Animais: abandono cresce no Porto e a culpa pode ser da crise

Subida dos preços está a ser apontada como razão para o abandono de animais, denunciam associações do Porto

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Número de animais nas colónias do Porto está a crescer de forma muito rápida Nelson Garrido

O aumento dos preços e a actual condição económica das pessoas podem ser algumas das justificações para o aumento do abandono de animais, consideraram associações do Porto, defendendo, no entanto, que esse acto “não tem desculpa”.

“Não há nenhuma desculpa para o abandono animal”, afirmou, em entrevista à Lusa, a directora executiva da associação dos Animais de Rua, Sofia Róis, não excluindo, no entanto, que a actual instabilidade económica “tem assustado muito as famílias e os primeiros a serem descartados, como sempre, são os animais”.

Com os centros de recolha oficial e as associações zoófilas a presentar um “boom de devoluções de animais”, que tinham sido adoptados durante a pandemia, Sofia Róis apontou como uma das principais consequências o aumento dos preços.

“As pessoas estão a aperceber-se que as coisas estão todas mais caras. A alimentação, as despesas médico-veterinárias, a lide diária de um animal, no geral. As pessoas sabem que, à partida, ter um animal é ter uma despesa”, referiu a directora executiva daquela associação, que nasceu no Porto em 2008 e que é de cariz nacional. Em Portugal, há 3,1 milhões de animais de companhia registados.

Por outro lado, para a presidente da direcção da associação MIDAS (Movimento Internacional para a Defesa dos Animais), o abandono animal “raramente é pelo aumento dos preços”, mas acontece “maioritariamente” porque as pessoas “deixam de querer o animal”.

Associações com dificuldades

“As desculpas que nos apresentam são facilmente debatidas e as pessoas assumem que nem com ajuda querem ficar com os animais. Ponto final. Quem, de facto, quer ajuda tem-na, faz o que pode e tem de fazer para poder manter os animais”, contou à Lusa a presidente da MIDAS, Lígia Andrade.

Já a fundadora e presidente da direcção da Cão Viver, Ana Ceriz, diz que a associação sediada na Maia “nunca passou por tantas dificuldades económicas como este ano”, concordando que “existe um maior número de pessoas com dificuldade em encontrar casa para onde levar os animais”.

“A parte monetária é o nosso “calcanhar de Aquiles”, porque temos cerca de 30, 40 animais para tratar e nem temos dinheiro para pagar os espaços onde eles estão”, desabafou Ana Ceriz.

A associação Cão Viver, face à falta de apoios, alberga agora “entre 30 a 40”, quando já chegou a ter “cerca de 60” animais.

Na MIDAS, quando existem dificuldades, “o acolhimento é bloqueado”, para não “comprometer os cuidados dos animais” já acolhidos.

Segundo a directora executiva da Animais de Rua, a taxa de abandono, desde “a pós-pandemia”, com o regresso ao trabalho presencial, “aumentou 50%” e nas colónias do Porto, como no resto país, nunca foi observado um “movimento tão rápido de abandonos como agora”.

“Nas nossas estatísticas, a diferença de animais que ajudámos e que temos vindo a ajudar, em 2021 e este ano, é duas vezes maior do que aquilo que ajudávamos até à data”, continuou.

Sofia Róis também mencionou que, numa altura em que as coisas estão “muito caras”, até as famílias que têm uma vida estável se “vêm aflitas para manter os animais”.

Habitação e saúde

No Centro de Recolha Oficial de Animais (CROA) do Porto, este ano, foi registado “um aumento do número de animais entregues pelos detentores” e as razões mais invocadas são as “alterações das condições de habitação e de saúde dos detentores”.

Relativamente aos donativos, as associações contactadas pela Lusa afirmaram que “diminuíram muito” e prevêem que continue a diminuir, devido à “menor capacidade e disponibilidade” das pessoas para ajudar.

“Com a diminuição de donativos e com a falta de apoio, temos, todos os dias, que fazer chegar pedidos a todo o lado. Ao mesmo tempo, também tentamos estabelecer protocolos com clínicas veterinárias para que estas façam preços mais acessíveis”, explicou Sofia Róis.

No que diz respeito às adopções de animais, no geral, estas “têm-se mantido” e “agora resta esperar para ver como será 2023, por causa da crise”.

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