Centeno não ficaria surpreendido com revisão em alta do crescimento

Ministro das Finanças respondeu a perguntas e defendeu-se de críticas sobre a evolução da economia portuguesa após debate com os eurodeputados do comité dos assuntos económicos e financeiros. "Portugal vai manter um crescimento forte e robusto", garantiu.

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Foi a estreia de Mário Centeno nos diálogos económicos dos eurodeputados com o presidente do Eurogrupo LUSA/STEPHANIE LECOCQ

Para Mário Centeno, “o objectivo da acção governativa não é fazer previsões económicas nem continuar a actualizá-las ao longo do ano”, mas se porventura viesse a ser feita uma revisão em alta da projecção de 2,2% para o crescimento do PIB português em 2018, o ministro das Finanças “não ficaria surpreendido”. “Nós observamos dia a dia os indicadores da economia, que nos vão reforçando esta ideia de que Portugal vai manter um crescimento forte e robusto, claramente em contraste com aquilo que foi a experiência recente dos últimos dez anos”, garantiu o responsável das Finanças esta quarta-feira em Bruxelas.

Notando que as “actualizações das previsões em alta tem sido felizmente o quadro em que temos vivido”, Centeno não quis pronunciar-se sobre as estimativas avançadas pelo Governo e pela Comissão Europeia para a evolução da economia portuguesa. Mas sublinhou que “daquilo que conhecemos do ano de 2018, o Governo não tem nenhuma razão para duvidar do carácter rigoroso do exercício [orçamental] que submeteu e foi aprovado na Assembleia da República, e que vamos cumprir os objectivos estabelecidos” para as políticas económicas e financeiras e para o cumprimento do programa de estabilidade.

De Centeno para Centeno

O ministro das Finanças submeteu-se pela primeira vez às perguntas dos eurodeputados com assento no comité dos assuntos económicos e financeiros do Parlamento Europeu desde que assumiu o cargo de presidente do Eurogrupo, e apesar de ter falado de uma forma abrangente sobre o crescimento económico ou o enquadramento institucional da zona euro — “um processo que é exigente e requere muitos compromissos” —, acabou por ter de responder a questões específicas sobre Portugal.

As suas respostas não impressionaram os eurodeputados dos dois partidos que apoiam o Governo socialista no Parlamento, Miguel Viegas (PCP) e Marisa Matias (Bloco de Esquerda); nem convenceram o social-democrata José Manuel Fernandes, que quis saber que medidas o presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, recomendaria ao ministro das Finanças português, Mário Centeno, para inverter a tendência de divergência nacional da taxa de crescimento médio da União Europeia.

“Portugal precisa de crescer acima da média da União Europeia e por isso é preciso que se explique por que, em 2018, Portugal vai crescer metade da Irlanda, vai crescer menos do que o Chipre ou a Grécia, Estados membros que também tiveram processos de ajustamento”, disse José Manuel Fernandes. “E é preciso que o presidente do Eurogrupo diga o que pretende para que haja a convergência em que ele tanto insiste, e bem”, acrescentou.

“Mário Centeno está completamente amarrado àquilo que é a lenga-lenga habitual acerca do euro, das regras, da responsabilidade, da necessidade de cumprir tudo aquilo que está determinado nas recomendações por países”, lamentou Miguel Viegas, que questionou o ministro português sobre as reformas estruturais e as respostas que estão a ser preparadas para lidar com a pressão da crise das dívidas. No final da sessão, permanecia “profundamente receoso que a trajectória de recuperação iniciada na sequência das eleições de 2015 possa de certa maneira estar em causa”.

“O que tememos é que na fase descendente do ciclo, a questão da insuficiência e o carácter perverso das regras do euro venham novamente ao de cima, e que nesse momento, face às responsabilidades que detém no Eurogrupo, o ministro não esteja em condições de fazer frente e bater o pé às instituições da União Europeia”, declarou Miguel Viegas.

Quem vai ganhar, Centeno ou o Eurogrupo?

Marisa Matias disse compreender que “há uma diferença entre o que é ser ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo”, um cargo no qual Mário Centeno forçosamente sentirá “constrangimentos” na abordagem a questões como da adopção de políticas contracíclicas que defendeu como governante. “Agora vamos ver o que é que vai ganhar: se é a influência de Mário Centeno no Eurogrupo, se a influência do Eurogrupo em Mário Centeno”, disse.

O ministro e presidente do Eurogrupo reconheceu que tem “responsabilidades distintas numa função e noutra” mas assegurou que “a coordenação entre as duas é total”. E também encarou como “muito naturais” as críticas e diferentes opiniões expressas durante o debate no comité do Parlamento Europeu. “Existem diferentes perspectivas sobre diferentes matérias na Europa, tanto no debate ao nível nacional, quer ao nível europeu. Estamos aqui precisamente para trocar impressões sobre essas matérias que são tarefa do Eurogrupo, e nesse sentido discutir e fazer propostas é muito positivo”, considerou.

Em total consonância com Mário Centeno, o eurodeputado socialista Pedro Silva Pereira elogiou a estreia do presidente do Eurogrupo nos diálogos económicos com o Parlamento Europeu, destacando em particular a “ambição” que demonstrou em termos da reforma da união económica e monetária da zona euro. “A União Europeia enfrentou uma crise grave e deve aprender a lição, o que significa dotar-se de uma capacidade orçamental que lhe permita responder a choques”, defendeu.

Silva Pereira também gostou de ouvir Centeno “assumir como uma nova prioridade a promoção da convergência”. Aliás, referindo-se às reservas dos eurodeputados da Esquerda Unitária, o socialista disse que “enquanto defensor de políticas que são de promoção da coesão”, Centeno estará a galgar um terreno “de muito maior convergência com os partidos à esquerda do que porventura neste momento se antecipa”.

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