Dia Mundial da Estatística: um marco e um desafio

As estatísticas oficiais estão à beira da maior revolução da última centena de anos.

Comemora-se hoje o Dia Mundial da Estatística. Trata-se de uma efeméride da maior relevância, dado que o extraordinário desenvolvimento económico e social que ocorreu durante o séc. XX e início do XXI não é alheio ao desenvolvimento dos sistemas estatísticos nacionais e internacionais. A tomada de decisão baseada em factos e informação que hoje é um standard para todos os agentes económicos, desde Estados a empresas e cidadãos, não poderia existir nos moldes atuais sem sistemas estatísticos de qualidade. Estes são hoje universalmente considerados elementos fulcrais no sistema de informação das sociedades democráticas, a tal ponto que poderemos mesmo dizer que não existem sociedades desenvolvidas, nem empresas competitivas sem estatísticas oficiais de qualidade.

Mas tão ou mais importante do que recordar a importância dos sistemas estatísticos e o muito que oferecem às sociedades, é, nesta data, olhar para os desafios que se colocam à produção das estatísticas oficiais. Estas estão provavelmente à beira da maior revolução e do mais estimulante desafio que se colocou na última centena de anos. O desafio que se coloca hoje aos sistemas estatísticos é o de produzir informação mais abrangente, com maior nível de granularidade, com mais precisão e mais rapidamente. O principal risco é que, por falta de uma resposta satisfatória por parte destes, os utilizadores procurem outras fontes, de qualidade não verificável, podendo suportar as suas decisões em informação incompleta ou mesmo errada.

A resposta exige uma transformação da produção estatística, que envolve todas as etapas do processo, sendo ao nível da recolha de dados que se colocam as mais significativas possibilidades de inovação. Acresce que esta é uma das atividades da produção estatística que tem maior impacto no custo da mesma e maior peso para os agentes económicos que são chamados a participar nas operações.

A resposta a estes desafios passa por uma maior utilização de dados administrativos e das novas fontes digitais, mas também de métodos mais inovadores de recolha de dados em operações estatísticas tradicionais, com recurso, por exemplo, a entrevista em ambiente online. A utilização destas fontes apresenta significativos benefícios potenciais, com reduções no custo de recolha de dados, nos tempos de disponibilização da informação e no esforço exigido a cidadãos e empresas.

Ao nível das fontes administrativas, o desafio já não é novo, mas a sua utilização é agora potenciada pelo desenvolvimento dos sistemas de informação na administração pública. A área de aplicação mais evidente envolve a total ou parcial substituição dos recenseamentos (seguramente uma das mais caras operações estatísticas) por dados de fontes administrativas. Mas estas fontes podem auxiliar muitas outras operações atualmente baseadas em inquéritos.

No entanto, é ao nível do universo de dados digitais que se coloca o mais significativo potencial de inovação. Vivemos numa sociedade onde cresce, a cada dia, o número de fontes digitais, que incluem áreas como as redes sociais, as telecomunicações móveis, os dispositivos inteligentes, os sensores e o comércio eletrónico. Tudo isto constitui um extraordinário manancial de informação que não pode ser ignorado pelos produtores de estatística oficiais.

Diversos exemplos envolvem a utilização de dados de telecomunicações para estimar fluxos de tráfego, para a produção de estatísticas do turismo ou de informação socioeconómica. Projetos baseados na recolha de preços online provaram ser capazes de produzir índices de preços competitivos com aqueles que se produzem, com significativo custo adicional, no âmbito dos INEs. Naturalmente que os dados administrativos ou provenientes de fontes digitais não poderão substituir totalmente a utilização de inquéritos, mas mesmo nesses casos poderão ser usados para reduzir o seu custo ou melhorar a sua qualidade. Um bom exemplo passa pela utilização de dados sobre pesquisa online de emprego, a par com dados administrativos, para robustecer a estimação das taxas de desemprego, permitindo produzir resultados mais desagregados e mais precisos.

Todas estas oportunidades exigem profundas mudanças metodológicas, culturais e nas competências dos agentes envolvidos na produção estatística. O caminho está à nossa frente e o Dia Internacional da Estatística constitui uma boa ocasião para o trilhar.

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