Arábia Saudita vai permitir que as mulheres conduzam automóveis

Medida anunciada esta terça-feira não terá efeitos práticos imediatamente. O reino não possui as infra-estruturas necessárias para instruir as futuras automobilistas.

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© FAISAL NASSER / Reuters

A Arábia Saudita anunciou esta terça-feira que vai permitir que as mulheres conduzam, terminando com a polémica regra que existiu durante décadas e que foi sendo fortemente criticada e considerada como um reflexo da repressão da mulher no reino.

Segundo o New York Times, a decisão foi anunciada na televisão estatal saudita e num evento em Washington.

No entanto, a medida não terá efeitos práticos no imediato, até porque, como diz o jornal norte-americano, a Arábia Saudita não possui as infra-estruturas necessárias para que as mulheres possam aprender a guiar e obter a respectiva licença. Além disso, as autoridades sauditas com este pelouro receberão formação para aprender a interagir com mulheres.

De acordo com a agência noticiosa SPA, o decreto real, assinado pelo rei Salman, prevê a criação de um órgão ministerial para fins de aconselhamento e para a aplicação da medida até Junho de 2018. 

Estes aspectos são relevantes no reino saudita por várias razões. Em primeiro lugar, e numa altura em que nenhuma mulher tem licença para conduzir, espera-se que a afluência seja massiva. Em segundo, num país que se rege com a estrita lei muçulmana da Sharia, o que valeu diversas acusações de violação dos direitos humanos, o cenário de uma mulher ao volante é considerado inapropriado. Há ainda quem defenda que os automobilistas masculinos não saberiam lidar com uma mulher ao volante de um carro que se encontre no seu caminho. E, como lembra o New York Times, um clérigo saudita alegou até que a condução causa lesões nos ovários das mulheres – algo que nunca foi provado.

Ao longo dos anos foram várias as mulheres detidas por desrespeitar esta regra, o que motivou a denúncia de muitas organizações de direitos humanos.

A decisão surge também na sequência das intenções reformistas, no plano económico e social, do herdeiro do trono saudita, o príncipe Mohamed bin Salman, que se encontra cada vez mais perto de liderar o reino.

A braços com a descida dos preços do petróleo, que prejudicou a economia e fez subir o desemprego, a Arábia Saudita pretende com esta decisão melhorar a reputação internacional do país — o que, por sua vez, facilitará as reformas projectadas pelo futuro rei. Para além disso, o facto de as mulheres serem autorizadas a conduzir pode vir a trazer benefícios nos números do emprego, já que é intenção de Riad colocar no mercado de trabalho cada vez mais gente.

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