Frutas e legumes duplicam valor das exportações em apenas oito anos

Depois de uma subida de 23% no primeiro semestre, vendas ao exterior poderão superar os 1500 milhões de euros. Sector foi a Madrid mostrar as causas do seu sucesso.

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pp paulo pimenta

Pêra rocha do Oeste, framboesas do interior, laranjas do Algarve, cenouras, kiwis, abóboras de diferentes tamanhos e feitios, batatas ou tomilho, maçãs ou mirtilos. Nos pavilhões da Portugal Fresh instalados numa das maiores feiras mundiais da hortifruticultura, a Fruit Attraction de Madrid, há muitas cores e sabores para mostrar, mas não é seguramente a diversidade que arrasta o sector numa espiral de crescimento que em oito anos quase fez duplicar as suas exportações.

O sucesso das frutas e dos legumes produzidos em Portugal mede-se este ano numa expectativa de vendas ao exterior de 1500 milhões de euros porque há a qualidade garantida pelo clima atlântico e há diversidade de produtos, mas também porque a fileira sofreu nos últimos anos uma enorme transformação. Hoje, as empresas, as suas associações ou os seus representantes “apostam no conhecimento, na inovação, nas novas tecnologias”, explica Luís Vieira, secretário de Estado da Agricultura e Alimentação.

Desde que a Portugal Fresh foi criada em 2011, a representação do sector nacional em certames como o de Madrid, onde são esperados 60 mil visitantes profissionais de 140 países, mudou. “Antes íamos às feiras sozinhos, eram 20 metros quadrados aqui, 15 ali…”, recorda Gonçalo Andrade, presidente executivo da associação.

Desta vez, 29 empresas e oito associações albergaram-se debaixo do mesmo chapéu com uma área de 417 metros quadrados. A visibilidade de Portugal está longe da apresentada pela Andaluzia, com os seus 10 mil metros quadrados. Ou de gigantes mundiais da agricultura como a banana Chiquita. Mas serve para testemunhar o protagonismo de um sector que em menos de dez anos passou de actor secundário para o papel de estrela da exportação.

Este ano, as frutas e legumes valerão quase o dobro do vinho na exportação (vinho do Porto incluído). E a meta de superar os dois mil milhões de euros em 2020 permanece alcançável. “Queremos manter um crescimento acima dos 10% ao ano nas exportações”, diz Gonçalo Andrade. No primeiro semestre, a ambição foi superada: as vendas ao exterior cresceram 23%, principalmente arrastadas pelo segmento das frutas, a subir 45% no período.

O que explica este desempenho? O clima, a começar. As temperaturas mais amenas da frente Atlântica “fazem com que haja um tempo mais demorado entre o aparecimento da flor e o fruto”, o que faz com que “os nossos sabores sejam mais intensos”, diz Gonçalo Andrade. Mas não é apenas o “Atlantic Breeze Taste” (sabor da brisa Atlântica) que a Portugal Fresh usa como mote do seu marketing a explicar o sucesso. Nos últimos anos, principalmente depois de a Portugal Fresh aparecer, os agricultores e empresas dedicaram-se a ganhar músculo em organizações de produtores (OP) – 25% da fruta passa pelas OP, embora o país esteja ainda longe da média europeia de 46%. Mas, principalmente, as empresas modernizaram-se e são hoje muito mais profissionais e competitivas.

Nuno Pereira, um jovem de Oliveira do Hospital faz parte da nova geração. Criou a sua empresa, a Lusoberry, e foi a Madrid mostrar os seus produtos. Vende toda a sua framboesa a espanhóis e não tem problemas em colocar no estrangeiro os mirtilos que cultiva em cinco hectares. Agora quer experimentar arando vermelho (“o melhor remédio contra o cancro da próstata”, assevera) e pensa testar “haskap”, uma baga apreciada na América do Norte. Economista, tem acordos de experimentação com o gigante norte-americano Driscoll’s. Faz licor de mirtilo, calcula produtividades e segue os preços internacionais.

Outro exemplo do esforço em estar em sintonia com o mercado vem da Saudade, uma empresa de Sernancelhe, que nasceu a partir de uma empresa familiar, a Frusantos, que factura 11 milhões, metade fora do país. Depois de um investimento de 425 mil euros, a Saudade vai redobrar a sua aposta na exportação de castanha.

Depois, há grandes unidades do agronegócio firmes e ainda em crescimento. Como a Agromais, o grupo Luis Vicente, ou a Vitacress, do grupo RAR. É em inovações como a que a Vitacress mostra em Madrid que se encontra o nervo do sector revelado pelo secretário de Estado Luís Vieira. A sua oferta de vasos de plantas frescas (manjericão, tomilho, hortelã, salsa, coentros e cebolinho) permite aos consumidores levar para casa os seus temperos e usá-los frescos até dois meses depois da compra. “Estamos sintonizados com o mercado”, diz o director de vendas, Luís Fradeira.

Um pouco ao lado, Linda Kudrjanceva veio da Letónia mostrar as cenouras da Sun Crisp, uma empresa que nasceu de capitais noruegueses e foi adquirida pela Fruport. “A cenoura deixou de se produzir na Letónia e cultiva-se em Portugal por causa do clima e vende-se em toda a Europa, porque come-se em qualquer lado como um snack e faz bem à saúde”, diz Linda.

Entre os grandes e os pequenos investidores que chegam, o sector continua a consolidar-se. Há problemas de falta de mão-de-obra em zonas como a do vale do Mira ou no Oeste, a seca é uma ameaça permanente e a concorrência é enorme, mas o sector está ainda longe de esgotar o seu potencial. Nos dois últimos anos, foram aprovados três mil projectos na área das frutas e legumes que implicaram investimentos na ordem dos 625 milhões de euros.

Faltam apenas três anos para se verificar se a ambição das exportações de 2000 milhões de euros se cumpre. Mas, mesmo que não se chegue lá, a hortifruticultura nacional terá praticamente triplicado o valor das suas vendas ao exterior numa década.

O PÚBLICO viajou a convite da Portugal Fresh

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