Carlos Xavier: “Jogar contra Maradona era fácil! Ele passava por nós, nem dava para o parar”

Carlos Xavier, antigo jogador do Sporting e da Real Sociedad, encontrou o argentino nos relvados por quatro vezes e guardou duas camisolas. “Era um Deus, pronto”, diz ao PÚBLICO.

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Carlos Xavier contra Maradona em Espanha DR

Com o símbolo da Real Sociedad ao peito, um jovem Carlos Xavier prepara-se para dominar um passe de um colega de equipa. À sua frente tem Diego Simeone, à época jogador do Sevilha e actual técnico do Atlético de Madrid. Nas costas, a olhar com expectativa para o desenrolar da jogada, o ídolo Diego Armando Maradona, que morreu nesta quarta-feira na sequência de uma paragem cardiorrespiratória.

Um futebolista irrepetível. Comentário de Nuno Sousa, editor de Desporto do PÚBLICO

Carlos Xavier encontrou-se por quatro vezes nos relvados com o ídolo, guardando duas camisolas como autênticos tesouros. Para muitos, a noite que antecedia uma partida frente ao número 10 era passada em branco. Ao PÚBLICO, o ex-internacional português ironiza: “Jogar contra o Maradona era muito fácil! Ele passava por nós com tanta facilidade que nem havia forma de o parar. Naquela altura – onde a canela ia até ao pescoço –, era muito mais difícil, mas ele conseguia sempre superar e mesmo levando boas ‘trancadas’ não caía. Era impressionante.”

O sucesso de Maradona nos anos 1980 e 90 era incomparável. Tornou-se uma lenda na Argentina, pelo Campeonato do Mundo conquistado pelo país da América do Sul. Em Buenos Aires, era idolatrado pela passagem no Boca Juniors. E em Itália levou o Nápoles à conquista do campeonato. Carlos Xavier considera que o argentino tinha a capacidade de transformar sozinho todo um clube.

A celebrar o golo da vitória contra a Inglaterra nos quartos de final do Mundial de 1986, no México Ted Blackbrow/Reuters
A mão de Deus: Maradona marca golo com a mão frente à Inglaterra nos quartos de final de 86 Allsport/Getty Images
A celebrar a vitória do Boca Juniors contra o River Plate, os clubes mais populares na Argentina, em Outubro de 1997 ENRIQUE MARCARIAN/Reuters
No jogo dos Boca Juniors, que marcou o seu regresso ao futebol, contra os Newell's Old Boys em Julho de 1997 Alfredo Celoria/Reuters
Diego Maradona. Argentina, 1981 Duncan Raban/Allsport/Getty Images
Cannes, Maio de 2008 ERIC GAILLARD/Reuters
Janeiro de 2009 Alejandro Rustom/Reuters
Diego Maradona a celebrar um golo da Argentina contra o Canadá MARCOS BRINDICCI/Reuters
Janeiro de 1987, Itália Alessandro Sabattini/Getty Images
Cannes, Maio 2008 ERIC GAILLARD/Reuters
Maradona após marcar o terceiro golo da Argentina contra a Grécia. Mundial de 1994 Mike Blake / Reuters,Mike Blake / Reuters
Diego Maradona. Argentina, 1985 David Cannon/Allsport/Getty Images/Hulton Archive,David Cannon/Allsport/Getty Images/Hulton Archive
Num jogo de boxe, Abril de 1996 ENRIQUE MARCARIAN/ Reuters
Bola de Ouro. Janeiro de 1995 John Schults/Reuters
Nos quartos de final do Mundial de 86, jogo contra a Inglaterra Reuters
Jogo contra a Coreia do Sul, no Mundial de 86 Gary Hershorn/Reuters
Diego festeja o golo de Jorge Burruchaga que ditou a vitória da Argentina do Mundial de 1986
A beijar a taça do Mundia de 1986 CIRO FUSCO/ EPA
A segurar a taça do Mundial de 86 depois da vitória da Argentina contra a Alemanha por 3-2 Gary Hershorn/Reuters ,Gary Hershorn/Reuters
A celebrar a conquista da Copa América contra os Mexico's Pumas Unam. Dezembro de 1985 Martin Zabala/Epa
Em 2003, durante uma entrevista na China CHINA SOCCER WEEKLY
Com Hugo Chávez em Caracas, Julho 2010
Em Fevereiro de 2006 Marcos Brindicci/Reuters
Na cerimónia dos prémios FIFA em 2017 WALTER BIERI/EPA
A exibir as suas habilidades após o jogo dos Boca contra o Ajax. Julho de 2005 OLAF KRAAK/EPA
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A celebrar o golo da vitória contra a Inglaterra nos quartos de final do Mundial de 1986, no México Ted Blackbrow/Reuters

Ele era adorado porque, com um pé, fazia o que os restantes jogadores não faziam com os dois. A diferença era essa, a técnica, habilidade e execução. No Mundial de 1986 foi ele que levou a Argentina ao título. Chegou ao Nápoles e ninguém dava nada por eles, mas a verdade é que pôs o clube no topo do mundo, com dois campeonatos seguidos. O Nápoles é conhecido hoje à custa do Maradona”, explica o jogador.

Das quatro ocasiões em que defrontou Maradona, saiu apenas com uma vitória em carteira, na partida entre a Real Sociedad e o Sevilha em casa dos primeiros. No Sporting, Carlos Xavier empatou ambas as partidas “a zero” contra os italianos do Nápoles, com os “leões” a serem eliminados no desempate por grandes penalidades e a ficarem pelo caminho na Taça UEFA. Dessa eliminatória, o antigo jogador relembra o carinho das bancadas do Estádio de Alvalade para com o astro argentino.

“Nesse jogo, ficou no banco de suplentes. Já estava a passar por um momento difícil na sua vida. Mas os adeptos do Sporting tanto chamaram por ele que lá teve de entrar. Era um Deus, pronto”, resume. A luta com as dependências acelerou “o dia de hoje”, lamenta Carlos Xavier, considerando que o sucesso de Maradona poderia ter sido ainda maior – e prolongado. 

Após a carreira de jogador, Maradona transitou para o papel de treinador. Chegaria ao banco da selecção argentina, liderando o país no Mundial de 2010, na África do Sul. Na sua equipa estava Lionel Messi, considerado por muitos como o sucessor de Maradona.

Apesar de o palmarés de clubes da “pulga” no Barcelona ser invejável, a verdade é que nunca conseguiu a glória internacional que Maradona alcançou. Carlos Xavier traça logo uma diferença na vertente física entre os dois argentinos. “Fisicamente, o Maradona era muito forte. Aguentava com muita coisa e estamos a falar de um tempo em que para o árbitro dar um cartão amarelo era quase preciso arrancar uma perna”, afirma. O facto de ter tido sucesso em múltiplos clubes e países é outra diferença entre Maradona e Messi, fazendo referência ao facto de o segundo ter preferido a estabilidade no Barcelona, longos anos com os mesmos colegas de equipa. 

Mas será Maradona o melhor jogador de todos os tempos? Carlos Xavier aconselha cautela nesta avaliação. “Não vejo as coisas dessa forma. Para mim, o melhor jogador de sempre é o Ronaldo, pelo que ganhou e conquistou. Comparo os jogadores por época. Na minha era o Maradona, agora é o Ronaldo. É difícil comparar”, finaliza. 

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