Lisboa era boa

Aquilo que não posso deixar passar é a actual mania, por parte de quem depende financeiramente dos turistas, de difamar Lisboa antes do ano 2000.

Corvo — sítio de Lisboa — é um excelente jornal online feito por quatro jornalistas e três fotógrafos. Bem escrito, com amor à camisola, junta reportagens, crónicas e causas que são essenciais à vida lisboeta, mas que merecem ser lidas por leitores de todas as cidades, porque tratam temas universais como a gentrificação.

Sofia Cristino escreveu recentemente uma reportagem muito interessante com o título “Há uma geração de lisboetas a converter casas em alojamento local para sobreviver”.

Vou fugir descaradamente da questão do alojamento local, porque começo a levantar a voz e não vem daí nenhum bem. Aquilo que não posso deixar passar é a actual mania, por parte de quem depende financeiramente dos turistas, de difamar Lisboa antes do ano 2000 — que estava a cair de podre, que estava às moscas, que era só droga e prostituição, lixo nas ruas e prédios a desabar dia sim, dia não.

Segundo esta fantasia conveniente, a Lisboa bonita que temos hoje, da qual os turistas tanto gostam, devemo-la, precisamente, ao turismo e às receitas que trouxe.

Isto é um tão grande disparate que é escandaloso ter de denunciá-lo. Lisboa sempre foi bonita — se não fosse bonita, não bastava pintar as casinhas e as oficinas e as lojinhas e os armazéns.

Vivi vinte e tal anos em Lisboa até 2005, todos os dias e todas as noites, batendo toda a cidade. Grande novidade: Lisboa já era deliciosa naquela altura. Havia muita gente e muita coisa para fazer. Comia-se
e bebia-se bem. E divertíamo-nos também.

Quem diria?

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