Perguntinha para Bruno (e outra para os políticos)

O Sporting fechou a época em lágrimas. Hoje, começa a pré-época mais dolorosa da sua história.

O Sporting fechou a época em lágrimas. Hoje, começa a pré-época mais dolorosa da sua história.

Dolorosa porque se arrisca a começar com uma sangria. Depois da derrota com o Atlético de Madrid, Bruno de Carvalho quis pôr um processo à sua equipa. Agora, depois de todo este abismo, arrisca-se a ver toda ela a sair. Para além da qualidade, o clube pode perder milhões, no somatório do valor de cada um daqueles jogadores.

De saída deve estar também o treinador. Depois de três meses em que Jesus foi deixado na cruz, sozinho contra a fúria dos “ultras”, até os sete milhões de indemnização parecem curtos face à perda do único líder no clube que conseguiu acabar de pé uma época traumatizante.

A primeira pergunta para Bruno de Carvalho podia, assim, ser esta: quem é que aceita ir para o Sporting na próxima época? Ou, se quiser, que treinador e jogadores é que aceitam jogar num clube onde o seu presidente os atira aos leões nos piores momentos?

A segunda questão podia ser sobre o valor e a marca do Sporting: Bruno de Carvalho ficou sozinho e sem dinheiro. Ficou sem moral para construir uma equipa, sem os milhões da Champions que às vezes disfarçam vazios, sem o apoio dos investidores que tinha reunido à sua volta. E, pior, com uma investigação judicial pendente sobre a sua equipa. Assim, como tenciona o presidente relançar a sua presidência?

Na lista de perguntas, podiam juntar-se estas: terminada a época assim, quantos sócios já deixaram o clube? Quantos adeptos irão ao próximo treino? O que é que resta da marca Sporting?

Ontem, Bruno de Carvalho fugiu do último jogo da época. Hoje arrisca-se a ir para um estádio sem ninguém – a não ser os historiadores do desporto, que terão muito para registar nos livros de amanhã. Se não acha que é um líder sozinho e ainda tem amor pelo clube, a pergunta certa pode não ser se se demite, mas seguramente se convoca eleições e mede o apoio dos sócios. Ou achará Bruno que pode seguir em frente também sem eles?

P.S. Depois desta crise no Sporting, ao ponto em que a situação no futebol chegou, é bom que os poderes políticos pensem no que escreveu ontem Miguel Poiares Maduro, aqui no PÚBLICO: o mundo do futebol nunca mais pode ser mais um mundo à parte, um cartel sem fiscalização. O problema não é Bruno de Carvalho, é tudo o que aconteceu até que isto chegasse aqui. O pior que podia acontecer era o mundo político fingir que, com uma saída dele, a crise estaria resolvida.

 
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