Um português e um brasileiro quarentão na melhor defesa de França

Vitorino Hilton e Pedro Mendes fazem parte do núcleo defensivo do Montpellier, a única equipa que esta temporada deixou o PSG a zeros.

Foto
Pedro Mendes é indiscutível na melhor defesa da Ligue 1 JEAN-PAUL PELISSIER/REUTERS

É na Ligue 1 de França que mora um dos ataques mais potentes do futebol mundial. Os milhões dos Emiratos deram para juntar no PSG Neymar Jr, Edison Cavani e Kylian Mbappé, e quem tem este trio pode sonhar com futebol espectacular, golos e títulos. Em 30 jogos oficiais, a equipa parisiense leva 26 vitórias, dois empates e duas derrotas, com uma média superior a três golos por jogo – e algumas goleadas formidáveis, como os 8-0 ao Dijon, os 7-1 ao Celtic, mais três jogos em que marcou seis golos e quatro em que marcou cinco. Só em um desses 30 jogos é que o super-atacante PSG não conseguiu marcar. Foi contra o Montpellier, que tem a melhor defesa de França e uma das melhores da Europa, em parte graças a um entendimento luso-brasileiro.

No centro de uma defesa a cinco do Montpellier, estão português Pedro Mendes, central formado nas escolas do Sporting e com uma passagem breve pelo Real Madrid de Mourinho, e o super-veterano brasileiro de 40 anos Vitorino Hilton da Silva. Com eles na equipa, a equipa do sul de França tem apenas 14 golos sofridos em 21 jornadas, um registo defensivo melhor que o do PSG (15), do Marselha (22) ou do Mónaco (19), só para falarmos dos três primeiros. Claro que o registo ofensivo não é lá grande coisa, 18 golos marcados, que é o quarto pior entre as 20 equipas da Ligue 1.

Mas marcar golos não é o principal objectivo do actual oitavo classificado. “Começamos cada jogo com o objectivo principal de não sofrer golos. O que acontece depois disto, é um bónus”, dizia ao Le Figaro Ruben Aguilar, o lateral-direito de Montpellier de tracção atrás idealizado por Michel Der Zakarian, um arménio de nascimento que fez toda a sua vida desportiva (como jogador e treinador) em França, defesa do clube durante uma década e antigo treinador das camadas jovens do Montpellier que regressou esta época ao clube.

Depois de vários anos em pára-arranca desde que saiu da formação do Sporting, Pedro Mendes estabilizou no campeonato francês e está a obrigar Fernando Santos a pensar nele a curto médio prazo para uma posição que está a precisar de sucessão imediata e aos 27 anos está na idade certa para entrar. E está a aprender com o mestre Vitorino na posição. “É um líder, um exemplo para toda a gente. Gostava de ter a mesma carreira e ser para outros o exemplo que o Hilton é para nós”, dizia há tempos em conferência de imprensa.

Foram mais de duas décadas a construir uma reputação para este nativo de Brasília. Nos primeiros tempos de carreira, andou pelo futebol amador, sem nunca ter oportunidade nos clubes da sua cidade. Aterrou aos 19 anos na Chapecoense, mudou-se depois para o Paraná, da Série B, e, quando já tinha as malas feitas para ir para o México, o presidente disse-lhe que tinha uma coisa melhor no futebol europeu, o Servette. De época e meia na Suíça, foi para França, primeiro para o Bastia, depois para o Lens.

Em plena maturidade competitiva, Hilton foi para o Marselha aos 30 anos, e por lá ficou três temporadas, que terá sido a última grande fase do Marselha, um título (2010) e dois segundos lugares, mas a sua importância na equipa foi decrescendo com o passar dos anos. Didier Deschamps foi contando cada vez menos com ele e foi dado como acabado quando abandonou o Marselha. Não saiu apenas pela falta de oportunidades, mas também porque sofreu um assalto em casa com contornos violentos, em que ele e a família tiveram armas apontadas à cara.

Terá sido esta a principal razão para se mudar para a bem mais pacífica Montpellier, e Hilton, com a cabeça mais descansada, voltou a sentir-se útil, ele que nunca disfarçou a frustração de nunca ter sido chamado à selecção brasileira. Foi um dos líderes na incrível equipa do Montpellier que foi campeã em 2012, Hilton a comandar a defesa, Olivier Giroud a marcar os golos, e o carismático presidente Louis Nicollin a pintar o cabelo de vermelho e azul, com uma crista, como tinha prometido. Giroud mudou-se para Londres, “Loulou” faleceu em Junho do ano passado (o filho assumiu a presidência do clube), mas o quarentão Vitorino Hilton continua a ser um exemplo todas as semanas.

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos. Ouça também o podcast

Sugerir correcção
Comentar