Atalanta, símbolo de esperança

O primeiro jogo dos quartos-de-final da Liga dos Campeões será um sinal de esperança para Bérgamo e para o seu povo, e um sinal de afirmação de um país, o nosso, que nunca se rendeu.

Em plena crise sanitária e perante um coro de críticas, o Governo português assumiu o risco e trouxe para Portugal a inédita fase final da Liga dos Campeões. Nesta quarta-feira, tem início esta competição, num modelo único e esperemos que irrepetível, e teremos um planeta inteiro a acompanhar estes sete jogos em Lisboa. A capa do jornal desportivo de referência L’Équipe ilustra bem como o nosso país se vai promover nos próximos dias.

O destino tem destas coisas e, no primeiro jogo destes quartos-de-final, o Estádio da Luz vai receber os italianos da Atalanta, de Bérgamo, uma das cidades mais fustigadas pela covid-19 e localizada na Lombardia, região que viveu períodos de profundo desespero. É certo que muitos defenderam que a Atalanta não devia ter voltado a jogar, mas não o fazer seria recuar, seria aceitar a fatalidade, algo que ninguém fez naquela região italiana nos períodos mais negros.

Quando entrarem em campo nesta quarta-feira, no Estádio da Luz, capitaneados pelo pequeno génio Papu Gomez, os jogadores da Atalanta irão ter a honra de carregar a memória de todos aqueles que partiram e de todos aqueles que combateram nos hospitais pela vida dos seus concidadãos.

Este clube centenário tem no seu palmarés apenas uma Taça de Itália, na remota época 1962-63, e surge em Lisboa como verdadeiro David que vai defrontar um dos Golias desta fase, os franceses do Paris Saint-Germain. Talvez seja por via desse estatuto de “underdog” que a Atalanta entrará em campo com toda uma Itália consigo. 

Esta equipa de Gian Piero Gasperini, que tem apaixonado os adeptos do futebol, recorda-nos a selecção brasileira que brilhou no Espanha 82 ou a dinamarquesa no México 86. Verdadeiras máquinas de puro futebol ofensivo.

Nenhuma delas venceu os respectivos Mundiais em que participou, mas ambas têm o seu lugar na história. E esse lugar já está garantido para esta Atalanta. Pessoalmente, é uma honra ter esta equipa em Lisboa, por tudo o que ela simboliza neste momento das nossas vidas.

Portugal também vai hoje a jogo, com o peso de muitas mortes devido à pandemia, mas com números carregados de esperança, fruto de um esforço colectivo que nos deve orgulhar, dando uma resposta clara a uma Europa cada vez menos unida.

O primeiro jogo dos quartos-de-final da Liga dos Campeões será, por isso, um sinal de esperança para Bérgamo e para o seu povo, e um sinal de afirmação de um país, o nosso, que nunca se rendeu.

Nunca as palavras do hino da Atalanta fizeram tanto sentido: “Dea, magica Dea, fai sognare questa tua città.”

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