Relatório confirma 2300 quilos de combustível a menos no avião da Chapecoense

Investigação permitiu concluir também que a aeronave entrou em emergência 40 minutos antes da queda.

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Reuters/FREDY BUILES

Foi divulgado nesta sexta-feira o essencial do relatório final sobre a queda do avião que transportava a equipa de futebol da Chapecoense e o cenário traçado inicialmente confirma-se: a aeronave voou com 2303 quilos de combustível abaixo do mínimo obrigatório. A entrada do aparelho em registo de emergência, de resto, deu-se 40 minutos antes do acidente que vitimou 71 pessoas, em 28 de Novembro de 2016.

Os cálculos realizados a partir da análise da caixa negra não deixam margem para dúvidas e ajudam a dar corpo às suspeitas já há muito levantadas. O British Aerospace 146 que fazia a ligação entre Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, e Rionegro, na Colômbia, não cumpriu as normas de segurança internacionais, que estipulam que um voo deve ter combustível suficiente não só para chegar ao aeroporto de destino, mas também para aterrar num aeroporto alternativo em caso de necessidade, e ainda mais 30 minutos de reserva.

Na prática, o mínimo que a aeronave da LaMia (voo 2933) deveria ter "carregado" naquele dia eram 11.603 quilos de combustível, e não os 9300 que de facto tinha nos depósitos. Uma diferença de 2303 quilos que acabaria por revelar-se fatal. Uma situação que, de acordo com a autoridade de aviação civil colombiana, é "inconcebível de acontecer".

Graças à análise aturada dos dados recuperados pelos investigadores, incluindo voz e informações do voo, foi possível concluir que o alerta foi dado à tripulação 40 minutos antes da queda, através de avisos sonoros e activação de luzes vermelhas na cabine, e que nenhuma medida foi tomada de imediato. A partir do momento em que o combustível se esgotou, os motores pararam e o avião acabou por planar até se despenhar em Cerro El Gordo, perto de Medellin, já na Colômbia.

O relatório, citado pela Globo, permitiu ainda apurar que os controladores aéreos de serviço desconheciam a "situação gravíssima" em que o avião se encontrava, que o contrato previa uma escala na rota mas que a empresa planeou um voo directo, que a LaMia atravessava sérias dificuldades financeiras e tinha salários em atraso, e que a companhia aérea sofria de desorganização administrativa.

Tudo isto concorreu para que o voo fretado pela equipa de futebol da Chapecoense tivesse terminado em tragédia, com 71 mortos e seis passageiros feridos, mas resgatados com vida. A bordo seguiam não só jogadores, equipa técnica e dirigentes do clube brasileiro, mas também jornalistas e convidados, que se preparavam para acompanhar a final da Taça Sul-Americana, com o Atlético Nacional como adversário.

O relatório preliminar elaborado em Dezembro de 2016 pela Aerocivil (Aeronáutica Civil da Colômbia) já mencionava muitos destes problemas, colocando sempre a tónica na má gestão do combustível. Fredy Bonilla, secretário de Segurança Aérea do organismo, revelou na altura que a autonomia da aeronave era de 4h22m, exactamente igual ao tempo de voo. "Devia ter 1h30m mais do que o tempo de voo", assinalou.

“Eles estavam conscientes de que o combustível que tinham não era adequado nem era suficiente”, detalhou Bonilla, acrescentando que o piloto, Miguel Quiroga, durante o voo “decidiu parar em Bogotá, mas mais adiante mudou de ideias e foi directo para Rionegro”.

Na linha do que foi apurado agora em relação ao comportamento da tripulação, o anterior documento já tinha detectado deficiências na gestão da comunicação, já que, quando o piloto pediu à torre de controlo do aeroporto José María Córdova permissão para aterrar, dois dos quatro motores do avião já não funcionavam. “Nesse ponto tinham dois motores desligados e a tripulação não fez nenhum relato da situação, que era crítica, e continuou a comunicar de forma normal”, apontou Bonilla.

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