Câmara retira estátua de navegador em trajes reduzidos que população contestava

"Agora o Caramuru vai namorar com a sua Paraguaçu para junto do mar, onde ela o pescou há 510 anos", disse o ex-presidente da câmara.

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PAULO RICCA

A remoção da estátua do navegador Caramuru da principal praça de Viana do Castelo, reclamada há 10 anos por população e partidos da oposição, foi nesta quarta-feira concretizada, devendo ser recolocada, no início de Junho, na praia Norte.

Em causa está a estátua de homenagem a Caramuru, ou Diogo Alvares Correia, natural de Viana do Castelo e historicamente apelidado de "destemido navegador", que naufragou no Brasil em 1508 e passou a vida entre os indígenas da costa brasileira, em especial na Bahia, facilitando o contacto dos primeiros europeus com os povos nativos.

O monumento em bronze fundido, do escultor José Rodrigues, foi inaugurado na Praça da República, ponto central da cidade, em Dezembro de 2008, pelo antigo autarca Defensor Moura, antecessor do actual presidente da Câmara, José Maria Costa, na altura vereador da maioria socialista.

Com cinco metros de altura e três de largura, o navegador e a sua companheira indígena, Paraguaçu, surgem em trajes reduzidos, perante as críticas de moradores, há dez anos, face à dimensão e ao enquadramento arquitectónico.

Contactado pela agência Lusa, o antigo presidente da câmara Defensor Moura disse que a Praia Norte foi sua primeira escolha para instalar a polémica estátua e que mudou de opinião por ter sido "convencido" pelo poeta e professor Amadeu Torre.

"O Caramuru acaba por ir para o local que tinha sido, inicialmente, programado por mim e pelo José Rodrigues (autor da obra). Foi o poeta e professor Amadeu Torres (Castro Gil), autor do livro do Caramuru que, publicámos nos 750 anos de elevação de Viana do Castelo, que me convenceu a colocar o vianense que teve maior influência no mundo, pela convivência intercultural, sem opressão e, pela miscigenação de que foi primeiro protagonista, na principal praça da cidade", afirmou.

Defensor Moura, que liderou o município entre 1993 e 2009, explicou que, na altura, a decisão "foi aprovada, por unanimidade, pela Câmara Municipal".

"De qualquer modo já se cumpriu o objectivo de Castro Gil - durante dez anos falou-se do Caramuru e a sua vida foi divulgada. Agora o Caramuru vai namorar com a sua Paraguaçu para junto do mar, onde ela o pescou há 510 anos", disse o socialista que na passagem do ano de 2008 inaugurou a escultura, acompanhado de José Rodrigues, no âmbito das comemorações dos 750 anos do foral de Viana do Castelo.

Sobre a decisão do actual executivo, liderado pelo seu sucessor, José Maria Costa, de transferir a estátua do centro da cidade para a praia Norte, afirmou: "Não concordo nem discordo. Eu mudei de opinião por influência erudita e fundamentada do professor Amadeu Torres. Agora muda-se a empurrão da oposição".

A relocalização foi uma das promessas eleitorais do PSD, que, nas mais recentes autárquicas, elegeu dois vereadores, Hermenegildo Costa e Ana Paula Veiga.

No anterior mandato, a bancada social-democrata liderada por Eduardo Teixeira formalizou uma proposta para a remoção da estátua que foi chumbada pela maioria socialista liderada por José Maria Costa.

Antes, em 2010, a maioria socialista chumbou a remoção da escultura, proposta pelo então vereador do CDS-PP, Aristides Sousa, por razões de estética e arquitectónicas

Segundo Defensor Moura, as estátuas "têm rodas em Viana".

"O Fagundes, o Mercúrio, a Estátua de Viana e até do Fontenário da Ribeira/Largo da Casa Melo Alvim também andaram em bolandas", ironizou o socialista actualmente com 73 anos.

Além de ter governado o município de Viana do Castelo durante 16 anos foi ainda candidato independente, em 2011, às eleições presidenciais que elegeram Cavaco Silva. Médico especialista em medicina interna, já reformado, foi ainda deputado à Assembleia da República na IV e XI legislaturas, pelo Partido Renovador Democrático (PDR) e pelo Partido Socialista (PS), respectivamente, sempre eleito pelo distrito de Viana do Castelo.

A obra de arte agora removida do "ex-líbris" da cidade vai ser reinstalada "no centro de um espelho de água actualmente em construção, um projecto da autoria da arquitecta Maria João Patronilho.

Aquela intervenção integra-se na empreitada de requalificação daquela praia, a cargo da sociedade Polis Litoral Norte, orçada em 2,4 milhões de euros" e, fortemente, contestada por Defensor Moura, por "destruir a Praia Norte" e "delapidar um património secular".

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