Vereador Ricardo Valente abandona movimento de Rui Moreira

Em causa está a falta de respaldo político por parte da associação cívica que apoia o executivo e que o autarca esperava por ter sido visado numa reportagem da SIC.

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Ricardo Valente, à esquerda de Rui Moreira LUSA/MANUEL FERNANDO ARAÚJO

A demissão do vereador com a tutela das Finanças e Economia na Câmara do Porto da Associação Cívica “Porto, o Nosso Movimento”, que apoia o executivo liderado por Rui Moreira, deixa transparecer o clima de algum mal-estar entre o grupo de independentes e a Iniciativa Liberal (IL), partido de que Ricardo Valente faz parte. A notícia da demissão do autarca foi avançada nesta segunda-feira à noite pelo Porto Canal.

A falta de “solidariedade institucional interna” por parte da associação cívica de que é associado relativamente a uma reportagem emitida pela SIC, em que considera que “há uma tentativa de assassínio ao seu carácter”, levou o vereador a bater com a porta.

Embora a demissão de Ricardo Valente, que tem os pelouros das Finanças, Actividades Económicas e Fiscalização, Economia, Emprego e Empreendedorismo, tenha ocorrido há um mês, só agora foi conhecida, dois dias depois de Filipe Araújo, vice-presidente do executivo municipal, ter sido eleito para a presidência da Associação Cívica “Porto, o Nosso Movimento”.

A reportagem da SIC anunciava a chegada ao Porto de uma empresa envolvida em casos de corrupção. A empresa em causa chama-se SMB Offshore e é especializada em construção de plataformas petrolíferas. A chegada da empresa teve, diz a peça da estação de televisão, honras de inauguração com “entusiasmo” do vereador da Câmara do Porto, Ricardo Valente. E é aqui que o autarca considera ter sido “vítima de um ataque, que é também um ataque à câmara e à cidade do Porto”.

Em declarações nesta terça-feira ao PÚBLICO, o vereador das Finanças diz que a reportagem “é uma tentativa de assassínio de carácter”, pelo que vai apresentar uma queixa contra o canal de televisão por entender que existe matéria de difamação ao seu bom-nome.

“Não posso aceitar que num telejornal se trate uma peça informativa em tom irónico. Uma peça jornalística centrada numa pessoa que sou eu, Ricardo Valente, vereador da Câmara do Porto. Eu não sou inocente e não nasci ontem. Há claramente uma conotação política relativamente àquela peça em que, de repente, o protagonista sou eu porque metade da peça é a discutir o Ricardo Valente e não a questão da empresa. É uma tentativa de pôr em causa o meu nome e a minha reputação”, reiterou.

“A partir do momento em que não me sinto protegido por parte da associação cívica que apoia o executivo do qual eu faço parte, tive de tomar uma decisão. Eu não pedi licença a ninguém, por isso é que fico melindrado quando há fugas internas que trazem para a praça pública algo que é uma questão pessoal”, insurge-se Ricardo Valente, lamentando que um episódio que aconteceu há um mês se tenha tornado público agora.

“Eu sei que a Câmara do Porto é muito apetecível e, portanto, há muita gente a querer criar as narrativas para 2025”, afirma o autarca, referindo-se à data das próximas eleições autárquicas, às quais Rui Moreira não se vai recandidatar por limitação de mandatos.

Contactado pelo PÚBLICO, Rui Moreira, que é um dos cinco fundadores do “Porto, o Nosso Movimento”, explicou que a associação cívica não se pronunciou sobre este caso porque “não é muito essa a sua vocação”. “A associação não é um partido político, é mais uma coisa de pensamento estratégico”, justificou o presidente da Câmara do Porto, declarando manter a “total confiança” no seu vereador.

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