Águia rara em Portugal encontrada morta no Alentejo

Águia-imperial-ibérica foi encontrada próxima do local onde foi envenenado um lince.

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A ave de rapina terá sido vítima de envenenamento no concelho de Mértola REUTERS/Laszlo Balogh

Um técnico do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas encontrou no dia 4 de Janeiro o cadáver de uma águia-imperial sob um pinheiro-manso onde a espécie já tinha nidificado anteriormente, próximo do local, no concelho de Mértola, onde em 2015 foi encontrado morto um lince-ibérico por envenenamento.

O animal apresentava “evidências e postura corporal compatíveis com um possível envenenamento”, explicou ao PÚBLICO Rita Alcazar, dirigente da Liga para a Protecção da Natureza (LPN). Os mesmos sinais também já tinham sido identificados em dois exemplares de águia-imperial descobertos em Moura (2015) e em Castro Verde (2013). Confirmou-se, em todos eles, a morte por envenenamento.

Na sequência do último incidente, o Serviço de Protecção da Natureza (Sepna) da GNR deslocou-se ao local, recolheu o cadáver do animal e procedeu a buscas e à recolha de provas que foram realizadas com o apoio de uma das equipas cinotécnicas para detecção de venenos.

O cadáver e as provas recolhidas já foram enviados para necrópsia e análises periciais, mas a confirmação do que terá conduzido à morte da ave ainda demorará algum tempo, sublinha a dirigente da LPN.

No comunicado entretanto enviado à comunicação social, a LPN refere que na região do Alentejo “têm-se detectado muitos casos de mortalidade de várias espécies por possível envenenamento”, tendo a equipa desta organização detectado quatro possíveis casos apenas em Dezembro de 2015 (milhafre-real e águia-de-asa-redonda). Aguardam-se os resultados sobre a confirmação de envenenamento.

Este factos, salienta a Liga, “reforçam a importância da actuação do Projecto Life Imperial no combate das ameaças à espécie, neste caso o uso de veneno”, comum na Península Ibérica, e já considerado uma das “principais causas de mortalidade não natural” da águia-imperial-ibérica em Espanha. Em Portugal, o efeito real do uso ilegal de venenos é ainda desconhecido, mas os casos identificados “indiciam um elevado e abrangente uso ilegal de tóxicos”, salienta a LPN.

É patente a “facilidade de aquisição do veneno e da sua aplicação, assim como o número de indivíduos que pode eliminar e a sua baixa selectividade”, que “tornam este problema numa das maiores ameaças actuais à conservação de várias espécies, nomeadamente da águia-imperial-ibérica”, vinca a organização ambientalista, alertando para o uso de veneno na natureza, por ser também uma “grave ameaça” à saúde pública e animais domésticos.

Rita Alcazar realça o impacto que a morte de exemplares da águia-imperial pode ter na viabilidade da espécie no nosso país. Em 2015 foram recenseados apenas 13 casais e assinalada a presença de “indivíduos dispersantes”, ou seja, aves juvenis vindas de Espanha ou de outras regiões de Portugal, mas que não estão fixas no território.

Por outro lado, verifica-se que a espécie tem vindo a reproduzir-se “muito lentamente”, cerca de um casal por ano, desde 2003, o que representa um risco acrescido com as ameaças de envenenamento e de electrocução da espécie nas redes eléctricas de alta tensão. Em Portugal, a águia-imperial está classificada com o estatuto de “criticamente em perigo”.

 

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