Depois de anos a ver futebol na televisão as mulheres sauditas foram ao estádio

Pela primeira vez houve público feminino nas bancadas de um jogo de futebol profissional na Arábia Saudita.

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O jogo entre Al-Ahli e Al-Batin, do campeonato da Arábia Saudita, será recordado para sempre. Não por causa do resultado – nem, na verdade, por nada que se tenha passado no relvado. Esta foi a primeira partida na história à qual as mulheres sauditas foram autorizadas a assistir no estádio, no seguimento de uma decisão anunciada em Outubro de 2017 pela Autoridade Geral dos Desportos e impulsionada pelo príncipe herdeiro Mohammad bin Salman.

“Mulheres sauditas estão a entrar em estádios de futebol! Não se trata apenas de direitos das mulheres: o jogo entre Al-Ahli e Al-Batin, e os que se vão seguir, são oportunidades para as famílias se juntarem e desfrutarem do desporto nacional na Arábia Saudita – futebol! Estou a torcer pelas mulheres”, escreveu a porta-voz da embaixada da Arábia Saudita nos EUA, Fatimah S Baeshen, na rede social Twitter.

A poucos meses de a Arábia Saudita disputar a fase final do Campeonato do Mundo (será a quinta participação, e a primeira desde 2006) – a selecção saudita vai mesmo defrontar a anfitriã Rússia no jogo de abertura do torneio – as adeptas de futebol no reino saudita tiveram motivos para comemorar. O acesso a três estádios seleccionados marca um avanço, ainda que tímido, em relação a algumas restrições que subsistem na sociedade saudita. Também em 2017, as mulheres da Arábia Saudita tinham ficado a saber que a partir de Junho poderão conduzir automóveis (e também motas e camiões). Aliás, enquanto em Jeddah as pioneiras se dirigiam ao Estádio Rei Abdullah para assistir ao Al-Ahli-Al-Batin, na mesma cidade abria portas o primeiro salão automóvel destinado exclusivamente ao público feminino.

Será em Riad que hoje decorre a segunda partida da história da Arábia Saudita com presença de mulheres nas bancadas – e logo um derby entre Al-Hilal e Al-Ittihad, também conhecido como “El Clásico” saudita, no Estádio Internacional Rei Fahad. O Estádio Príncipe Mohammed bin Fahd, em Dammam, é o terceiro recinto escolhido pela Autoridade Geral dos Desportos (GSA na sigla inglesa) para este período experimental. “Faremos um processo de avaliação, estudaremos os aspectos positivos e negativos”, prometeu o subsecretário da GSA. No site oficial do mesmo organismo lia-se que “numa segunda fase [a disponibilidade de lugares para mulheres] será alargada a outros estádios, no início da próxima época desportiva”.

O acesso de mulheres aos estádios implicou alterações estruturais. “Esta mudança fez surgir sectores designados como ‘familiares’ nas bancadas para mulheres, separados por barreiras da assistência masculina. Os estádios também foram equipados com zonas femininas para oração, lavabos e zonas de fumo, assim como entradas segregadas e parques de estacionamento para as mulheres espectadoras”, lia-se no portal Arab News.

Apesar de algumas reacções críticas, a presença de mulheres nos estádios sauditas era aguardada há muito tempo e com grande entusiasmo. “Não sei como descrever o que sinto. Já esperava desde 2010, quando me tornei adepta, e será um prazer ir ao jogo da minha equipa favorita”, admitiu Ghadah Grrah, uma jovem adepta, ao diário britânico The Guardian. “Cresci numa família louca por futebol. Estávamos impedidas de mostrar o nosso apoio como os homens o fazem, mas podíamos vestir as cores do nosso clube e mostrar a nossa paixão”, sublinhou Dahlia T Rahimy à Deutsche Welle, acrescentando: “As expectativas são modestas na Arábia Saudita. Tínhamos esperança numa ligeira mudança, não podíamos sonhar com isto. É muito mais do que pedíamos.”

O passo dado pela Arábia Saudita deixa outro país cuja selecção se qualificou para o Mundial 2018 isolado na proibição da entrada de mulheres nos estádios – o Irão impede desde 1979 o público feminino de estar presente nas bancadas, apesar de os protestos serem cada vez mais intensos. Em Setembro um grupo de mulheres tentou entrar no estádio em Teerão onde se disputaria o Irão-Síria de apuramento para o Campeonato do Mundo, tendo sido impedido (embora as mulheres sírias tenham sido autorizadas). O inconformismo tem levado mulheres iranianas a disfarçarem-se para conseguirem entrar em recintos desportivos, uma realidade retratada por Jafar Panahi no filme “Offside”, distinguido com o Urso de prata no festival de Berlim, em 2006, mas proibido no Irão.

Num dia histórico em Jeddah, o resultado era o que menos interessava. Mas o primeiro jogo na Arábia Saudita com a presença de mulheres nas bancadas terminou com uma goleada do Al-Ahli ao Al-Batin (5-0).

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos. Ouça também o podcast

Notícia corrigida às 16h11 de dia 15. A primeira partida com presença de público feminino realizou-se em Jeddah e não em Riad, como originalmente se escrevia.

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