A grande vitória da equipa possível

A estreia portuguesa nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro não podia ter corrido melhor. Triunfo por 2-0 sobre a Argentina no torneio olímpico de futebol.

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Gonçalo Paciência marcou o primeiro golo de Portugal contra a Argentina nos Jogos LEONHARD FOEGER/Reuters

É quase impossível falar desta selecção portuguesa e não falar dos problemas que Rui Jorge teve a construí-la. A cada telefonema que recebia, a cada lesão que se manifestava (e ambas as coisas aconteceram quase até ao momento em que estava a despachar a bagagem na partida para o Rio de Janeiro), o seleccionador olímpico lá tinha de voltar a repensar estratégias, a desenhar novos planos. Esta “equipa possível”, como o próprio Rui Jorge a qualificou, foram os primeiros portugueses a entrar em acção nos Jogos da XXXI Olimpíada e a estreia não podia ter sido melhor, com um triunfo por 2-0 no “Engenhão” sobre a Argentina, em jogo da primeira jornada do Grupo D.

Falar de futebol masculino nos Jogos Olímpicos (o feminino é diferente, para melhor) é falar de selecções que não podem apresentar os seus melhores jogadores. Isto é verdade para todas as selecções, mas mais revelante para as selecções europeias por motivos de calendário e, assim, Rui Jorge nunca teria Cristiano Ronaldo, e Julio Olarticochea nunca teria Lionel Messi. Mas não deixava de ser um jogo de grande cartaz para este arranque de futebol olímpico, entre uma selecção que tem palmarés na prova (duas vezes campeã olímpica, uma vez com Messi, a outra com Tévez) e outra que nunca teve grande sucesso no palco olímpico, mas que, só a sua presença, a torna numa candidata às medalhas.

Sem tempo para grandes consolidações tácticas, Rui Jorge construiu o seu “onze” para rápido e voluntarioso, dando até alguma liberdade para os jogadores tentarem a jogada individual e criar desequilíbrios no contra-ataque. Em toda a equipa, as duas palavras-chave eram mobilidade e velocidade. Nada de grandes trocas de bola no meio-campo. Assim que a bola fosse conquistada, chegava rapidamente a um dos três mais avançados, Bruno Fernandes, Gonçalo Paciência e Salvador Agra, na esperança de apanhar a equipa sul-americana distraída. Esteve quase a acontecer logo aos 3’ em que Bruno Fernandes consegue bater o guarda-redes Geronimo Rulli após excelente combinação com Paciência. Mas o árbitro guatelmateco Walter Lopez entendeu que o médio da Udinese estava fora-de-jogo.

Foi um bom início de jogo para a selecção portuguesa, com boa circulação de bola e boa distribuição para os flancos, em que os laterais Esgaio e Fernando acrescentavam outra profundidade ao ataque. A Argentina equilibrou ao fim dos primeiros minutos e esteve bem perto do golo aos 4’, com um remate de José Luis Gomes que bateu na malha lateral da baliza de Bruno Varela, após passar por Esgaio. Portugal manteve-se fiel ao seu estilo, de contra-ataque, quase em “freestyle”, mas agora com outro perigo criado pelo adversário.

Paciência atirou por cima aos 27’, numa grande jogada de Esgaio pela esquerda, mas foi a Argentina que acabou a dominar, com vários jogadas de muito perigo que a defesa portuguesa rechaçou com dificuldade. Um contra-ataque conduzido e concluído por Gomez e uma jogada perigosa de Cuesta anulada no limite por Tobias colocaram o nulo em perigo na primeira parte.

A segunda parte quase que abriu com o golo da Argentina. Calleri surgiu na cara de Varela, o guarda-redes português hesitou entre ficar entre os postes ou atacar o adversário e, neste intervalo, o ponta-de-lança do São Paulo atirou à trave. Os argentinos voltavam a estar por cima, mas esta foi a sua melhor oportunidade para desfazer o nulo.

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Aos 66’, numa jogada típica da selecção portuguesa, Bruno Fernandes avançou pelo flanco e tentou o cruzamento. A bola não saiu limpa, mas foi ter aos pés de Gonçalo Paciência, que, de fora da área, fez o 1-0. E deu perfeitamente para confirmar que a selecção portuguesa estava em casa, tal foram os festejos do público presente. E a festa repetiu-se aos 84’. Pité, recém-entrado, também tentou a sorte de fora da área. O remate não saiu muito forte e foi quase rasteiro, mas bateu na relva e o guarda-redes Rulli deixou-a passar por baixo das pernas. A vitória já não iria fugir a Portugal frente a um candidato às medalhas. 

No Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília, nem Neymar, em bom plano, nem o grande domínio da selecção “canarinha”, foram suficientes para o Brasil vencer na estreia. As quatro selecções do grupo A estão empatadas com um ponto, uma vez que, no outro jogo, Iraque e Dinamarca também empataram a zero. Foi um mau início para a selecção da casa, que procura conquistar um título que nunca conseguiu vencer. No grupo D, de Portugal, as Honduras bateram a Argélia por 3-2.

Portugal jogou com: Bruno Varela; Ricardo Esgaio, Tobias Figueiredo, Edgar Iê e Fernando Fonseca; Tomás Podstawski, André Martins (Tiago Silva, 76’), Sérgio Oliveira (Pité, 71’) e Bruno Fernandes; Gonçalo Paciência (Tiago Ilori, 81’) e Salvador Agra. Cartões amarelos para Tobias Figueiredo (32’), Sérgio Oliveira (71’).

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