A noite em que o Benfica sobreviveu ao “terror”

Os “encarnados” tiveram pela frente Messi, Neymar e Mbappé, mas “acenderam a Luz” numa noite que se esperava ser de “escuridão”. Vlachodimos salvou o Benfica várias vezes, mas Donnarumma também foi essencial a tirar golos à equipa portuguesa.

Foto
Benfica e PSG em duelo na Luz LUSA/TIAGO PETINGA

Na antevisão deste jogo escreveu-se que o PSG é um dos “papões” do futebol mundial e que ao receber esta equipa para a Liga dos Campeões o Benfica correria o risco de ter pela frente uma noite de “escuridão”, tal era a probabilidade de enfrentar o terror em forma de sigla, com a sociedade MNM – Messi, Neymar e Mbappé. A constatação das altas probabilidades de insucesso não era especialmente audaz e arriscada, mas quem a fez terá, em bom português, de “colocar a viola no saco”. O Benfica sobreviveu nesta quarta-feira ao “terror” que é o PSG e arrancou da partida da Champions um empate (1-1) frente ao campeão gaulês.

Com este resultado, os “encarnados” e os franceses continuam a dividir a liderança do grupo, com sete pontos, quatro à frente da Juventus e com sete a mais do que o Maccabi. Tal equivale a dizer que até o pior cenário da próxima jornada (derrota do Benfica em Paris e triunfo da Juventus com o Maccabi) permitirá à equipa portuguesa seguir em frente com “apenas” um empate em casa frente aos italianos e um esperado triunfo frente aos israelitas.

Neste jogo, o Benfica sai com a sensação de que poderia ter sido “atropelado” na segunda parte, quando viveu o tal “terror”, mas o maior elogio que se pode fazer ao mérito “encarnado” é que, antes disso, já Donnarumma tinha impedido o Benfica de ser feliz mais do que uma vez.

Benfica audaz

A primeira parte teve contornos interessantes. Esperava-se que o PSG monopolizasse a bola e o Benfica estivesse muito tempo a correr e pouco a jogar, mas até nem foi bem isso que se viu na Luz.

O PSG não tinha uma saída a três, como grande parte das equipas que jogam com três centrais, e fazia avançar Marquinhos para uma posição mais adiantada. Nessa medida, o Benfica tinha, em parte, a missão facilitada: havia referências de pressão mais claras, já que o PSG funcionava, em construção, mais como um 4x3x3 do que como um 3x4x3.

Foi isso que permitiu a Rafa e Gonçalo Ramos “apertarem” Ramos e Danilo com uma eficácia bastante interessante – houve quase bola recuperada logo no primeiro minuto, além de mais um par de lances com dificuldades para o PSG sair.

O Benfica estava até a ser capaz de ter mais bola, fruto da recuperação em zonas altas – Otamendi destacou-se com três cortes em antecipação em 17 minutos. E nesta fase havia claramente mais Benfica. Aos 8’, os “encarnados” atraíram o PSG à pressão alta e, com espaço para explorar na profundidade, Ramos apanhou um passe longo de António Silva para permitir, isolado, a defesa a Donnarumma. Aos 14’, nova recuperação alta do Benfica deu mais um remate de Ramos – e também a defesa de Donnarumma foi algo já visto.

Aos 18’, o Benfica conseguiu pela primeira vez activar Rafa entre linhas e o português soltou Neres, que permitiu nova defesa a Donnarumma – estava a ser o homem do jogo, o que diz bem daquilo que se passava na Luz.

Um dia, Jorge Jesus ficou famoso por dizer “isto é a Champions”, pretendendo ilustrar que, nesta prova, o mínimo erro pode ter consequências relevantes. O ensinamento do ex-treinador do Benfica verificou-se aos 22’.

Até então quase sem conseguir jogar, o PSG soube atrair Grimaldo e Enzo ao corredor direito e, batida a pressão, Messi chamou o apoio frontal de Mbappé, que entregou a Neymar. O brasileiro viu Messi a chegar e assistiu o argentino para um remate em arco, na passada – foi, em suma, um golo “à Messi”.

A partir daqui o PSG tomou conta do jogo. Ou melhor: Verrati e Vitinha tomaram conta do jogo. A dupla de médios entrou ao serviço e permitiu ao PSG longas posses de bola que esfriaram o jogo.

O Benfica deixou de conseguir ligar o jogo com os criativos, pelo que a via que encontrou para atacar foi outra, mais directa. Aos 37’, António Silva permitiu (mais uma) defesa a Donnarumma e aos 41’ um cruzamento de Enzo motivou auto-golo de Danilo.

Este golo dava justiça ao resultado, já que, mesmo com menos bola, tinha sido o Benfica a equipa mais perigosa em campo.

Vlachodimos destacou-se

Na segunda parte o jogo voltou a ser do PSG. A equipa de Galtier decidiu que queria terminar rapidamente com este jogo, o que significa, de forma simples, que se prestou a futebol ofensivo, mais passes verticais e muito maior dinâmica.

Com posses de bola longas, mas sempre à procura de espaços entre linhas, a equipa francesa obrigou o Benfica a permanente trabalho sem bola, com especial labor pela variedade de soluções do PSG.

A equipa gaulesa alternava saídas pela esquerda, com Mendes, pela direita, com Hakimi, pela meia-esquerda, com Neymar, ou pela meia-direita, com Messi. Só faltava mesmo um par de lances de Mbappé na profundidade para ser um “assalto” total à baliza de Vlachodimos.

Paciente até encontrar espaço, o PSG conseguia sempre encontrar alguém do Benfica atrasado no controlo do espaço e os “buracos” iam aparecendo – e os remates também.

Houve dupla oportunidade aos 49’, com Hakimi (defesa de Vlachodimos) e Neymar (rematou à trave), novamente Hakimi aos 51’ (outra defesa de Vlachodimos) e aos 63’ também com Hakimi e outra vez com defesa do guardião – a terceira no duelo directo com o ala marroquino. Pelo meio, também Neymar testou duas vezes as mãos do guarda-redes grego, que estava a colocar-se a par (ou até acima) de Donnarumma nos predicados exibidos neste jogo.

Com o PSG perto do golo, o Benfica “pedia” qualquer coisa vinda do banco, até porque o atraso a chegar à zona da bola iria repetir-se – quanto mais não fosse pelo acumular do desgaste físico, cuja primeira implicação é precisamente a demora no deslocamento sem bola.

De Roger Schmidt só se ouviu notícia aos 77’, quando o técnico lançou Aursnes e Draxler para os lugares de Enzo e Ramos – o argentino talvez por já ter amarelo e ser necessária mais vivacidade sem bola e o português para permitir ao Benfica ter um ataque mais capaz de explorar transições, como a que deu, aos 81’, uma oportunidade de golo flagrante inventada por Rafa, salva por Donnarumma.

Esta era uma fase do jogo em que mais do que cambiantes tácticas havia, sobretudo, interesse mútuo no que o marcador mostrava. O PSG pareceu desistir daquilo que tanto tentou e dar-se por feliz por ainda ter um jogo com o Benfica em Paris, já que até apanhou um susto no tal lance de Rafa.

Sugerir correcção
Ler 37 comentários