Exposição relembra supermulheres de antigamente

Espaço na Fundação Manuel António da Mota enaltece sacrifício e importância das carquejeiras.

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Recreação mostra o trabalho das carquejeiras Manuel Roberto

Esta sexta-feira é inaugurada a exposição na sede da Fundação Manuel António da Mota que lembrará o importante papel que as carquejeiras desempenharam no desenvolvimento da cidade do Porto. Pinturas, esculturas e até um álbum de fotografias centenárias que foram especialmente recuperadas para esta ocasião: tudo nos levará atrás no tempo, para uma época em que a sobrevivência era uma verdadeira luta. Esta iniciativa com entrada livre decorrerá no primeiro andar da sede da instituição, situada no Mercado do Bom Sucesso, até ao dia 27 de Abril. De segunda a sexta, das 10h às 18h, as carquejeiras têm um espaço onde todos podem ver o seu sacrifício, ignorado e silenciado durante anos a fio.

220 metros e 21 graus de inclinação: a antiga Calçada da Corticeira era — durante o séc. XIX, início do séc. XX — calcorreada por mulheres de todas as idades que, para obterem o sustento diário, se viam obrigadas a carregar às costas até 50 quilos de carqueja. A carqueja é uma planta silvestre que era usada como combustível para os fornos das padarias e as lareiras das casas burguesas. A planta chegava nos barcos do Douro e era juntada em molhos por estas mulheres, cuja penosa e perigosa viagem começava na íngreme rua — que actualmente se chama Calçada das Carquejeiras — e podia chegar até à Foz ou Paranhos.

Maria Arminda Santos faz parte da Associação de Homenagem às Carquejeiras do Porto, um grupo de cidadãos que faz questão de relembrar estas mulheres: “Queremos dar a conhecer estes vultos que foram ignorados”, diz, acrescentando que é necessário que os mais novos “conheçam a história da sua cidade e as suas sensibilidades para que possam gostar dela”.

A subida assustadora — impossível para os animais de carga — tinha de ser feita por mulheres que, muitas vezes, levavam filhos pequenos ao colo e até bebés envoltos no fino avental que as cobria. A tarefa hercúlea era feita à chuva ou debaixo de um sol abrasador, sem folgas ou férias. A carqueja era a sua vida, e por vezes a razão de um fim prematuro.

“Naquela época, a estrutura social do casal era muito frágil. Os homens não tinham trabalho, viviam anestesiados pelo alcoolismo e estas mulheres eram o ganha-pão da família”. Maria Santos e a sua associação têm como objectivo máximo erigir um monumento no topo da Caçada das Carquejeiras em homenagem às mulheres que percorriam as ruas do Porto, dobradas pelo peso da carqueja e da sua condição social. Esta iniciativa servirá também para que a associação possa recolher fundos que permitam a construção deste monumento que já tem uma maquete apresentada.

Texto editado por Ana Fernandes

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