porco e do pernil fumados no espetanço “tuga”

Crónica "Passe de Letra", outra forma de olhar para o Mundial de futebol.

Com as mil e uma razões para o espetanço da selecção portuguesa no Mundial do Brasil ainda nas bocas do mundo, há um ponto que está a ser desprezado pelos analistas. A lista. Não a lista dos convocados, que essa já se viu que não interessa nada, mas a lista de víveres que a acompanhou os nossos rapazes até terras de Vera de Cruz e que a FPF fez questão de revelar assim que chegou àquelas húmidas e quentes paragens.

Após uma cuidada análise, são vários os problemas detectados. Comecemos pela orelha de porco fumada e pelo pernil de porco fumado. Foi pouco.

A selecção vai apontada para estar um mês do Brasil e leva apenas 10 quilos de orelha e outro tanto de pernil? Não dá nem 500 gramas por jogador. Levam 200 quilos de bacalhau do graúdo que, como dizem os portugueses, não puxa carroça, e orelha e pernil vão apenas 20 míseros quilos?

Os alemães, que correm que se fartam e não há calor nem humidade que os abata, comem o quê? Pastelinhos de bacalhau? Não, meus amigos: comem Eisbein (joelho de porco) e como se não houvesse amanhã. Insistam no bacalhau com natas no Europeu e não há renovação que valha aos nossos rapazes.

Já a secção de enchidos foi mais composta: 20 quilos de chouriço de carne; 15 de salpicão; 12 de alheiras a que se juntaram dois presuntos. Nota-se, porém, uma falha grave neste capítulo: não há qualquer referência ao porco preto. Quer dizer, levaram quase 50 quilos de chouriças e nenhuma com carne do animal criado nas tórridas planícies alentejanas. Não daria esta carne outra resistência ao calor aos nossos jogadores do que a de um qualquer porco branco criado a ração?

Dirão os responsáveis da FPF que não pensaram nisso. Mas pensaram nos 36 pacotes de massa pevide, nos 20 quilos de grão-de-bico seco e nos 12 quilos de feijão encarnado igualmente seco. Seca como um bacalhau já estava a equipa. Era preciso levar tanta coisa seca?

E por que diabo acartaram com 80 quilos de polvo? Não chegavam os 200 quilos de bacalhau? Terá para justificar os 60 quilos de arroz carolino? Esta história cheira mal.

Para o queijo também não houve falta de lembrança: 12 queijos Serra da Estrela; 12 quilos de queijo da ilha de São Jorge e 12 bolas de queijo açoriano ou limiano tipo flamengo. Mas os jogadores treinavam com o queijo limiano em vez de treinarem com as brazucas (as bolas, claro)? Empanturraram os jogadores com queijo porquê? Para esquecerem que o Paulo Bento era treinador?

E em nome de quem levaram na alcova 12 quilos de marmelada de Odivelas e três litros de mel de urze? Marmelada de Odivelas? Mel de urze? É disto que se fazem homens? “O menino quer marmelada de Odivelas?” Mas aquilo era uma selecção ou um jardim infantil?

Os portugueses a alambazarem-se com toneladas de caracóis e de sardinhas assadas a ver as derrotas da selecção e os meninos no Brasil a colherzinhas de mel de urze e quadradinhos de marmelada, e ainda por cima suburbana. 

Gente irresponsável. Não havia aquilo de correr mal. Não olhem com atenção para a lista compras do Europeu de França e terão outra linda surpresa. Se não mudarem os responsáveis, sou capaz de jurar que ainda acartam com um contentor de croissants para França.

De gente que ignora a importância do pernil e da orelha de porco fumada espera-se tudo.

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